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CNEN recebe visita de especialista alemão para reunião técnica sobre potenciais parcerias em propulsão aeroespacial
Frank Jansen (à direita) enfatizou em reunião técnica os avanços da engenharia aeroespacial, acompanhado de Wilson Calvo na CNEN. Foto: Douglas Troufa.
Durante suas visitas às instituições científicas no Brasil, o astrofísico alemão Frank Jansen, esteve na sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em Botafogo (Rio de Janeiro), na sexta-feira, 31 de janeiro, para uma reunião técnica sobre prospecção de parceiras no desenvolvimento de soluções associadas à propulsão aeroespacial, a partir do uso da tecnologia nuclear. Jansen atuou na área de P&D do Centro Aeroespacial Alemão (DLR) por 20 anos e, atualmente, é Fundador e CEO da 1A – First Applications.
Esse encontro serviu para que o especialista apresentasse à CNEN o que está sendo desenvolvido no Sistema Internacional de Energia e Propulsão Nuclear (INPPS), visando missões interplanetárias para Marte e Europa (menor das quatro luas que orbitam Júpiter), além de ressaltar a capacidade da energia nuclear de abastecer esses propulsores e explicar sobre o transporte espacial de alta potência com sinalização do INPPS.
O especialista, com mais de 30 anos de experiência em assuntos relacionados a raios cósmicos, astrofísica e desenvolvimento de sistemas espaciais, declarou que o Brasil, por meio das suas instituições científicas, possui os meios para investir na produção de equipamentos e de propulsores aeroespaciais, e que há uma gama de parcerias que podem ser estabelecidas com outros países.
Durante a sua explanação, Jansen destacou que o projeto de criação de propulsores aeroespaciais do INPPS conta com a contribuição de instituições provenientes da China, Rússia, Itália, França, Holanda, Reino Unidos, República Tcheca, além do Brasil. Ele reforçou que as instituições científicas do Brasil, a exemplo da própria CNEN, detêm expertises e conhecimentos que poderiam agregar aos trabalhos que são executados pela União Europeia no setor aeroespacial:
“Vocês podem contribuir conosco para um projeto em comum a partir de diferentes pontos de vista. Além da excelência nas Unidades Técnico-Científicas da CNEN, há muita experiência em São José dos Campos, no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e no Instituto de Estudos Avançados (IEAv). Portanto, temos que combinar essa experiência no Brasil com a nossa para voar, primeiro, com robôs e inteligência artificial para Marte, e depois com humanos. Isso é muito importante”, declarou Frank, que acrescentou que as expectativas para esse encontro na CNEN foram totalmente atendidas.
O físico alemão foi recebido pelo Wilson Aparecido Parejo Calvo, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, e assessores, além de Daniel Palma, da Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS), e Fabiane Braga, diretora de Gestão Institucional substituta.
Segundo Calvo, o encontro foi extremamente importante para promover e identificar as oportunidades de participação da CNEN no desenvolvimento de propulsores aeroespaciais com o uso de tecnologia nuclear: “As sete Unidades Técnico-Científicas da Comissão Nacional de Energia Nuclear têm condições de trabalhar nesse projeto junto com a Comunidade Europeia, visando ao desenvolvimento dessa tecnologia, que é nova e disruptiva".
O próximo passo, segundo ele, é consultar pesquisadores e tecnologistas da CNEN a fim de identificar formas de colaboração nas áreas de reatores nucleares de pesquisa, materiais estratégicos e instrumentação nuclear, dentre outras. "Além de conversarmos com as instituições parceiras, tal como, a UFRJ e em especial, o DCTA e o INPE, que trabalham em temas aeroespaciais por tradição e excelência, para ver a forma com que a CNEN e suas Unidades podem fazer parte desse desafio mundial”, acrescentou.
Calvo adiantou que, após a interação com empresas e a avaliação interna, a CNEN verificará a possibilidade de estabelecer acordos de cooperação semelhantes aos que foram feitos com a China, Estados Unidos e países da Comunidade Europeia, para formalizar sua participação no projeto de desenvolvimento de propulsores aeroespaciais.
Um dia antes da visita à CNEN, Frank esteve no Programa de Engenharia Nuclear (PEN) da COPPE/UFRJ também palestrando sobre propulsão nuclear espacial, desenvolvimento de reatores nucleares espaciais e sobre a importância de haver uma integração entre Brasil e União Europeia nessa área. De acordo com o professor Giovanni Laranjo de Stefani, da Coppe/UFRJ, a instituição está participando de uma parceria com a União Europeia e com o professor Lamartine Nogueira Frutuoso Guimarães, voltada à modelagem neutrônica do núcleo.
Papel relevante do Brasil
A parceria da COPPE/UFRJ começou em julho/agosto 2023, quando Jansen fez uma visita de aproximadamente 15 dias ao professor Lamartine Guimarães, do ITA. Na ocasião, foi discutido o projeto Europeu do INPPS (do inglês International Nuclear Power Propulsion System). Guimarães e o também professor Giovanni de Stefani já vinham conversando sobre colaborações de interesse mútuo em SMRs, Micro-reatores e aplicações espaciais da energia nuclear anteriormente.
No início de dezembro, Jansen participou de uma conferência na China, onde estabeleceu contato com seus pares chineses. Dessa conversa surgiu a possibilidade de obter financiamento chinês para pesquisas relacionadas ao INPPS. Enquanto isso, na Europa, o tema está em compasso de espera devido a desafios sociopolíticos na Alemanha. "De qualquer forma, conduzir este assunto do INPPS requer, no mínimo, recursos para cálculos de avaliação de sistemas, e o interesse chinês apresenta uma oportunidade única", acredita Stefani.
Ele destaca a importância da participação do Brasil nessa pesquisa, pois a exploração espacial atua como um catalisador para o desenvolvimento de tecnologias que, de outra forma, não teriam incentivo para avançar. Além disso, o espaço profundo — incluindo a Lua, Marte e o cinturão de asteroides — representa uma promissora fonte de recursos minerais sem impacto ambiental na Terra. A apresentação dessa ideia na CNEN é um desdobramento natural desse contexto.
"Uma parceria entre CNEN, COPPE-UFRJ e ITA para a exploração do espaço profundo garantiria às futuras gerações brasileiras acesso a seus recursos minerais. Vale destacar que a AEB já demonstrou interesse no tema. Dada a relevância e complexidade dessa colaboração, é compreensível que seu avanço ocorra de forma gradual.", concluiu Stefani.
Texto: José Lucas Brito - IEN/CNEN (colaborou Giovanni di Stefani)