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HU-UFJF investe R$200 mil em sistema automatizado para realização do teste do suor
A bebê Esther Pinheiro, de 2 meses, veio com os pais da cidade de Careaçu, sul de Minas, para fazer o exame no HU-UFJF. Foto: UCR 24
Juiz de Fora (MG) – O teste do suor agora está totalmente automatizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O exame é considerado padrão ouro no diagnóstico da fibrose cística. Com essa modernização, o hospital amplia sua capacidade de atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Também reforça seu compromisso com a qualidade, a equidade e a inovação no cuidado à saúde.
A implantação foi conduzida pela Unidade de Análises Clínicas e Anatomia Patológica, pela Unidade da Criança e do Adolescente e pelo Centro de Referência em Fibrose Cística, com um investimento de R$ 207.570,84, recursos próprios do hospital.
Segundo a pneumopediatra Marta Duarte, a aquisição representa uma conquista importante: “O primeiro benefício é para o paciente, já que o exame é oferecido gratuitamente pelo SUS, aqui no HU-UFJF. O segundo benefício é que, como existe um padrão na coleta, ele pode ser utilizado para estudar os casos de fibrose cística e para o controle do tratamento”.
O HU faz o teste do suor há mais de 20 anos, mas pelo método antigo. “A modernização garante maior precisão e padronização técnica, segurança analítica e eficiência operacional na realização do exame, assegurando resultados mais confiáveis e ágeis. Para uma doença de alta complexidade como a fibrose cística, o diagnóstico preciso e precoce é essencial”, afirma a chefe da Unidade de Laboratório, Clarissa Cunha.
Além disso, o hospital passa a atender uma parcela maior da população. “Juiz de Fora recebe pessoas de todo o estado que tenham a triagem neonatal, o teste do pezinho, alterados para fibrose cística, de toda a parte sul e sudoeste de Minas. Nós lutamos muito por esse aparelho, é uma conquista importantíssima”, acrescenta a farmacêutica Sônia Maria, que realiza os exames no HU-UFJF.

Para além do diagnóstico, o novo aparelho auxilia também durante o tratamento, como explica a médica Marta Duarte. “Existe um novo medicamento, que se chama modulador da CFTR, ou terapia tripla. Se o paciente tem o exame do teste do suor alto, quando ele começa a tomar este medicamento a gente faz de novo o exame para ver se o organismo está respondendo, porque o teste do suor se normaliza. Então, atualmente, o teste do suor está sendo importante ainda para o controle do tratamento dos pacientes”, ressalta.
O que é o Teste do Suor?
Um dos sintomas da fibrose cística é o suor mais salgado. A pele de quem tem a doença pode ser mais salgada do que a pele das outras pessoas. A partir disso, foi possível desenvolver o teste do suor para o diagnóstico. O teste é feito de forma segura e indolor. Primeiro, um pequeno estímulo é aplicado na pele do braço ou da perna. Depois, o suor é coletado e analisado em laboratório para medir a quantidade de cloreto, que é um sal, presente na transpiração. Por isso o aparelho se chama cloridrômetro.
“O teste do suor é um exame onde se coleta uma quantidade suficiente para fazer a dosagem do íon cloreto, um eletrólito que existe no suor, e está aumentado nos casos de fibrose cística. É um exame que pode ser feito em qualquer faixa etária e está disponível no SUS”, explica Martha. Apesar de não haver impedimentos em relação à idade, a profissional reforça a importância de um diagnóstico precoce: “Toda criança que tem a triagem neonatal positiva para fibrose cística, ou seja, o teste do pezinho positivo para fibrose cística, é encaminhada ao teste do suor”.
Como se sabe, o teste do pezinho é um exame obrigatório para todos os recém-nascidos brasileiros – parte do Programa de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde – e ajuda na triagem de doenças genéticas. Entre elas, a fibrose cística. Entretanto, apesar de ser um exame fundamental, sozinho ele não pode confirmar ou excluir totalmente o diagnóstico para fibrose cística. Ele é capaz apenas de filtrar os bebês que têm risco de ter a doença, não é um diagnóstico fechado. Por isso, o teste do suor deve ser feito para a confirmação ou exclusão da doença.
Esse foi o caso da bebê Esther Passos Pinheiro, de 2 meses. Ela e a família vieram de Careaçu, no sul de Minas Gerais, para fazer o exame no HU-UFJF. Eles viajaram mais de 300 km até Juiz de Fora, trazidos pelo carro da prefeitura da cidade, pois o teste do pezinho da criança foi inconclusivo para o diagnóstico de fibrose cística, sendo necessária a realização do teste do suor.
Como realizar o exame?
O teste pode ser feito em qualquer idade, precisando apenas do encaminhamento médico, como explica a biomédica Clarissa Cunha: “O teste do suor está disponível para pacientes encaminhados pela Prefeitura de Juiz de Fora, com acesso por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), via sistema Pronto. Também é ofertado aos pacientes do Estado de Minas Gerais, como parte do processo de assistência às doenças triadas pelo Programa de Triagem Neonatal (PTN-MG), coordenado pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad/UFMG)”, completa.
A dona Maria de Lourdes Oliveira realizou o teste do suor aos 66 anos, mostrando que nunca é tarde para buscar o diagnóstico. A paciente reclama de um chiado persistente há muitos anos. Ela não fuma e faz tratamento pulmonar no HU. Os profissionais, então, a encaminharam para o exame a fim de investigar a queixa. “Quando eu tinha sete anos, tive pneumonia. Minha mãe disse que eu quase morri. Sete anos depois, repetiu. Quando eu estava com vinte e quatro, de casamento marcado, tive outra pneumonia. Era sempre assim: de sete em sete anos”, relata. Ela agora está em processo de análise.

HU-UFJF é centro de referência
O HU tem um Centro de Referência em Fibrose Cística, que está inserido no Serviço de Referência em Doenças Raras. A fibrose cística – também conhecida como mucoviscidose – é uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões e o sistema digestivo. Ela causa o acúmulo de muco espesso e pegajoso em vários órgãos, levando a problemas respiratórios, dificuldades na digestão e absorção de nutrientes, além de outras complicações. Os sintomas variam e podem incluir tosse, infecções pulmonares reincidentes, incapacidade de ganhar peso, fezes gordurosas e suor mais salgado.
Vale ressaltar que o HU conta com uma equipe multidisciplinar para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos acometidos pela fibrose cística. Os pacientes contam com especialistas, médicos, pneumologista pediátrico, pneumologista adulto, gastropediatra, gastro adulto, geneticista, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, enfermagem, farmacêuticos e bioquímicos. Essa atenção, sob diversos olhares, faz com que o paciente tenha um acompanhamento totalmente personalizado e voltado para essa doença, que é rara e grave. Vale ressaltar que o teste do suor, agora realizado no HU-UFJF, não é feito em laboratórios comuns, só em centros de referência. Em Minas Gerais, temos apenas três: Belo Horizonte, Uberlândia e Juiz de Fora.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Lara Rezek (estagiária) sob supervisão de Alessandra Gomes