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Constância Pagano, pioneira da radiofarmácia pública brasileira, morre aos 92 anos, deixando um legado para a medicina nuclear
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) comunica com pesar o falecimento da Dra. Constância Pagano Gonçalves da Silva, um dos maiores nomes da história da medicina nuclear no Brasil. Cientista de trajetória brilhante e marcada pelo pioneirismo, foi a responsável por estruturar a primeira radiofarmácia pública do país, e por liderar a produção nacional de radioisótopos para uso médico.
“Constância Pagano foi mais do que uma referência científica — foi exemplo de entusiasmo, pioneirismo e compromisso com a ciência pública. Sua trajetória deixa uma marca profunda na história da medicina nuclear brasileira. Seu legado seguirá nos inspirando”, afirmou o presidente da CNEN, Francisco Rondinelli Júnior.
Na década de 1950, enquanto muitas mulheres eram desencorajadas a seguir carreira científica, Constância foi movida por um entusiasmo genuíno, inspirada pela história de Marie Curie. "Às vezes, penso que foi isso que me trouxe a essa área", dizia. Em 1953, ingressou no curso de Química da USP e logo passou a atuar com radioisótopos no então Laboratório de Radioisótopos da Faculdade de Medicina da USP.
Cinco anos depois, entusiasmada com as informações sobre os primeiros experimentos de produção de radioisótopos para uso médico, que estavam sendo realizados no recém-criado Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), ela buscou uma vaga na instituição e participou ativamente do nascimento da medicina nuclear no Brasil.
Em 1961, realizou estágio na França, onde se especializou na produção de radioisótopos. De volta ao país, liderou por décadas a Divisão de Radioquímica do IPEN/CNEN, coordenando a construção do complexo de laboratórios inaugurado em 1975, fundamental para o fornecimento de insumos à medicina nuclear em todo o Brasil. Foi responsável também por implantar sistemas de qualidade e estimular o desenvolvimento de novos radiofármacos, como o fluorodesoxiglicose (FDG).
Com mestrado em Tecnologia Nuclear e doutorado em Química Inorgânica, Constância liderou equipes técnicas e formou gerações de profissionais na área nuclear. Em 1998, como chefe do Departamento de Processamento de Material Radioativo do IPEN, comandava mais de 50 colaboradores, sempre com entusiasmo e espírito inovador. Após sua aposentadoria, foi agraciada com o título de Pesquisadora Emérita do Instituto.
A diretora do IPEN/CNEN, Isolda Costa, destacou: “A Dra. Constância Pagano foi uma pioneira na área de Medicina Nuclear no Brasil e um modelo e inspiração para as meninas e mulheres de hoje seguirem a carreira científica por vocação. Ela escolheu se dedicar às ciências quando isso não era comum entre as mulheres, nos deixando um exemplo de coragem e dedicação, sendo a responsável pela formação de muitos que até hoje se inspiram no seu exemplo. Somos muito gratos a ela pelo que representou para o IPEN e para o nosso país.”
Em nota oficial, a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) também prestou tributo à pesquisadora: “Ao longo de mais de 60 anos de dedicação, liderou com excelência a radiofarmácia do IPEN/CNEN, sempre guiada pela responsabilidade com a saúde dos pacientes”, ressaltou a Dra. Elba Etchebehere. “A Medicina Nuclear Brasileira tem profundo orgulho da história e do legado deixado por essa grande radioquímica.”
O velório será realizado nesta terça-feira, 22 de abril, a partir das 8h, com sepultamento às 12h, no Cemitério Morumbi (Rua Deputado Laércio Corte, 468, Morumbi, São Paulo).
A CNEN manifesta sua solidariedade aos familiares, colegas e alunos da Dra. Constância Pagano, e reafirma seu compromisso com a preservação da memória das mulheres que fizeram história na ciência brasileira.
Com informações da Revista Brasil Nuclear (ano 5, nº 17, abr-set 1998), da Associação Brasileira de Energia Nuclear.
Fonte: COCOM/ CNEN