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CONSCIENTIZAÇÃO
No Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo, especialistas do Huap-UFF falam sobre casos da doença em crianças
No dia 30 de outubro é comemorado o Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo e, na região metropolitana II do Rio de Janeiro, o Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF) é referência na especialidade de reumatologia pediátrica, atendendo crianças e adolescentes regulados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para dar visibilidade ao assunto, os especialistas Leonardo Rodrigues Campos e Kátia Lino Baptista esclarecem as principais dúvidas sobre casos de reumatismo em crianças, tais como causas, sintomas e tratamento. Confira na entrevista a seguir:
- O que é e quais os tipos de reumatismo em crianças?
O termo “reumatismo” se refere a um conjunto de doenças que causam inflamação nas articulações, músculos, ossos ou em outros órgãos do corpo, e não apenas à dor nos ossos, como muitos imaginam. Nas crianças, essas doenças são chamadas de doenças reumatológicas pediátricas. A mais comum é a Artrite Idiopática Juvenil, que provoca dor, inchaço e rigidez nas articulações. Mas há também doenças mais complexas, como o Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil, as vasculites (inflamações dos vasos sanguíneos) e as miopatias inflamatórias, que afetam os músculos.
Além dessas, existem as doenças auto inflamatórias, que são raras, mas vêm sendo cada vez mais reconhecidas pela medicina. Nelas, o corpo ativa a inflamação de forma inadequada, mesmo sem vírus, bactérias ou outro gatilho aparente. Essas doenças costumam causar febres recorrentes, inflamações nas articulações, pele e outros órgãos, e hoje já dispomos de tratamentos específicos que melhoram muito a qualidade de vida das crianças afetadas.
- Quais são as principais causas?
Ao contrário do que muita gente pensa, o reumatismo não é causado por frio, esforço físico ou postura, e sim por alterações do sistema de defesa do organismo. Essas doenças se dividem, de forma geral, em autoimunes e auto inflamatórias:
- Nas doenças autoimunes, o sistema imunológico (que deveria nos proteger) passa a atacar por engano o próprio corpo, provocando inflamação em articulações, pele, rins, pulmões e outros órgãos;
- Já nas doenças auto inflamatórias, que são mais raras, o problema está no controle da inflamação. O corpo “liga” o processo inflamatório mesmo sem infecção, o que causa febres repetidas, dor e cansaço. Essas condições podem ter fatores genéticos ou ser influenciadas por infecções, estresse e fatores ambientais.
- Quais sintomas os pais devem observar?
Os principais sinais de alerta são:
- Dor ou inchaço persistente nas articulações, principalmente pela manhã;
- Dificuldade para andar, correr ou brincar;
- Febre prolongada sem causa aparente;
- Manchas ou feridas na pele;
- Cansaço, perda de peso e palidez;
- Olhos vermelhos ou visão embaçada.
Se a dor ou o inchaço persistirem por mais de alguns dias, é importante procurar o pediatra, que deverá encaminhar a criança ao reumatologista pediátrico o mais rápido possível.
- Como é feito o tratamento?
O tratamento depende do tipo de doença, mas o objetivo é sempre o mesmo: controlar a inflamação e evitar danos nas articulações e órgãos. Os medicamentos usados podem regular o sistema imunológico, aliviar a dor e reduzir a inflamação. Além disso, fisioterapia, terapia ocupacional e apoio psicológico são fundamentais para ajudar a criança a manter uma boa qualidade de vida. Graças aos avanços da medicina, a maioria das crianças com doenças reumatológicas pode levar uma vida ativa, estudar e brincar normalmente, desde que o diagnóstico e o tratamento sejam feitos precocemente. O reumatologista pediátrico precisa contar com a ajuda de outros especialistas (como o oftalmologista, ortopedista, cardiologista, dermatologista, entre outros) para avaliação conjunta já que as doenças muitas vezes acometem diversos órgãos e a vigilância é fundamental para que o tratamento correto seja instituído.
- Como é o atendimento no Huap-UFF para crianças com reumatismo?
O Hospital Universitário Antônio Pedro é referência em reumatologia pediátrica na região metropolitana II do Rio de Janeiro. Atendemos crianças e adolescentes até 16 anos de idade encaminhados da rede pública com suspeita de doenças reumatológicas, como artrites agudas e crônicas, lúpus, vasculites e doenças autoimunes raras. Por ser um hospital universitário, o Huap também atua em ensino, pesquisa e formação de novos médicos, garantindo um cuidado atualizado e de alta qualidade.
Quanto mais cedo essa criança chega ao especialista, melhores são as chances de diagnóstico precoce e controle da doença. Por isso, é fundamental que a rede de saúde funcione de forma integrada, com encaminhamento ágil e comunicação constante entre as unidades básicas, os hospitais e o Huap. Além disso, o paciente reumatológico é, muitas vezes, complexo e multissistêmico, exigindo acompanhamento conjunto com outras especialidades, como nefrologia, cardiologia, dermatologia e hematologia pediátrica e, em alguns casos, acesso rápido à emergência hospitalar. Para isso, precisamos fortalecer uma rede interna de cuidado dentro do próprio hospital, garantindo que esses pacientes tenham acesso contínuo e integrado, inclusive com suporte intensivo quando necessário.
- É possível prevenir o reumatismo em crianças?
Infelizmente, não há uma forma garantida de prevenir o surgimento das doenças reumatológicas, já que a maioria tem origem autoimune ou auto inflamatória. Mas é possível reduzir complicações com diagnóstico precoce, acompanhamento regular e vacinação em dia, evitando infecções que possam agravar o quadro. Além disso, manter uma rotina saudável, com boa alimentação, sono adequado e atividades físicas moderadas, ajuda o sistema imunológico a funcionar melhor.
- O que mais gostariam de destacar sobre o assunto?
Gostaríamos de reforçar que o reumatismo não é uma doença exclusiva de idosos. Crianças e adolescentes também podem apresentar doenças reumatológicas e quanto antes o diagnóstico for feito, maiores as chances de controle e recuperação. A reumatologia pediátrica é uma área que exige olhar atento, raciocínio clínico e trabalho em equipe. No Huap, temos orgulho de oferecer esse atendimento com excelência, integrando assistência, ensino e pesquisa, e defendendo uma rede pública de saúde cada vez mais acessível, integrada e resolutiva para nossas crianças e suas famílias.
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Leonardo Rodrigues Campos é reumatologista pediátrico do Hospital Universitário Antônio Pedro, possui doutorado e mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), MBA em Gestão de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ) e Pós-Graduação em Excelência Operacional - Lean Six Sigma pelo Einstein. É também diretor de publicações da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) e membro da Diretoria da Sociedade de Reumatologia do RJ e membro da Comissão de Reumatologia Pediátrica e Mídias da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Katia Lino Baptista é reumatologista pediátrica do Hospital Universitário Antônio Pedro, possui doutorado e mestrado em Ciências Médicas pela Universidade Federal Fluminense (UFF), é membro da Diretoria (Secretaria) da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), membro da Sociedade de Reumatologia do RJ e membro da Comissão de Doenças Infecciosas da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF) faz parte da Rede Ebserh desde o início de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Paola Caracciolo
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh