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DE OLHO NA PESQUISA
Estudo de caso clínico no Huap-UFF descreve associação inédita entre febre oropouche e vasculite cutânea
Médicos e residentes discutem semanalmente casos clínicos de pacientes
O caso de uma paciente do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), foi a primeira descrição na literatura médica que aponta a associação entre a febre oropouche e vasculite cutânea, que é a inflamação dos vasos sanguíneos da pele. O caso foi estudado por médicos e residentes do Serviço de Reumatologia Pediátrica do hospital e publicado em uma revista internacional de infectologia pediátrica. No quadro De Olho na Pesquisa de dezembro, o médico Leonardo Campos explica um pouco mais dessa relação entre ensino, pesquisa e assistência nessa especialidade.
“A febre oropouche é uma arbovirose transmitida pelo mosquito maruim, que costuma cursar com sintomas como dores articulares e musculares, podendo se confundir com outras doenças, como dengue e chikungunya. Em alguns casos, pode haver também o surgimento de manchas na pele, e geralmente se trata de um quadro agudo”, explica Leonardo Campos, reumatologista pediátrico do Huap-UFF e doutor em Clínica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Qualquer doença infecciosa pode desencadear uma reação imunológica no organismo, levando à produção de anticorpos que podem atacar estruturas do próprio corpo, como os vasos sanguíneos, caracterizando um quadro de vasculite”, acrescenta.
A inflamação dos vasos sanguíneos pode causar manchas na pele, popularmente conhecidas como púrpura. De acordo com o reumatologista, a vasculite associada a quadros infecciosos é, na maioria das vezes, uma vasculite leucocitoclástica, que é caracterizada pela ausência de depósitos de imunoglobulina A (IgA). A vasculite causada por presença de IgA, anteriormente conhecida como púrpura de Henoch-Schönlein, é uma condição muito mais comum em pacientes pediátricos.
O caso publicado foi de uma paciente de dez anos, que já vinha sendo acompanhada no hospital, com diagnóstico de artrite idiopática juvenil (AIJ). “Essa criança, em especial, teve o diagnóstico de oropouche e desenvolveu uma vasculite associada ao vírus, que foi um fenômeno imunológico e foi a primeira descrição na literatura que relaciona a vasculite leucocitoclástica ao vírus oropouche”, afirma Leonardo Campos.
O estudo foi publicado na revista The Pediatric Infectious Disease Journal, periódico oficial da Sociedade Europeia de Doenças Infecciosas Pediátricas, e teve como autores os reumatologistas pediátricos Leonardo Campos e Kátia Lino Baptista, a professora de pediatria Bárbara Neffá, a pediatra Sylmara Pacheco, a residente de patologia Katherine Carvalho, além das residentes de pediatria Ludmilla Xavier, Izabella dos Santos, Yanne Borges, Lahiz Escrivaes e Magali Damitio.
O médico explicou ainda que a paciente fazia uso de medicamentos imunossupressores, o que pode ter favorecido a intensificação da infecção, agravando o quadro de artrite e contribuindo para o surgimento de novas manifestações autoimunes, como a vasculite. Diante disso, foi necessário o tratamento com imunoglobulina venosa, com reversão completa das manifestações clínicas. “Esse caso reforça a importância de lembrar que o vírus da febre oropouche deve fazer parte do diagnóstico diferencial das infecções associadas à púrpura, especialmente em pacientes imunossuprimidos, nos quais quadros atípicos e mais graves podem ocorrer”, destaca.
Sessões clínicas auxiliam na definição de diagnósticos
Na enfermaria pediátrica, médicos e residentes discutem, em sessões clínicas semanais, os casos de pacientes internados que ainda não apresentam um diagnóstico definido. Durante essas discussões, os residentes apresentam os principais achados clínicos e laboratoriais, levantam hipóteses diagnósticas e discutem os pontos que falam a favor e contra cada uma delas. Ao final, em conjunto com os médicos assistentes, é estabelecido um consenso sobre a programação diagnóstica e terapêutica.
“Esse processo é muito rico do ponto de vista acadêmico e assistencial. Ele permite acelerar o fechamento diagnóstico, orientar de forma mais precisa a condução dos casos e, consequentemente, reduzir o tempo de internação hospitalar, unindo ensino, pesquisa e assistência em benefício direto do paciente”, conclui o reumatologista pediátrico.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF) faz parte da Rede Ebserh desde o início de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Reportagem: Paola Caracciolo
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh