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HUMANIZAÇÃO
Arte e afeto: palhaçaria transforma o cuidado no HC-UFMG
Belo Horizonte (MG) – No Dia do Palhaço, celebrado na próxima quarta-feira (10), o Hospital das Clínicas da UFMG celebra também uma história de 12 anos de riso que alivia a dor. Desde 2012, os palhaços do Instituto HaHaHa percorrem os corredores da instituição levando afeto, arte e leveza para pacientes, acompanhantes e trabalhadores.
Uma parceria centrada no humor e na sua importância no cuidado e na humanização. O artigo intitulado “Eficácia da terapia do riso em sintomas psicológicos em pessoas com câncer”, publicado no ano passado na revista “Psycho‑Oncology”, periódico oficial da IPOS – International Psycho-Oncology Society, organização mundial dedicada à integração entre saúde mental, comportamento humano e oncologia, concluiu que a terapia do riso melhora o estresse, a ansiedade, a depressão, a dor e a fadiga em pacientes com câncer.
A Gestora de Execução Artística do Instituto HaHaHa, Gyuliana Duarte, corrobora com o estudo. Segundo ela, o riso estimula capacidades criativas e gera impactos positivos nas dimensões física, psicológica e emocional de crianças e adolescentes hospitalizados. “A arte da palhaçaria, por meio do encontro, desperta o estado de alegria, amplia a percepção da realidade e cria novos sentidos para lidar com situações adversas”, disse.
O humor também fortalece vínculos, reduz tensões e favorece uma comunicação mais acolhedora entre pacientes, familiares e profissionais de saúde. “Ele humaniza porque aproxima as pessoas, amplia a escuta e contribui para transformar o ambiente hospitalar em um espaço mais leve, afetuoso e respeitoso, atuando como um elemento complementar e valioso ao tratamento médico”, completou.
A parceria entre o Instituto Hahaha e o Hospital das Clínicas teve início em 2012, no mesmo ano de criação da organização como OSC (Organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos). Desde 2007, porém, a trupe já atuava na instituição como Doutores da Alegria.
Por meio de visitas semanais, os artistas colocam o riso a serviço da vida, garantindo o acesso à cultura, arte, lazer e cidadania para crianças, adolescentes, familiares, profissionais de saúde, técnicos e à comunidade hospitalar, gerando impactos sociais e melhoria nas condições de saúde.
“As intervenções artísticas dos palhaços nos hospitais não são espetáculos pré-formatados. Cada encontro é único e a dramaturgia se constrói a partir da relação que se estabelece entre a dupla de palhaços e aqueles com quem interagem, crianças, adolescentes, familiares e profissionais da saúde”, explica Gyuliana.
Os resultados observados são significativos. Muitos pacientes passam a aceitar melhor o ambiente hospitalar, a se alimentar de forma mais regular, a colabor com os tratamentos e, em alguns casos, no dia das visitas, conseguem até reduzir o uso de medicamentos para dor, evidenciando o impacto positivo da intervenção no bem-estar físico e emocional.
Como funciona
Antes de iniciarem as visitas nos quartos e enfermarias, os palhaços passam pelas alas de enfermagem para se informar sobre o número de crianças e adolescentes internados naquele setor, bem como sobre casos de isolamento de contato e/ou aéreo. Em seguida, os profissionais de saúde compartilham observações sobre pacientes específicos, especialmente no que se refere ao aspecto emocional e comportamental. Essas informações permitem que os artistas ajustem suas interações de forma adequada, utilizando o jogo e a brincadeira para colaborar positivamente com o bem-estar dos pacientes e, sempre que possível, contribuir para o processo de tratamento.
Os artistas do Instituto Hahaha são profissionais das Artes Cênicas dedicados à pesquisa da palhaçaria. Cada palhaço traz sua própria bagagem, repertório e técnicas, que são aplicadas de maneira sensível e criativa, sempre respeitando a improvisação que guia a construção de cada momento.
“É emocionante e profundamente gratificante estar com essas crianças. Em cada visita, eu levo alegria, mas também recebo muito amor. Mesmo diante de momentos difíceis, elas encontram motivos para sorrir e esses sorrisos iluminam meu coração e me lembram do verdadeiro sentido da vida”, afirma a artista Roniza Santiago, intérprete da Palhaça Simidão.
Já o Palhaço Risoto, interpretado pelo artista Francis Severino, afirma que “trabalhar com crianças em um hospital público é uma honra, uma sorte que a vida me deu e me cobra diariamente”. “Ser palhaço aqui é ter responsabilidade de poder entrar em um espaço onde pessoas estão enfrentando sofrimentos e faltas. Elas estão a flor da pele. Essa verdade urgente traz verdade à minha profissão”, disse.
Relato
“São muitas histórias marcantes vividas no Hospital das Clínicas pelos palhaços do Hahaha, mas vou compartilhar uma que aconteceu no início do nosso trabalho e que simboliza muito o impacto do nosso trabalho. Na época, era eu, Dra. Xuleta (Gyuliana Duarte) e Dr. Matias (Assis Benevenuto). Após atender os pacientes da Ala Leste da pediatria, fomos abordados pela Cida, que trabalha na Assistência Social. Ela nos pediu para passar em sua salinha depois do trabalho, porque havia chegado um presente para nós.
Quando chegamos, ainda vestidos como médicos-palhaços, ela nos entregou uma caixa estampada com uma chinesinha tocando acordeon. Explicou que a mãe de um paciente havia enviado para nós. No caminho para nosso camarim, abri a caixa e encontrei um acordeon e, debaixo dele, para nossa surpresa, uma foto do JV.
JV era uma criança incrível: alegre, carismático, apaixonado por música e o galanteador da Ala Leste. Todas as pacientes, enfermeiras e médicas eram tratadas como rainhas por ele. Sempre que nos encontrávamos, a enfermaria transformava-se em um verdadeiro salão de baile. Ele adorava tocar nossos instrumentos e até formava trios sertanejos improvisados com a gente.
Ao olhar para aquela foto dele sorrindo, fiquei profundamente emocionada. Junto da foto, havia uma carta da mãe, explicando que um dos últimos desejos de JV em vida era que o acordeon que ele tanto amava continuasse a alegrar outras crianças e que agora ele nos pertencia, para que pudéssemos levar sua alegria adiante.
Essa história simboliza, de forma única, o impacto do nosso trabalho: a música, o riso e a presença dos palhaços no hospital transformam vidas, e o carinho que recebemos de volta é inesquecível.”
Gyuliana Duarte - Gestora de Execução Artística do Instituto HaHaHa
Sobre a Ebserh
O HC-UFMG faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação e revisão: Luna Normand
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