Relatos e Historias
INCLUSÃO/PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NOS HUFS
“Todo dia é um desafio diferente”
Florianópolis (SC) - Maria Eduarda Mendes teve um osteossarcoma, um tumor maligno que ataca ossos e é mais comum em crianças e adolescentes. “Eu sou natural de Floripa e sou amputada. Eu tive câncer aos 13 anos. Em decorrência do câncer, tive que fazer a amputação em uma perna. A minha vida mudou completamente. Eu tenho desafios todo dia a dia, né? Mas fora do tratamento, eu estudei, fiz faculdade, estou trabalhando, mas todo dia é um dia”, conta.
Duda, como gosta de se apresentar, trabalha hoje como Assistente Administrativa na Unidade de Compras e Licitações do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), vinculado à Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). É formada em Publicidade e Propaganda e hoje também está terminando uma segunda graduação, em Estética e Cosmética, por interesse pessoal.
Trajetória na Ebserh: recepção, mudanças, desafios e conquistas
Duda se juntou à Ebserh em 2019, e desde então trabalha na área de compras. “Apesar de não ter nada a ver com o que eu estudei, eu gosto da área. É desafiador, mas é gratificante ver que a gente compra coisas que o paciente vai usar. Tem dias que são um sufoco, né? Mas a gente tem essa gratificação que o hospital gera”, relata.
O início no hospital foi um aprendizado, tanto para Duda quanto para o HU-UFSC: “Na minha chegada ao HU, as coisas não eram tão acessíveis assim. Acho que não tinha tantas pessoas com deficiência, então o hospital também não tinha experiência nessa acolhida. Então teve alguma dificuldade, as áreas são distantes. Mas agora, com o passar do tempo, estão tentando deixar as coisas mais acessíveis”.
Pequenas mudanças já fizeram diferença. “Eu estou lotada hoje em uma sala mais fácil de eu chegar, um lugar de onde eu consigo ser sociável. Consigo ir na lanchonete, no auditório quando tem algum evento, alguma palestra. Antes, eu estava lotada em outra unidade em que eu até tinha a acessibilidade do carro, mas eu ficava meio isolada. Se tinha alguma coisa no auditório, eu tinha que dar uma volta enorme para conseguir chegar, gastava muito tempo. Então às vezes eu nem ia. Hoje é diferente, o espaço é mais próximo, mais acessível”. Outra adaptação é que Duda recebeu permissão para fazer o controle de ponto de forma manual, pois os aparelhos de ponto ficam distantes da sala em que ela trabalha.
Duda destaca ainda o quanto é importante para a pessoa com deficiência ser visível, estar presente nos espaços. “Tem gente que nunca trabalhou com uma pessoa com deficiência, nunca teve esse convívio. Então é meio difícil essa adaptação. Por exemplo, eu estou no corredor do hospital, às vezes a pessoa está lá com o celular e bate em mim porque não está prestando atenção ao seu redor. Eu ando mais devagar, tenho que ficar desviando. No estacionamento, tem bastante problema aqui com pessoas que estacionam o carro e vão embora e não se dão conta que estão ocupando uma vaga reservada [para PCDs], por exemplo”, diz.
Ela completa: “Hoje, a gente tem essa visibilidade. Alguém [da Ebserh] está conversando comigo sobre pessoas com deficiência. Quando eu entrei, ninguém falava sobre isso. Eu acho que está melhorando com o tempo. As pessoas têm mais consciência, tem mais pessoas com deficiência no serviço público. Eu tenho a sorte de ter uma chefe muito acessível, a gente pode conversar quando eu preciso de alguma coisa, nesse sentido de buscar soluções”.
O trabalho na Comissão de Acessibilidade do hospital, da qual Duda hoje participa, é importante para ela. “É importante para elaborar relatórios, estudar as necessidades e trazê-las para a Ebserh. Isso é algo que a comissão pode gerar e apresentar para as gerências, para as divisões, para ver o que pode mudar na infraestrutura, por exemplo. Eu entendo que o hospital é antigo, que não dá para mudar da noite para o dia. Mas são coisas que ultrapassam a minha deficiência, são para todas as deficiências que passam por aqui. E o hospital está trabalhando para melhorar”, afirma.
A inclusão não está escrita nas estrelas
Para quem se interessar, Duda sugere o filme “A Culpa é das Estrelas”, baseado no livro com o mesmo título: “É pra chorar, mas um dos personagens principais tem a mesma doença que eu, o osteossarcoma. Ajuda a conhecer um pouco”.
“As pessoas com deficiência, desde a antiguidade, foram estigmatizadas. Mas hoje a gente vê que a pessoa com deficiência não é a deficiência, ela pode ser útil. E se ela se sente útil, tem como contribuir. Talvez não seja como as pessoas, ‘normais’ fariam, mas ela tem a contribuição dela a fazer ao mundo, não é?”, reflete.
Rede Ebserh
O HU-UFSC faz parte da Rede Ebserh desde março de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Márcio Kameoka
Revisão: Vanda Laurentino
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh