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CIÊNCIA E ACOLHIMENTO
Bianca dos Santos Blan: unindo ciência e empatia para tocar vidas
Rio Grande (RS) – Com trajetória marcada pela dedicação à pesquisa e ao cuidado humanizado, a enfermeira Bianca dos Santos Blan é uma das profissionais que consolidam o legado dos 35 anos do SAE Infectologia do HU-Furg/Ebserh. Formada pela Furg e vinculada ao Serviço desde o período da Residência, Bianca encontrou na Infectologia um campo de descobertas, vínculos e transformações. Atualmente, trabalha no atendimento a pessoas vivendo com HIV e na Rede de Assistência à Esporotricose Humana, além de se dedicar à pesquisa sobre doenças fúngicas e infecções oportunistas. Em suas próprias palavras:
Como iniciou sua trajetória no SAE Infectologia?
“Sou enfermeira no SAE e estou concursada pela Ebserh desde setembro de 2024, mas meu vínculo com o Serviço vem de antes. Desde a Residência, há cerca de quatro anos e meio, atuo de forma direta ou indireta no SAE — seja na assistência, na pesquisa ou em atividades de ensino e extensão. Sempre digo com orgulho que sou filha da Furg: fiz minha graduação em Enfermagem e me formei em 2019. No ano seguinte, entrei na Residência Integrada Multiprofissional Hospitalar com ênfase na Atenção à Saúde Cardiometabólica do Adulto (RIMHAS), e durante o segundo ano comecei a atuar no SAE. Foi ali que ressignifiquei minha vivência profissional e me encontrei de verdade como enfermeira. Hoje atuo na Rede de Assistência à Esporotricose Humana, atendo pessoas vivendo com HIV, tanto nas demandas espontâneas quanto nos agendamentos. Também apoio a parte administrativa e os atendimentos da Profilaxia Pré-exposição (PrEP) e Pós-exposição (PEP). É uma rotina intensa, mas muito gratificante. Cada dia aqui é uma oportunidade de aprender e contribuir com o cuidado de alguém.”
E como foi o primeiro contato com a área da Infectologia?
“Foi um desafio enorme. A Infectologia é uma área pouco explorada na graduação, então eu praticamente não tinha domínio sobre o tema. Minha primeira experiência profissional aconteceu durante a pandemia de Covid-19, um período que mudou completamente como todos víamos a saúde. Era um cenário de medo, de incertezas e, ao mesmo tempo, de muito aprendizado. A gente estava lidando com algo novo, sem respostas prontas, e precisando se reinventar todos os dias. Quando cheguei ao SAE, foi como entrar em outro universo. Aqui, percebi o quanto o cuidado vai além do tratamento da doença, envolve acolher, escutar, orientar e, principalmente, compreender o outro. Tive colegas que me inspiraram muito, e a enfermeira Elaine foi uma delas. Ela foi uma referência para mim: sempre ao meu lado, me ensinando com paciência e mostrando, pelo exemplo, a importância da presença da Enfermagem nesse espaço. Acho que foi com ela que aprendi a enxergar o quanto o nosso olhar pode fazer diferença na vida das pessoas que atendemos. Hoje, vejo que esse começo, que parecia tão desafiador, foi o que moldou minha trajetória. Foi aqui que encontrei o sentido da minha profissão. A Infectologia me ensinou que o cuidado é, antes de tudo, uma forma de escuta e de empatia.”
O que torna o SAE um espaço tão especial para aprender e trabalhar?
“O SAE é um lugar que ensina diariamente. Aprendemos muito pela troca, com os colegas e, principalmente, com os próprios pacientes. Cada um traz uma vivência, uma forma de ver o mundo, e tudo isso nos faz crescer como profissionais e como pessoas. No SAE existe um senso muito forte de equipe. Cada profissional tem o seu saber, sua afinidade, e o trabalho só acontece porque todos se somam. Desde o início, senti que o SAE é um espaço que valoriza o protagonismo da Enfermagem, mas também o trabalho integrado, o diálogo entre as áreas. É um Serviço que tem uma essência acolhedora, que estimula o aprendizado, a pesquisa e o olhar humano. É também um campo muito fértil para quem gosta de estudar, de investigar, de entender o porquê das coisas. Temos contato com diferentes realidades, com doenças que muitas vezes não aparecem em outros serviços, e isso amplia muito a visão sobre o cuidado. No SAE, cada caso é uma oportunidade de aprendizado e cada pessoa atendida é uma história que nos ensina algo sobre empatia e resiliência.”
A pesquisa também tem um papel importante na sua trajetória. Como surgiu esse interesse?
“Foi no SAE que nasceu minha paixão pela pesquisa. Depois da Residência, entrei no mestrado e comecei a estudar as doenças fúngicas em pessoas vivendo com HIV, especialmente a histoplasmose disseminada, uma infecção fúngica. No doutorado, segui na mesma linha, agora pesquisando infecções oportunistas como a criptococose, outra infecção grave causada por fungos. A pesquisa aqui é sempre voltada para a prática. Pensamos o conhecimento como uma forma de retorno para quem atendemos, seja para melhorar a assistência ou desenvolver estratégias de prevenção e educação em saúde.”
O SAE ultrapassa os muros do Hospital. Como isso acontece na prática?
“O SAE tem uma atuação muito ampla. Fazemos capacitações nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), trabalhamos com educação em saúde e preparamos as equipes da atenção primária para atender de forma acolhedora e qualificada. O nosso trabalho não termina quando o paciente sai daqui. Ele continua na rede de atenção. E esse diálogo com outros profissionais é fundamental para garantir a continuidade do cuidado.”
O estigma ainda é uma barreira para muitas pessoas vivendo com HIV. Como o SAE enfrenta isso?
“Infelizmente, o estigma ainda existe, e é uma das principais dificuldades que enfrentamos. Muitas pessoas chegam aqui com medo, carregando o peso do preconceito e da desinformação. Nosso papel é acolher e desconstruir isso. Hoje temos medicações muito eficazes, que garantem qualidade de vida e longevidade às pessoas que vivem com HIV. O nosso trabalho é evidenciar que elas podem viver bem, com dignidade e autoestima. Eu sempre digo que quero estar com as pessoas no pior momento da vida delas. É ali que fazemos a diferença. Quando alguém está fragilizado e você consegue acolher, ouvir e dar sentido àquela dor, você oferece muito mais do que cuidado técnico, oferece humanidade.”
O vínculo com os pacientes é algo que você destaca com muito carinho. O que mais te marca nesse contato?
“O vínculo é transformador. Muitas pessoas chegam até nós sem nunca terem recebido um cuidado de fato. Algumas vivem em situação de vulnerabilidade, com histórico de dependência química, exclusão social, falta de acesso... Quando conseguimos criar confiança, o paciente começa a se cuidar, a fazer seus exames, a seguir o tratamento. Às vezes, é a primeira vez que alguém realmente escuta esse paciente. Aprendemos que o que é pequeno para nós pode ser enorme para o outro. Uma queixa simples pode estar impedindo alguém de aderir ao tratamento. Por isso, precisamos olhar o paciente como um todo e entender o que é importante para ele, não somente o que é importante para nós.”
Como você sonha o futuro do SAE Infectologia?
“Sou uma pessoa cheia de ideias! Acho que o SAE tem um potencial enorme que ainda pode ser mais explorado. A Furg tem um ensino de qualidade e o SAE Infectologia é um campo riquíssimo para formação prática. Seria ótimo trazer mais estudantes para vivenciar essa realidade e desconstruir preconceitos sobre as doenças infecciosas e o cuidado às pessoas vivendo com HIV. Temos planos de fortalecer a Rede de Atenção à Micologia Médica, ampliando o Ambulatório de Esporotricose e incluindo outras infecções fúngicas relevantes. É um projeto que exige estrutura, integração e tempo, mas estamos caminhando. O objetivo é qualificar a Rede, capacitar os profissionais da atenção básica e garantir um atendimento cada vez mais humanizado e eficiente.”
O que o SAE representa para você?
“O SAE é um espaço de transformação em todos os sentidos. Aprendemos todos os dias, não apenas sobre Enfermagem ou doenças, mas sobre empatia, acolhimento e a complexidade do cuidado com o outro. É um lugar onde podemos ensinar, compartilhar conhecimento e, ao mesmo tempo, sermos aprendizes — cada paciente, cada história, cada desafio nos ensina algo novo. Para mim, o SAE mudou completamente como vejo a Enfermagem. Ele me mostrou que cuidar vai muito além de procedimentos técnicos: envolve ouvir, entender o contexto de vida das pessoas e oferecer suporte de forma humanizada. É um Serviço que nos ensina a colocar o paciente no centro, respeitando suas experiências, medos e conquistas. O SAE é, acima de tudo, um espaço de humanidade. É aqui que percebo o quanto nosso trabalho pode transformar vidas, restaurar dignidade e esperança. Cada vínculo que construímos, cada pessoa que acolhemos, deixa uma marca permanente na nossa trajetória profissional e pessoal.”
Sobre a Ebserh
O HU-Furg faz parte da Rede Ebserh desde julho de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires
Apoio de Leonardo Andrada de Mello/UCR15 e Alan Bastos/UAO5
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh