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CIÊNCIA E ACOLHIMENTO
Melissa Xavier e Karine Ortiz Sanchotone: a força da parceria entre o Laboratório de Micologia e o SAE Infectologia
Rio Grande (RS) – Há 35 anos, o SAE Infectologia do HU-Furg/Ebserh oferece atendimento humanizado e multidisciplinar a pacientes vivendo com HIV e outras doenças infecciosas. Uma das parcerias que fortalece esse trabalho é o Laboratório de Micologia, garantindo diagnósticos de infecções fúngicas em pacientes imunossuprimidos. Os relatos feitos por Melissa Xavier e Karine Ortiz Sanchotone refletem a união entre ciência, dedicação e cuidado humano, mostrando como ensino, pesquisa e assistência caminham lado a lado. Acompanhe os relatos:
Melissa Xavier: paixão e liderança na Micologia
Melissa Xavier é professora da Faculdade de Medicina/Furg desde 2009 e contribuiu na implantação do Serviço de Diagnóstico Micológico no HU-Furg. Sua trajetória reflete a combinação de ensino, pesquisa, extensão e assistência clínica, possibilitando que pacientes recebam diagnósticos rápidos e precisos, enquanto novos profissionais de saúde são capacitados.
Qual sua função no Laboratório de Micologia?
“Sou professora de Micologia da Faculdade de Medicina/Furg e tenho uma relação de muito carinho e parceria com o SAE desde o início. Entrei na Faculdade em 2009, logo após o doutorado, e vinha da experiência na Santa Casa de Porto Alegre, um centro de referência em Micologia Médica. Quando cheguei, o diagnóstico micológico ainda era terceirizado; não havia serviço interno no Hospital.”
E como surgiu a parceria com o SAE?
“Lembro da primeira reunião com a Dra. Roseli Stone e o então diretor do Hospital, Romeu Selistre Sobrinho. Conversamos sobre a importância de ter diagnóstico micológico no Hospital. Desde então, o trabalho cresceu devagar, mas de forma sólida. Hoje, temos laudos diretos no Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU), e o SAE tem sido nosso parceiro em cada etapa. Essa colaboração trouxe ganhos para o diagnóstico, para a pesquisa e para a formação dos alunos, que podem acompanhar casos diretamente no Hospital.”
Quais os principais avanços que você viu nesses anos?
“Foram avanços enormes ao longo desses anos. Antigamente, trabalhávamos quase que exclusivamente com exames tradicionais: microscopia direta e cultivo de fungos. Isso exigia dias, às vezes semanas, para obter resultados, e a sensibilidade e a especificidade eram limitadas. Hoje, temos à disposição testes sorológicos e moleculares de ponta, que nos permitem identificar criptococose, aspergilose e histoplasmose com muito mais precisão, rapidez e confiabilidade. Além disso, desenvolvemos métodos que usam amostras menos invasivas, como urina, para diagnosticar algumas infecções, facilitando a vida do paciente, especialmente aqueles imunossuprimidos. A introdução dessas tecnologias mudou completamente a dinâmica do atendimento: conseguimos resultados rápidos, o que permite iniciar o tratamento mais cedo e melhorar o prognóstico. É uma transformação que vai além do Laboratório, impacta diretamente a vida das pessoas e fortalece a confiança da equipe médica na assistência.”
Como essa parceria impacta o ensino e a pesquisa?
“O HU-Furg tornou-se um centro colaborador em diversas redes nacionais e internacionais, o que abriu inúmeras oportunidades para ensino, pesquisa e extensão. Nossos alunos de Mestrado e de Doutorado acompanham de perto tanto o diagnóstico quanto a assistência aos pacientes, aprendendo na prática como a Micologia Médica se aplica no contexto clínico. Além disso, participamos de projetos estratégicos, como o VigiRAM, do Ministério da Saúde, voltado para a Vigilância da Resistência Antimicrobiana, e de Redes de Vigilância Genômica da Resistência Antifúngica. Essas parcerias nos permitem acessar métodos diagnósticos de ponta que, de outra forma, não estariam disponíveis no SUS. O impacto é direto: além de formar profissionais altamente capacitados, conseguimos oferecer um diagnóstico mais rápido e preciso aos pacientes, melhorando o tratamento e o prognóstico. Esse intercâmbio entre ensino, pesquisa e assistência fortalece a qualidade do serviço e coloca o HU-Furg como referência regional em Micologia Médica.”
E o impacto para a comunidade e a educação em saúde?
“A parceria também se estende à educação continuada de profissionais da saúde e à comunidade. Produzimos material educativo e realizamos ações em Unidades Básicas de Saúde (UBSs), mostrando a importância de suspeitar, diagnosticar e tratar doenças fúngicas. O lema que usamos é ‘Pense em Fungos, Salve Vidas’. Quanto mais a população e os profissionais conhecem essas doenças, melhor a prevenção e o cuidado.”
Quantos projetos de pesquisa e extensão vocês têm atualmente?
“Em termos de pesquisa, temos cerca de 10 projetos, cinco deles em redes nacionais, e três projetos de extensão junto ao SAE. Um deles envolve visitas mensais às UBSs com profissionais e agentes comunitários, discutindo diagnóstico, tratamento e prevenção. A maioria dos projetos é multicêntrica, e muitas vezes somos os únicos representantes do Rio Grande do Sul. Isso nos orgulha e mostra a relevância da nossa atuação regional.”
Como você enxerga o futuro dessa parceria?
