Notícias
INOVAÇÃO
Trabalho voltado para tratamento de câncer de cabeça e pescoço é contemplado em edital do Sebrae
Nathali Riccardo Lima em frente ao Reator Argonauta do IEN/CNEN. Foto: Gledson Júnior
O edital “Catalisa ICT – Planos de Inovação 2025” do Sebrae, criado com o objetivo de transformar pesquisas acadêmicas em inovações que fomentem o desenvolvimento econômico e social do Brasil, divulgou no início deste mês de setembro o seu resultado definitivo. Dentre os trabalhos científicos de todo o país selecionados, está um que foi desenvolvido no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN), voltado para auxiliar no tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço.
Com o título “Síntese verde de nanopartículas de prata: uma inovação para o tratamento multimodal do Câncer de Cabeça e Pescoço”, esse trabalho de pós-doutorado é assinado pela Dra. Nathali Riccardo Barbosa de Lima, pesquisadora e colaboradora do IEN/CNEN, além de integrante do Programa de Engenharia Nuclear da COPPE/UFRJ, como aluna de pós-doutorado.
O projeto foi produzido no Laboratório de Desenvolvimento de Radioisótopos por Ativação Neutrônica do Instituto (LDRAN) em parceria com a vice-coordenadora e professora permanente do Programa de Pós-Graduação do IEN/CNEN, Dra. Luciana Carvalheira, e com o auxílio da aluna de iniciação científica da Dra. Nathali, Samara Mendes. Além disso, esse projeto se deriva de uma outra pesquisa, com base em nanopartículas de ouro, que teve a orientação da Dra. Inayá Correa Barbosa Lima, professora da Coppe/UFRJ.
A pesquisadora explica que o objetivo do estudo é “desenvolver um nanossistema inovador que consiga agregar técnicas de terapia e diagnóstico, que atenda aos princípios de Química Verde”. Esse nanossistema seria composto por um biopolímero, nanopartículas de prata (AgNPs) e álcool perílico, permitindo a sua aplicabilidade no tratamento dos tumores de cabeça e pescoço. Após passarem pelo processo de síntese, as nanopartículas serão ativadas no Reator Argonauta através de feixes de nêutrons. A Dra. Nathali explica como ocorre esse processo de síntese:
“A primeira etapa é produzir, de fato, as nanopartículas de prata e funcionalizá-las com o Alginato (polissacarídeos naturais que se encontram nas paredes celulares de diversas algas marrons), posteriormente o álcool perílico será adicionado ao sistema e diversas caracterizações serão feitas para verificar o sucesso da formação do nanossistema”.
Influência na Sustentabilidade e Economia Circular
Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que o Brasil é um dos principais países em número de casos de tumores de cabeça e pescoço. De acordo com um trabalho acadêmico publicado na The Lancet Regional Health (Américas) conduzido pelo INCA, em que foram analisados mais de 145 mil casos, constatou-se que cerca de 80% dos tumores de cabeça e pescoço diagnosticados no país, entre 2000 e 2017, foram detectados em estágios avançados, o que reforça a necessidade de identificação desse tipo de câncer logo nos primeiros sintomas:
- Nódulos na boca, pescoço ou mandíbula;
- Inchaço ou ferida que não cicatriza;
- Manchas avermelhadas ou esbranquiçadas na boca;
- Dificuldades para se alimentar;
- Rouquidão, mudança na tonalidade da voz ou dificuldade para pronunciar determinados sons;
- Dificuldade e dores ao movimentar a boca;
- Congestão nasal, falta de ar, dores no peito e tosse.
Para atender a essa elevada incidência de casos de câncer de cabeça e pescoço, a mencionada terapia inovadora pretende ofertar à sociedade um novo fármaco com potencial para o tratamento desses tumores por meio da combinação inédita das ações emitidas entre TFD (Terapia Fotodinâmica), quimioterapia e radioterapia, conforme a complexidade do caso, e ainda possibilitará uma modalidade de acompanhamento do tratamento por meio da técnica SPECT (Tomografia Computadorizada de Emissão de Fóton Único).

- Dra. Nathali Lima é quem comanda a pesquisa que desenvolverá nanossistemas para o tratamento contra o câncer de cabeça e pescoço. Foto: Gledson Júnior.
A Dra. Nathali Lima explica ainda que o projeto, além de auxiliar na disseminação do uso benéfico da Energia Nuclear, está calçado nas práticas de sustentabilidade e da Economia Circular. Esse último é um conceito criado no fim dos anos 1980 que relaciona o crescimento econômico à redução do uso de recursos naturais, buscando minimizar desperdícios e impactos no meio ambiente:
“É um projeto que agrega o conceito de Química Sustentável e parâmetros de Economia Circular, demonstrando ser estratégico, pois se assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais. O esperado é que seja um estímulo ao desenvolvimento de fármacos através de um processo de síntese sustentável e ambientalmente amigável”, justifica a especialista.
Ao ser contemplada no Edital Catalisa do Sebrae, Nathali entende que essa é uma oportunidade de aprender como tornar esse trabalho, que nasceu na bancada de um laboratório do IEN/CNEN, em um negócio com base tecnológica, obtendo, através desse programa, recursos financeiros, mentorias, conexões com mercado e apoio para ampliar a sua expertise:
“Meu objetivo principal, a partir desses conhecimentos, será o de transformar minha pesquisa – que já tem forte base científica e inovadora – em uma solução de impacto real para a saúde, validada técnica e clinicamente, protegida por propriedade intelectual e com potencial de mercado”.
Escrita por: José Lucas Brito (Setcos/ IEN)