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Harmonia com a Natureza e Desenvolvimento Sustentável: pesquisas no Pantanal fortalecem a conservação da biodiversidade
22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade.
No dia 22 de maio, celebra-se o Dia Internacional da Biodiversidade, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de promover a conscientização sobre a importância da diversidade biológica e a necessidade de sua conservação. Em 2025, o tema escolhido é “Harmonia com a Natureza e Desenvolvimento Sustentável”, que destaca a conexão entre a preservação dos ecossistemas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.
O tema enfatiza a necessidade de integrar o desenvolvimento econômico e social à conservação da biodiversidade, abordagem alinhada ao Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal (KMGBF) aprovado durante a COP15 da Convenção sobre a Diversidade Biológica. Este documento estabelece metas para transformar a relação das sociedades com a natureza, promovendo ações como gestão sustentável de ecossistemas e incorporação da biodiversidade nas políticas públicas e práticas econômicas.
Neste contexto, o Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP) tem desempenhado um papel estratégico na geração de conhecimento científico voltado à conservação do bioma pantaneiro. E para marcar o Dia Internacional da Biodiversidade, o INPP apresenta entrevistas com duas pesquisadoras que desenvolvem assuntos diretamente relacionados ao tema de 2025.
A Dra. Kheytiany Hellen da Silva Lopes, é bolsista do Programa de Capacitação Institucional (PCI), no INPP, e desenvolve metodologias sustentáveis para a extração de compostos bioativos de plantas do Pantanal, dentro da abordagem da química verde. De acordo com a pesquisadora, a utilização de Solventes Eutéticos Profundos Naturais (NADES), permite substituir substâncias tóxicas por alternativas mais seguras, biocompatíveis e sustentáveis, dentre as quais, muitas são de origem natural.
De acordo com a pesquisadora, essa substituição reduz significativamente a poluição do ar, da água e do solo, além de minimizar o impacto ambiental dos processos químicos. Os NADES também permitem a valorização de biomassa e resíduos agroalimentares, promovendo uma economia circular e o uso eficiente dos recursos naturais. Ao tornar processos mais limpos, eficientes e com menor geração de resíduos, a química verde contribui diretamente para o desenvolvimento sustentável. A redução da carga ambiental e a utilização mais consciente dos recursos, facilitadas pelos NADES, apoiam indiretamente a conservação da biodiversidade, essencial para ecossistemas saudáveis.
Em relação aos compostos bioativos já identificados, Kheytiany relata que sua pesquisa obteve resultados com uma variedade de substâncias naturais extraídas de plantas do Pantanal. “Dentre os principais tipos de compostos bioativos identificados estãos os fenólicos, flavonóides, terpenóides, além de alcalóides, saponinas, polissacarídeos, taninos, esteróides, glicosídeos, carotenóides, lignanas, ácidos orgânicos, proteínas e minerais”, afirma.
Os fenólicos, que incluem ácidos fenólicos e polifenóis, são destacados pela atividade antioxidante, por exemplo, a extração de polifenóis de tomilho selvagem e o alto teor fenólico presente em extratos de subprodutos de uva e azeitona. Já os flavonóides, que incluem também antocianinas e isoflavonas como puerarin, daidzein, genistein, apresentam bons resultados com NADES, e têm demonstrado capacidade de extrair e estabilizar antocianinas de amora e Catharanthus roseus (Vinca), além de isoflavonas de Pueraria lobata (Kudzu). O flavonóide baicalin, por sua vez, teve a solubilidade e atividade antiproliferativa aprimoradas em NADES. Dentre os terpenóides, destacam-se os óleos voláteis (óleos essenciais), diterpenos como andrographolide, triterpenos como “oleanolic acid” e compostos como beta-caryophyllene. A extração de óleos essenciais de diversas plantas usando NADES é um foco significativo destas pesquisas, pois podem melhorar o rendimento e a diversidade de componentes em extratos de óleos essenciais.
Além disto, a pesquisadora ressalta que essa tecnologia impulsiona a bioeconomia local ao transformar subprodutos em recursos valiosos, com potencial de aplicação em setores como o de alimentos e cosméticos. Os métodos baseados em NADES, são mais limpos, alinham-se aos princípios da química verde, e fornecem uma base técnica relevante para políticas públicas de redução da poluição e uso de substâncias perigosas. Para Kheytiany, ao permitir o processamento local de recursos, a pesquisa também apoia o desenvolvimento regional e contribui para a regulamentação de novos bioprodutos. Apesar dos desafios envolvendo escala industrial e avaliação completa de toxicidade, ela considera a linha de investigação fundamental para o avanço da inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável.
A Dra. Luiza Moura Peluso, bolsista também vinculada ao INPP, foca seus estudos na conservação da ictiofauna pantaneira, com ênfase nas ameaças impostas pelas ações humanas aos ecossistemas aquáticos. Ela explica que os fatores antrópicos mais relevantes hoje incluem mudanças climáticas em curso, construção de hidrelétricas, alterações na cobertura e uso da terra, poluição das águas e introdução de espécies invasoras na região da Bacia do Alto Paraguai (BAP).
A pesquisadora enfatiza que esses peixes utilizam a planície pantaneira inundada como área para alimentação e crescimento, enquanto o planalto é usado para reprodução. “A conectividade entre rios da planície e do Planalto permite a movimentação desses peixes entre os habitats, embora sua capacidade de dispersão seja limitada pela bacia hidrográfica em que vivem. Portanto, a fragmentação do rio por barragem além de reduzir os estoques pesqueiros e afetar a cadeia pesqueira, limita a possibilidade dos peixes em acessar habitats climaticamente adequados, dificultando a persistência de suas populações frente às alterações no habitat”.
A redução na reprodução de espécies de peixes na Bacia do Alto Paraguai (BAP) pode desencadear uma série de impactos ecológicos, sociais e econômicos, e a diminuição no número de indivíduos nos rios pode levar à extinção local de algumas espécies.
“Com isso, podemos perder peixes que desempenham importantes serviços ecológicos como predadores de topo da cadeia alimentar e dispersores de sementes. Isso também pode causar prejuízos sociais e econômicos devido a pesca ser uma importante atividade na BAP, muitas pessoas e famílias dependem dos peixes como fonte de alimento ou de renda.”
Para lidar com esses desafios, Luiza utiliza em suas pesquisas análise de Modelagem de Nicho Ecológico, técnica estatística robusta, amplamente utilizada no planejamento para conservação e que permite prever os impactos das mudanças climáticas na distribuição de espécies. A pesquisadora explica que a escolha da abordagem depende do tipo de dado disponível e do contexto da área estudada. Em suas pesquisas, utiliza registros de ocorrência de peixes da BAP e variáveis ambientais, como temperatura, precipitação e elevação, para estimar habitats climaticamente adequados, contribuindo para o planejamento de ações voltadas à conservação da biodiversidade aquática.
As contribuições das pesquisadoras do INPP reforçam a importância da ciência para a construção de um futuro em que o desenvolvimento econômico esteja em equilíbrio com a preservação da natureza. Seja por meio da química verde aplicada à flora ou pela conservação de espécies ameaçadas nos rios pantaneiros, as pesquisas desenvolvidas demonstram que o conhecimento científico é essencial para fortalecer políticas públicas, impulsionar a bioeconomia e conservar a biodiversidade.