“A parceria só tende a crescer. Começamos com uma sala minúscula, e hoje temos uma infraestrutura muito maior, com projetos internacionais. Expandimos o atendimento para micoses em geral, de superficiais a invasivas, e a perspectiva é ampliar ainda mais o alcance e a qualidade do diagnóstico. Nosso sonho é formalizar um Ambulatório de Micologia no Hospital, com atendimento completo, do diagnóstico ao tratamento, para doenças fúngicas sistêmicas e oportunísticas.”

Karine Ortiz Sanchotone: dedicação e precisão na micologia clínica
Karine Ortiz Sanchotone é farmacêutica bioquímica e responsável técnica pelo Laboratório de Micologia. Ela acompanha a trajetória do SAE Infectologia há mais de uma década, dedicando-se ao diagnóstico preciso de doenças fúngicas que, muitas vezes, são negligenciadas. Karine resume sua trajetória com emoção: “Minha paixão pelo SAE Infectologia e pelo Laboratório de Micologia é enorme. Cada diagnóstico é uma oportunidade de oferecer cuidado e esperança. É a precisão aliada à humanidade que faz a diferença para os pacientes.”
Como se dá essa intersecção entre o Laboratório de Micologia e o SAE Infectologia?
“A nossa parceria é muito grande e existe desde o início do Laboratório, há cerca de 15 anos. A Infectologia e a Micologia caminham juntas porque os fungos provocam doenças que muitas vezes se tornam graves em pacientes com baixa imunidade, como aqueles atendidos pelo SAE. O Pneumocystis, por exemplo, surgiu com intensidade na década de 1980, junto com a epidemia do HIV, e exigiu essa colaboração. A Infectologia não vive sem o Laboratório Micológico, e nem a Micologia vive sem a Infectologia. Atendemos principalmente pacientes imunodeprimidos.”
Há quanto tempo você trabalha no Laboratório?
“Entrei em 2011, inicialmente devido ao meu doutorado, começando como voluntária fora do meu horário. Gradualmente, fui incorporando dias e, hoje, estou em definitivo no Laboratório. A evolução foi enorme: de uma sala pequena para um Laboratório com estrutura muito maior e tecnologias avançadas.”
E como esses avanços impactaram o Laboratório e o SAE?
“Quando comecei, trabalhávamos com métodos clássicos, como exames diretos e cultivos fúngicos. Hoje temos testes imunológicos que detectam aspergilose e histoplasmose, inclusive via urina, o que facilita muito para o paciente e agiliza o diagnóstico. A Histoplasmose, que antes dependia de métodos pouco sensíveis, hoje é diagnosticada com precisão. São cerca de 50 exames por semana, ou 200 testes por mês.”
O perfil epidemiológico mudou ao longo dos anos?
“Sim, inicialmente tínhamos um foco maior na saúde animal, mas ao longo do tempo nos tornamos um Laboratório de cunho humano, atendendo vários municípios da região. Hoje, em casos de esporotricose, atendemos São José do Norte, Santa Vitória, São Lourenço, Capão do Leão e Pelotas, além de Bagé, com acompanhamento completo e fornecimento de medicação em parceria com as prefeituras.”
Como você enxerga o futuro dessa parceria?
“A parceria só tende a crescer. Começamos com uma sala minúscula, e hoje contamos com uma infraestrutura muito maior, com Laboratório bem equipado e projetos internacionais. A expansão não é só física: incorporamos novas tecnologias, como testes sorológicos avançados e diagnósticos via amostra urinária, que agilizam os resultados e aumentam a precisão. Hoje, atendemos não apenas casos de esporotricose, mas outras micoses de pele, mãos e pés, e a perspectiva é ampliar ainda mais esse alcance, oferecendo diagnósticos de qualidade para mais municípios da região. Além disso, a integração com o SAE Infectologia continua sendo fundamental. Cada avanço tecnológico e cada ampliação do Serviço se traduz em um cuidado mais rápido, seguro e completo para os pacientes imunoderpimidos e imunocompetentes. Também nos preparamos para responder rapidamente a surtos ou casos urgentes, garantindo que o atendimento seja eficiente mesmo em situações críticas, como aconteceu durante a pandemia. Vejo um futuro de crescimento contínuo, de consolidação do Laboratório como referência regional e internacional, e de impacto direto na vida das pessoas que precisam desse cuidado.”
Durante a pandemia de Covid-19, você trabalhou em outro Laboratório também ligado ao SAE, certo?
“Foi um período intenso. Retornei de licença maternidade e, com a bioquímica Luiza, atendemos 21 municípios, no Laboratório de Apoio Diagnóstico em Infectologia (Ladi). Realizamos diagnósticos urgentes para pacientes de emergência e transplantes. Recebíamos amostras ao meio-dia e tínhamos que entregar resultados até as 16 horas. Às vezes, analisávamos até 100 amostras por dia, com cerca de 60% de positividade. Tudo era uma corrida contra o tempo, mas conseguimos garantir diagnósticos rápidos e precisos.”
E qual a sensação de trabalhar nesse contexto?
“É gratificante. Apesar do trabalho intenso e da tecnologia manual que a Microscopia exige, cada resultado positivo significa uma vida sendo cuidada. O Laboratório e o SAE trabalham de mãos dadas para que o paciente imunossuprimido receba o diagnóstico e o tratamento adequados. Isso transforma todo o esforço em propósito e dedicação diária.”
Sobre a Ebserh
O HU-Furg faz parte da Rede Ebserh desde julho de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires
Apoio de Leonardo Andrada de Mello/UCR15 e Alan Bastos/UAO5
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh