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HUPES-UFBA
Nova técnica cirúrgica para glaucoma congênito é desenvolvida em hospital da Rede Ebserh em Salvador
UPES-UFB desenvolveu técnica inovadora para o tratamento do glaucoma congênito
Salvador (BA) – O Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), desenvolveu uma técnica inovadora para o tratamento do glaucoma congênito, doença rara que, se não tratada precocemente, pode levar à cegueira infantil. Trata-se da trabeculotomia circunferencial de 360º com duplo acesso, estudada desde 2016 e que já beneficiou diversas crianças com a doença. Ela foi documentada na última edição da publicação “Arquivos Brasileiros de Oftalmologia”, o que abre caminho para estudos maiores e divulgação para outros centros de ensino e pesquisa.
Intitulado “360° trabeculotomy ab externo with double access for the treatment of congenital glaucoma”, o artigo reúne os primeiros seis casos após seguimento de um ano. “Como se trata de uma doença rara, espera-se que, com a divulgação da técnica, tenhamos mais centros descrevendo resultados”, disse a coordenadora do Serviço de Glaucoma Infantil do Hupes-UFBA, a oftalmologista Flávia Villas-Bôas.
O glaucoma infantil, geralmente diagnosticado nos primeiros meses ou anos de vida, é causado por alterações no escoamento do humor aquoso, líquido que preenche a parte anterior do olho. Se não tratada, essa alteração aumenta a pressão intraocular, que pode causar crescimento anormal do globo ocular, turvação da córnea, lacrimejamento, fotofobia e perda visual irreversível.
Segundo a oftalmologista, o tratamento nessa faixa etária precisa ser cirúrgico, já que os colírios costumam ter pouco efeito. Até pouco tempo atrás, a trabeculotomia convencional, que abre apenas um segmento de 90º a 120º da malha trabecular, era o tratamento de escolha.
“A nova técnica permite abrir os 360º do ângulo, garantindo maior área de drenagem e maior taxa de controle pressórico, com potencial de reduzir a necessidade de reoperações”, explicou. A diferença principal está no duplo acesso, o que, de acordo com a médica, “aumenta as chances de sucesso cirúrgico, inclusive em casos de córnea opaca, nos quais a visualização é mais difícil”.
A trabeculotomia circunferencial de 360º com duplo acesso usa materiais simples e acessíveis, como fio de sutura comum, já disponível no SUS, e por isso é viável em hospitais públicos e particulares de diferentes regiões. “Com a publicação e o treinamento de novos cirurgiões, acreditamos que o método poderá se expandir para centros universitários e hospitais de referência em diferentes regiões”, afirma a oftalmologista.
O processo
O desenvolvimento da técnica exigiu aproximadamente quatro anos, entre a fase de adaptação, a realização dos primeiros casos, a consolidação do método e a publicação. Entre os principais desafios enfrentados, a coordenadora da pesquisa destaca a necessidade de adaptar a nova técnica à realidade local, tornando-a viável no contexto do SUS. “Para isso, foi fundamental a utilização de materiais acessíveis. Além disso, a equipe precisou lidar com a dificuldade de assegurar o seguimento prolongado das crianças no sistema público de saúde, aspecto essencial para avaliar os resultados e a eficácia do tratamento ao longo do tempo”, enfatizou.
Além de Flávia Villas-Bôas, participaram da pesquisa as oftalmologistas Ana Catharina Pinho Costa, Christiane Rolim de Moura e Carolina Gracitelli, que auxiliaram no delineamento do estudo e na publicação científica.
Ela destaca ainda a importância de hospitais universitários para avanços como esse. “Hospitais universitários como o Hupes-UFBA desempenham um papel fundamental no sistema de saúde, pois concentram casos complexos e raros, como o glaucoma pediátrico, possibilitando experiência e expertise únicas para o manejo dessas condições”, disse, enfatizando que esses centros contam com equipes multidisciplinares e infraestrutura voltada para a pesquisa, o que favorece a produção de conhecimento científico e o desenvolvimento de novas práticas assistenciais.
Sobre a Ebserh
O Hupes-UFBA faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação e revisão: Luna Normand
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh