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ATENDIMENTO ESPECIALIZADO
Novo ambulatório do HU-UFJF oferece tratamento à base de toxina botulínica para pacientes com distúrbios neurológicos
O neurologista Daniel Sabino de Oliveira atendendo o paciente Thiago Gomes da Silva. Foto: UCR 24.
Juiz de Fora (MG) – O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), oferece o serviço do Ambulatório de Toxina Botulínica para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) desde agosto de 2024. São em média 30 pacientes atendidos por mês, todas as quartas-feiras de manhã, envolvendo casos que vão desde acidente vascular cerebral (AVC) e traumatismo craniano até paralisia cerebral e doenças ligadas à medula espinhal.
O ambulatório tem como foco reabilitar pacientes com quadros de espasticidade, uma condição neurológica que afeta os músculos, principalmente dos membros de pacientes que sofrem acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico ou hemorrágico, traumatismo craniano ou outras lesões cerebrais, pacientes com lesões ou doenças medulares, esclerose múltipla, paralisia cerebral ou doenças neurodegenerativas.
A espasticidade deixa os membros rígidos, endurecidos e com movimentos muito limitados, causando importante comprometimento funcional, dificultando as atividades da vida diária, como caminhar, segurar algum objeto, posicionamento no leito ou na cadeira. A espasticidade também causa dano articular, espasmos involuntários e dor. “O objetivo deste ambulatório é melhorar a espasticidade com aplicações de toxina botulínica, para relaxar os músculos rígidos dos pacientes", explica Daniel Sabino de Oliveira, neurologista responsável pelo ambulatório. "Ampliar o atendimento de pacientes espásticos, através da toxina botulínica, gera benefícios para pacientes e familiares, com reabilitação, alívio na dor, prevenção de deformidades, e também beneficia o SUS, ao reduzir os custos desses tratamentos”, assegura o neurologista.
Segundo levantamento realizado pelo Programa Público de Tratamento do AVC de Joinville, o gasto de uma pessoa para tratar as sequelas de um AVC é, em média, de R$ 134 mil por ano. “Em até seis meses após o AVC, em torno de 40% dos pacientes poderão desenvolver espasticidade. Isso pode quadruplicar o custo dos cuidados no primeiro ano após o AVC em comparação com pacientes que passaram por tratamentos visando aliviar essa sequela”, afirma o médico.
Como funciona a toxina
Apesar de ser mais associada aos procedimentos estéticos, como o famoso botox, a toxina botulínica é utilizada em tratamentos médicos desde a década de 1980. Produzida pela mesma bactéria que causa o botulismo, quando administrada devidamente, a substância enfraquece a ligação entre nervos e músculos, diminuindo as contrações excessivas, aliviando dores e facilitando a mobilidade do paciente.

De acordo com Sabino, a toxina relaxa o músculo espástico e, com isso, facilita os exercícios e alongamentos na fisioterapia, melhora o caminhar, a postura do braço e da perna e facilita a adaptação dos membros nas órteses. Também reduz os espasmos que podem ocorrer às centenas ao longo do dia, interferindo nas atividades e na postura do paciente. Esses espasmos podem acordar a pessoa à noite e causar dor. “Pacientes espásticos têm grande chance de ter contraturas e deformidades articulares importantes, fazendo o paciente perder a função completa do membro. Com aplicação da toxina botulínica antes que esse dano articular aconteça, é possível prevenir essa deformidade. De forma geral, o uso da toxina botulínica facilita a mobilidade, reduz a dor e o desconforto, torna mais fácil fazer a higiene, vestir roupas, usar órteses, reduzindo assim a sobrecarga do cuidador e ainda permitem os pacientes a aproveitarem mais a fisioterapia”. Outra boa notícia é que, embora seja um medicamento de alto custo, ele é disponibilizado gratuitamente pelo SUS.
Thiago Gomes da Silva, 32 anos, está há dois anos fazendo tratamentos no HU-UFJF/Ebserh para reduzir a espasticidade. Ele teve os movimentos do braço esquerdo reduzidos após um acidente em 2022 e foi encaminhado para o Ambulatório de Toxina Botulínica pela equipe de fisioterapia, com quem já se tratava e continua sendo paciente. Thiago conta que só tinha ouvido falar da toxina para procedimentos estéticos. “O tratamento tem me ajudado muito a relaxar os músculos e a trabalhar o fortalecimento deles, para que eu consiga realizar atividades como andar e trabalhar com a mesma facilidade de antes”, relata o paciente.

Equipe Multiprofissional
Junto com a neurologia, o paciente do Ambulatório de Toxina Botulínica também é acompanhado por uma equipe multiprofissional de fisioterapia e terapia ocupacional, para prolongar a ação da toxina aplicada, garantindo a eficácia no tratamento. Enquanto o medicamento faz efeito, é essencial, por exemplo, que a pessoa receba orientações da fisioterapia em relação a quais atividades físicas pode e deve fazer. A fisioterapeuta do HU-UJF/Ebserh Denise Freitas esclarece: “A fisioterapia trabalha mobilidade, alongamento e treino motor para favorecer a funcionalidade da região em que foi aplicada a toxina. Isso é feito para que o paciente desenvolva uma independência maior e apresente uma melhora na qualidade de vida”.
Em situações com um maior comprometimento nos membros superiores, ao ponto de o paciente ter dificuldade em realizar tarefas cotidianas, pode ser necessário um encaminhamento para a equipe de terapia ocupacional. “Através de treino de atividade do dia a dia e com adaptações a objetos próprios do cotidiano, nós conseguimos mobilizar a área do corpo afetada e promover um ganho na amplitude dos movimentos”, descreve a terapeuta ocupacional Camila Fiorin.
Ensino e pesquisa
Em conjunto com a equipe, atuam também os alunos da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Na visão da professora Luciana de Cassia Cardoso, “esta prática tem contribuído para a formação do acadêmico, pois ele tem a oportunidade de atuar em casos que muitas vezes não verá em outros locais”.
A partir de março, estarão abertas as portas para o ambulatório via projeto de extensão. O ingresso era inicialmente voluntário, agora será via bolsa também, por meio de seleção nos dois casos. “Todos saem ganhando, tanto os pacientes, ao apresentarem melhora funcional e de qualidade de vida, quanto os alunos, que saem para o mercado de trabalho mais preparados e seguros. É um desenvolvimento mais aprimorado das habilidades que irão precisar para a fisioterapia neurofuncional”, complementa Luciana.
A acadêmica do 8º período de Fisioterapia da UFJF Bruna Moreira conta da sua vivência junto ao serviço: “Participar da equipe do Ambulatório de Toxina Botulínica está sendo uma experiência essencial em minha formação acadêmica. No ambulatório, aprendemos cada vez mais sobre os pacientes que realizaram esse tipo de procedimento e qual a melhor forma de intervir, com a fisioterapia, a fim de prolongar os efeitos da substância. Fator fundamental para os pacientes, pois garante maior funcionalidade e qualidade de vida a eles. Levarei comigo para a vida todas as experiências e aprendizados frutos do ambulatório e, quando me formar, tenho certeza de que sairei da faculdade com uma base muito maior para realizar atendimentos fisioterapêuticos junto a esse público”, conclui.

Como acessar o serviço
Para ter atendimento no Ambulatório de Toxina Botulínica no HU-UFJF/Ebserh, é necessário um encaminhamento via Unidade Básica de Saúde, ou através da Secretaria de Saúde, quando for de outro município. O paciente será encaminhado inicialmente ao Serviço de Neurologia para avaliação.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Rafael Malagoli (estagiário) sob supervisão de Alessandra Gomes