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ACORDES DA SAÚDE
Musicoterapia transforma a assistência da Maternidade Escola do Complexo da Rede Ebserh do Rio de Janeiro (RJ) há 37 anos
Rio de Janeiro (RJ) – O serviço de musicoterapia da Maternidade Escola da UFRJ, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), foi criado por Martha Negreiros, profissional que é referência de musicoterapia na área materno-infantil. A atuação desde 1988 e abrange o acompanhamento de bebês, crianças, mulheres em luto por conta de perda gestacional, gestantes que realizam o pré-natal como também as equipes profissionais de médicos e de enfermagem.
“O primeiro impacto na musicoterapia no ambiente hospitalar é a humanização, promoção de saúde e bem-estar, isso para todos os públicos, não só os pacientes”, afirma Beatriz de Freitas Salles, coordenadora do curso de graduação em Musicoterapia da UFRJ, do qual a Maternidade Escola é uma das instituições participantes.
Espontaneidade e relaxamento na sala de espera
Toda quarta-feira, lá estão os musicoterapeutas de jaleco branco com seus instrumentos na sala de espera da maternidade. Eles compõem as equipes multiprofissionais de assistência. Na parte da manhã, é feito o acompanhamento de crianças e suas famílias no pós-alta. No horário da tarde, é quando se concentram os atendimentos do ambulatório de Doença Trofoblástica Gestacional (DTG), mais conhecido como câncer da placenta ou gravidez molar (saiba mais aqui), tratamento no qual a maternidade escola é o terceiro centro mais importante do mundo.
“Eu acho que a grande palavra desse atendimento é espontaneidade. Quando a gente faz música junto, a gente cria um ambiente que possibilita observar a interação das famílias e o nível de desenvolvimento das crianças”, aponta a coordenadora do serviço de Musicoterapia, Ana Carolina Arruda. Segundo ela, algumas famílias chegam com muita ansiedade por conta de algum possível diagnóstico e a música ajuda a descontrair e preparar a criança para consulta, fazendo com que ela interaja melhor.
Nesse sentido, o jaleco branco usado também pelos musicoterapeutas tem uma função importante. “A gente dessensibiliza o jaleco para os pacientes. No caso da criança, por estar interagindo com a gente de uma maneira afetiva e criativa, depois ela entra de uma outra forma no consultório médico ou na sala de fisioterapia. A criança vai mais aquecida, mais disponível, digamos assim”, diz Ana.
Há casos, por exemplo, em que a equipe multiprofissional precisa avaliar o desenvolvimento motor e cognitivo da criança. O apoio da musicoterapia facilita a abordagem. “Nós estimulamos a criança a pular ou dançar, tocando músicas mais animadas e ritmadas, para que possam avaliar esse parâmetro. Também podemos cantar músicas que falem de partes do corpo ou sobre os animais, e ver se ela entende simbolicamente o que é isso”, exemplifica.
Apoio da musicoterapia aumenta adesão ao tratamento 
Na sala de espera, os adultos também se beneficiam da musicoterapia. Quarta-feira à tarde, funcionam os ambulatórios de Doença Trofoblástica Gestacional (DTG) e o de transtornos endócrinos. A DTG é uma anomalia na placenta, que causa a perda do feto e pode evoluir para um câncer. Ana conta que oferecer esse apoio é importante para a adesão ao tratamento até a cura e para diminuir a apreensão antes da consulta. Apesar de ser um atendimento mais focado nas pacientes de DTG, toda comunidade que circula na maternidade usufrui desse momento.
Grávida pela primeira vez, Paula Rosa diz que a música no hospital ajuda a reduzir a inquietação. Ela está tratando hipertireoidismo e diz que a música controla sua ansiedade. “A música aqui é um diferencial. Podemos pedir músicas e cantar junto, é uma interação muito legal. Às vezes, a gente recebe uma notícia que não gosta muito na consulta, mas, pelo menos, estamos ouvindo uma musiquinha. Dá uma equilibrada”, comenta, descontraída, enquanto escuta o grupo tocar “Ainda Bem”, de Marisa Monte e Arnaldo Antunes.
Música para superar momentos difíceis
O serviço de musicoterapia faz também um atendimento itinerante dentro da área hospitalar, visitando enfermarias, UTI, alojamentos e as próprias equipes profissionais da maternidade. No meio da tarde, veio um chamado da enfermaria de finitude para atender uma paciente que havia perdido a gestação, por ter desenvolvido a DTG. “É uma situação que deixa a mulher muito vulnerável, já que além do luto por perder o bebê, ela ainda fica com medo de ter um câncer”, comenta o coordenador do ambulatório de DTG, professor Antônio Braga.
Ao ver o grupo de musicoterapeutas entrar na enfermaria, Juliana Gomes, 19 anos, esboça um sorriso. Gentilmente, o grupo se apresenta. Depois que tocam a primeira música, a interação entre as pacientes e acompanhantes flui de forma mais descontraída e todos contam um pouco sobre sua história.
Num certo momento, Juliana pediu para que tocassem o louvor “Era a mão de Deus”. O início da canção imediatamente liberou o choro represado. “Tem que ser forte. Eu perdi a gravidez com 3 para 4 meses, ainda estou muito triste. Tem horas que minha cabeça dói demais”, desabafou Juliana, ao lado do companheiro Lucas Lopes, de 18 anos.
A música ajuda a liberar e expressar as emoções. “É muito satisfatório a gente ver a mudança acontecendo ali na hora, a pessoa vai ficando mais leve. Muitas verbalizam que ajudou a diminuir a ansiedade. Muita coisa acontece ali naquele momento, é instantâneo”, observa a estudante de pós-graduação em musicoterapia do Conservatório de Música, Denise Maria Tenório Palermo, que realiza estágio na Maternidade.
Serviço atende mães, bebês e equipes profissionais
Ter o Serviço de Musicoterapia com um profissional dedicado à unidade viabiliza o atendimento amplo e contínuo. Além da assistência às gestantes e bebês, o serviço também se estende para as equipes profissionais. A equipe atende os bebês prematuros na UTI Neo Natal, ao lado das incubadoras, como também as mães e bebês na enfermaria Canguru.
“A gente fala que é um banho afetivo. A gente alimenta o bebê de leite, mas alimenta de afeto também, não é?”, diz Ana, complementando que a musicoterapia ajuda os pais a sustentar a presença dentro da UTI e ajuda a recuperação do bebê que estava na vida intrauterina ouvindo aquele batimento cardíaco e, de repente, fica longe da mãe num ambiente ameaçador.
Sempre que requisitada, a equipe de musicoterapia atende também as equipes de médicos e de enfermagem. São profissionais que precisam se manter atentos em atividades de cuidado do outro. Segundo Ana, a musicoterapia é uma forma deles se manterem com a atenção focada, porém a partir do código musical, que move para o criativo e afetivo. “Eles mantêm a atenção focada, mas de uma outra forma, com menos estresse, com mais prazer e criatividade”, explica.
É uma forma diferente de ouvir o colega e de se expressar. “O importante é que consigam ter esse momento de dar vazão às emoções e de olhar para si, né? Às vezes, esse momentinho, nem que seja 30 minutos, ajuda a lidar com o plantão com maior disponibilidade para atender os pacientes”, conclui.
Sobre a Ebserh
A Maternidade Escola faz parte do Complexo Hospitalar da UFRJ, gerido pela Rede Ebserh desde junho de 2024. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Claudia Holanda, com edição de Danielle Campos e Raoni Santos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh