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CIÊNCIA E ACOLHIMENTO
Letícia Machado Nunes: segurança e humanização na Farmácia do SAE Infectologia
Rio Grande (RS) – “Cada paciente é único, e o cuidado precisa chegar de forma clara e segura”, afirma Letícia Machado Nunes, farmacêutica bioquímica da Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM) que funciona no SAE Infectologia do HU-Furg/Ebserh. É nesse ambiente que ela se dedica a garantir que os medicamentos fornecidos pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias Estadual e Municipal de Saúde sejam dispensados com precisão e acompanhados com atenção, transformando a rotina de tratamento em cuidado personalizado. Nesta entrevista, Letícia compartilha os desafios, as experiências emocionantes e a importância da atenção farmacêutica no cotidiano do Serviço. Acompanhe:
Como iniciou sua atuação na UDM e no SAE Infectologia?
“Estou no HU há três anos. Fui aprovada no concurso da Ebserh, e iniciei minhas atividades na Farmácia Central, depois de um ano fui transferida para a Farmácia no SAE Infectologia. Foi um desafio, pois minha experiência anterior era com Análises Clínicas, mas minha formação no Mestrado em Microbiologia e Imunologia auxiliou na minha rápida adaptação.”
O que é a UDM e qual é o papel do farmacêutico na Infectologia?
“A Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM) é responsável por centralizar os medicamentos fornecidos pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, organizando sua chegada ao HU-Furg/Ebserh e garantindo a distribuição segura e contínua aos pacientes que fazem uso de medicamentos antivirais e/ou atendidos pelo SAE Infectologia. Além da logística de medicamentos, que envolve o pedido, o recebimento, o armazenamento, o controle de estoque e a dispensação, garantindo que os remédios cheguem em segurança aos pacientes, o farmacêutico desempenha um papel estratégico na atenção farmacêutica: acompanha a terapia antirretroviral e os demais medicamentos do tratamento, orienta os pacientes sobre horários, doses, interações medicamentosas e cuidados necessários, assegurando a adesão correta e o uso seguro dos medicamentos. Dessa forma, o trabalho do farmacêutico não se limita à dispensação, mas contribui diretamente para a eficácia do tratamento e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.”
Como funciona o atendimento aos pacientes com HIV?
“Nosso trabalho vai além da simples dispensação: realizamos atenção farmacêutica completa, acompanhando a rotina do paciente, orientando sobre horários, doses, interações medicamentosas e cuidados gerais. O objetivo é tornar o tratamento menos complexo e mais seguro ajudando o paciente a entender a importância de sua adesão correta e, também, fortalecer a confiança na equipe de saúde. Cada atendimento é pensado para equilibrar ciência, controle técnico e cuidado humano.”
Quais foram os principais desafios enfrentados?
“Um dos momentos mais desafiadores e marcantes foi durante a enchente de 2024. Tivemos que deslocar toda a medicação da UDM para o Hospital de Cardiologia em condições extremamente adversas, enfrentando ruas alagadas e dificuldade de transporte. Além da complexa logística, precisávamos garantir a qualidade, a integridade e a correta armazenagem dos medicamentos essenciais para a vida dos pacientes. Foi um período de muita tensão: cada decisão tinha impacto direto na saúde de pessoas que dependiam da continuidade do tratamento. A responsabilidade era enorme, mas também nos trouxe um aprendizado profundo sobre trabalho em equipe, resiliência e dedicação. Apesar da pressão e do ambiente desafiador, conseguimos manter o atendimento de forma ininterrupta. Foi, ao mesmo tempo, um teste de competência técnica e de compromisso humano, e isso nos deu certeza de que a equipe estava pronta para cuidar dos pacientes com segurança, eficiência e carinho.”
Tem alguma experiência que te marcou emocionalmente?
“Lembro de forma muito clara de uma paciente que vivia em situação de vulnerabilidade extrema, em situação de rua, com dificuldades de acesso ao tratamento e à rede de saúde. Quando começou o acompanhamento na UDM, precisávamos ajudá-la não apenas com a dispensação dos medicamentos, mas também com orientação detalhada sobre horários, doses e interações, construindo um vínculo de confiança passo a passo. Com o tempo, ela conseguiu aderir corretamente à terapia antirretroviral, o que levou à recuperação da saúde. Gradualmente, reconstruiu sua vida: encontrou moradia, formou família, casou-se e hoje está gestante novamente. Ver essa trajetória de superação, perceber que o trabalho da Farmácia e a atenção farmacêutica contribuíram diretamente para essa transformação, foi profundamente gratificante. Momentos como esse mostram que cada orientação, cada conversa sobre medicação e cada cuidado humanizado não é apenas um procedimento técnico, mas um gesto que pode mudar completamente a vida de alguém. É um exemplo real de como ciência e empatia caminham juntas e do impacto que o SAE Infectologia e a UDM têm na vida dos pacientes.”
Como é manter a humanização diante de um grande volume de pacientes?
“Atendemos cerca de 100 pacientes por dia, totalizando mais de mil atendimentos por mês. Apesar da rotina intensa e da necessidade de seguir processos documentais rigorosos, buscamos equilibrar o controle técnico com empatia e cuidado humano. A humanização se manifesta na escuta atenta, na orientação clara e na construção de uma relação de confiança. Cada paciente é único, e nosso papel é entender suas particularidades para que a terapia seja segura, eficaz e acolhedora.”
Como você enxerga o futuro da UDM no SAE Infectologia?
“Temos planos de ampliar a Farmácia, otimizar o espaço de armazenamento, melhorar o conforto e tornar o atendimento mais ágil. Contamos com o apoio da chefia e da equipe, e acreditamos que essas melhorias refletirão diretamente na qualidade do cuidado prestado e na adesão ao tratamento. Nosso objetivo é fortalecer ainda mais a parceria com o SAE Infectologia, garantindo que cada atendimento seja pautado na ciência, na humanização e no cuidado integral ao paciente.”
Sobre a Ebserh
O HU-Furg faz parte da Rede Ebserh desde julho de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires
Apoio de Leonardo Andrada de Mello/UCR15 e Alan Bastos/UAO5
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh