Notícias
Gestão
HC-UFTM reduz lotação do Pronto-Socorro sem diminuir atendimentos, agiliza espera por internações em 65% e por exames em 23%
O Hospital de Clínicas da UFTM tem avançado na fase de monitoramento do projeto Lean nas Emergências, executado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Hospital Sírio Libanês. A unidade hospitalar é uma das 20 instituições brasileiras (entre mais de 610 inscritas) selecionadas para fazer parte do quinto ciclo do projeto, iniciado em julho de 2021.
O monitoramento acontece até o final do ano, com foco na manutenção das melhorias alcançadas no Pronto-Socorro (PS) do hospital como resultado da primeira fase. Esta compreendeu um diagnóstico situacional, treinamentos quinzenais com a presença de consultores, redesenho dos processos de trabalho e implantação de planos de ação voltados para 56 oportunidades de melhoria identificadas pela equipe local.
A gestão proposta pelo Lean objetiva eliminar processos que consomem tempo sem agregar valor ao atendimento do paciente, como esperas ocasionadas pela lentidão na rotatividade de leitos de enfermaria, movimentações desnecessárias das equipes (combatidas com a reordenação de rotas e segmentação física da alocação de pacientes conforme a gravidade dos casos) e transportes repetitivos de materiais (solucionados com a dinamização do controle de estoques).
Como resultado das mudanças adotadas, a taxa de ocupação do PS foi adequada ao número de leitos cadastrados junto ao Sistema Único de Saúde (22), sem diminuir a quantidade de atendimentos à população (média de 24 admissões/dia, antes e após o projeto). Em agosto de 2021, a taxa de ocupação era de em média 181%, ocasionando desconforto para o paciente e prejudicando as condições de trabalho das equipes. Ao fim de março de 2022, a taxa média de ocupação estava em 105% (redução de 42% na lotação, mantendo constância no número de atendimentos).
O tempo de espera por internação no Pronto-Socorro, antes do Lean, era em média 5,2 horas. Agora é em média 1,8 hora (redução de 65,3%). Já a espera por exames na urgência e emergência (laboratoriais, tomografias, ultrassom, raios X) diminuiu em 23,5%, de em média 119 minutos para 91 minutos.
Já os pacientes em ventilação mecânica no PS eram em média nove por dia, antes da mudança nos processos de trabalho. Esse número caiu para quatro ao dia (55,5% a menos), representando uma métrica de conformidade importante, pois esse perfil de paciente deve ser priorizado na transferência para as Unidades de Terapia Intensiva. No âmbito da segurança do paciente, registra-se ainda uma redução de 91% na ocorrência de eventos adversos graves e de 62% nas infecções relacionadas à assistência em saúde (Iras).
De acordo com o chefe da Unidade de Urgência e Emergência do HC, Wanderson Borges Tomaz, os indicadores acima enumerados são mensurados duas vezes ao dia e inseridos em um sistema acompanhado em tempo real pela equipe do projeto Lean em São Paulo. “Os consultores continuam prestando mentorias, agora à distância, para a equipe do HC-UFTM, durante a fase de monitoramento. É preciso destacar que o projeto não garante que o hospital nunca terá lotação acima de 100% no PS, mas sim que o hospital tem condições de acionar medidas para solucionar os episódios de demanda aumentada”, explica o profissional.
Tomaz cita como exemplo o último dia 28 de março. O Pronto-Socorro do HC, por alta demanda, chegou a ter 31 pacientes, o que levou à necessidade de utilizar macas nos corredores. O plano de capacidade plena adotado pela urgência e emergência do hospital, entretanto, agora conta com gatilhos para ativar ações nas enfermarias do HC (fora do Pronto-Socorro), conforme diferentes níveis de superlotação. Tais medidas incluem a agilização no preparo de leitos vagos e a liberação de leitos ocupados por pacientes com alta. Graças a tais mecanismos, no dia 29 de março o PS já havia retornado à rotina dentro da capacidade (tinha 14 pacientes, no período da tarde).
Um Comitê Avançado do Serviço de Urgência foi criado para gerir o plano de capacidade plena do PS. Consequentemente, o processo de alta nas enfermarias se tornou mais célere, porque a logística necessária para liberação dos pacientes passou a ser organizada desde o momento da admissão. Além disso, estruturou-se um Comitê de Longa Permanência para as unidades de internação do HC, que já resulta na redução de cinco dias na média de permanência na Unidade de Clínica Médica, otimizando o giro de leitos e dobrando o número de vagas disponibilizadas diariamente para receber pacientes do PS.
“Antes eram trabalhadas após a alta pendências como prescrição de dietas, verificação da necessidade de fisioterapia, trâmites relacionados ao transporte para os municípios de origem e preparo das famílias para fornecer cuidados como banho e preparo de alimentação adaptada às necessidades dos convalescentes. Isso mantinha os leitos ocupados por mais tempo. Hoje, a alta é planejada desde o início do tratamento, esses trâmites são resolvidos durante a internação. Mais agilidade na liberação dos leitos significa maior potencial de atendimento nas enfermarias, desafogando o PS”, Tomaz detalha.
A comunicação entre as equipes também foi aperfeiçoada, tendo sido adotados painéis físicos que orientam a priorização dos atendimentos e tarefas (quadros Kanban) e instituídas reuniões duas vezes ao dia para passagem de um check list de afazeres (chamadas huddles, e caracterizadas pela rapidez e foco na identificação e solução problemas pontuais).
Para a médica Karoline Bento Ribeiro, as medidas de logística e comunicação adotadas pelo hospital no que diz respeito à urgência e emergência tornou o atendimento aos pacientes mais seguro e de maior qualidade. “O ambiente está mais organizado e o trabalho tem seguido uma ordenação que favorece o desempenho da assistência. O fluxo é tão mais ágil que não parece que está tendo o mesmo volume de trabalho, embora ele não tenha reduzido quantitativamente. A mudança foi qualitativa”, analisa.
Ribeiro acredita que os huddles ajudam a eliminar ruídos entre profissionais e estimulam a empatia a partir do momento em que todos tomam conhecimento das necessidades, resultados e dificuldades de cada área multiprofissional que compõe o PS. “Outro destaque positivo é a presença de um profissional que assume a função de fluxista, ou seja, organizador das pendências de exames do dia, consertos de equipamentos, etc., otimizando o tempo dos profissionais assistenciais, que passam a focar mais fortemente em atender os pacientes e atuar como preceptores dos residentes. Até o ensino é beneficiado”, retrata.
Segundo a gerente de Atenção à Saúde do HC, Andreia Duarte de Resende, a reorganização do serviço, sem demandar investimentos ou contratações, possibilitou ao hospital projetar um avanço no perfil assistencial oferecido no Pronto-Socorro. Uma ala com cinco leitos (enfermaria 100) foi deslocada para outro ponto dentro do próprio hospital, mais isolado e com melhores condições de ventilação mecânica para pacientes graves: uma nova UTI geral tipo 2, recentemente habilitada.
Resende esclarece que essa migração significa um incremento de qualidade na assistência prestada ao paciente. A área anteriormente ocupada pelos cinco leitos vai centralizar o atendimento de acometidos por acidente vascular cerebral (AVC), sem redução no número de pontos de cuidado do PS. “A reserva desse espaço não prejudica o potencial de atendimento do Pronto-Socorro. A unidade continua com 22 leitos ativos. O paciente com AVC, que hoje já fica no PS, passará a contar com um local mais adequado. Isso vai proporcionar uma melhor assistência, desempenhada numa estrutura melhor também para o ensino, e vai viabilizar uma fonte adicional de recursos para o hospital no âmbito da política do Valora Minas, do governo do estado”, adianta a gerente.
O Pronto-Socorro Adulto do Hospital de Clínicas da UFTM, com atendimento 24h, é referência em urgência e emergência para a macrorregião Triângulo Sul de Minas Gerais, composta por 27 municípios. Os pacientes são encaminhados pelo complexo regulador de Uberaba ou trazidos pelas concessionárias de saúde e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O acesso é direto (porta aberta) para urgências em onco-hematologia, pós-operatórios recentes, pacientes com complicações decorrentes do HIV, urgência oftalmológica, acidente com animais peçonhentos e violência sexual até 72h.
Leia também
- HC-UFTM participa de projeto do Ministério da Saúde que aprimora serviços de emergência
- Sem diminuir atendimentos, HC-UFTM reduz em 42% a taxa de ocupação no PS e em 61,5% o tempo de espera por internação
- Sem diminuir atendimentos, HC-UFTM reduz a taxa de ocupação no PS e a espera por internação e exames
Unidade de Comunicação Social HC-UFTM