Notícias
Parkinson: Dos primeiros sinais ao tratamento
O Dia Mundial da Conscientização da Doença de Parkinson
Goiânia (GO) – Se uma pessoa está levando muito mais tempo para fazer atividades que antes realizava com agilidade, é melhor ficar atento. A lentidão dos movimentos é o principal sintoma da Doença de Parkinson (DP). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca de 4 milhões de pessoas no mundo têm a patologia, o que representa 1% da população mundial a partir dos 65 anos. No Brasil, há mais de 200 mil casos registrados. Para ampliar o diálogo, combater o preconceito e promover a inclusão, o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson foi estabelecido pela OMS em 11 de abril, no ano de 1998.
Sinais de alerta
Segundo o neurologista Delson José da Silva, chefe da Unidade do Sistema Nervoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), gerenciado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), a DP é uma condição neurodegenerativa, lentamente progressiva, que limita a funcionalidade de um indivíduo. “Os sintomas principais são a bradicinesia, ou seja, a lentidão dos movimentos, além de tremores (principalmente tremor de repouso), rigidez das articulações e alterações do equilíbrio, o que chamamos de anormalidades posturais”, explica. Apesar de ser predominante entre idosos, a DP também pode afetar pessoas abaixo dos 50 anos.
Ainda de acordo com o médico, a patologia evolui em estágios e costuma começar muito antes de o primeiro sintoma ser identificado. “A perda de neurônios pode acontecer entre dez e 15 anos antes do início da doença em si. A pessoa pode ter perda de olfato, o que chamamos de hiposmia ou anosmia. Também pode experienciar constipação intestinal crônica e alteração do sono, ou seja, Transtorno do Comportamento do sono REM, quando o indivíduo tem sonhos e pesadelos vívidos, ou até mesmo alterações motoras, levando-o a chutar e bater. Com isso, depressão e dor também são sintomas que podem estar presentes na fase pré-clínica da doença”, assinala.
Depois dos sintomas pré-clínicos, os próximos estágios são: a fase inicial; a fase moderada, quando os sintomas já levam o paciente a certo nível de incapacidade; e a fase avançada, quando há necessidade de tratamento, como a combinação de drogas e outros procedimentos. A progressão entre esses estágios é variável e desigual entre os pacientes.
Diagnóstico
Ainda não há exames específicos para detectar Parkinson. O diagnóstico é clínico, com avaliação neurológica em consultório, que analisa, essencialmente, os sintomas. “Exames de imagem, como ressonância magnética, são de natureza complementar”, aponta o neurologista.
“O diagnóstico é eminentemente clínico. A bradicinesia é um sintoma considerado obrigatório para confirmar a Doença de Parkinson, podendo ou não estar acompanhado de tremores, e podendo ou não estar acompanhado de rigidez, mas um desses dois sintomas também deve estar presente. Em fases mais avançadas, o equilíbrio acaba ficando mais comprometido, o que também é um sintoma observado nesses casos”, completa.
O diagnóstico precoce permite a identificação da doença em seu estágio inicial, e é considerado um dos principais fatores para uma boa evolução do tratamento. “A importância do diagnóstico precoce se deve ao fato de que o paciente, sabendo da situação em que se encontra, pode procurar o tratamento correto, e quanto mais cedo se inicia o tratamento, mais chances o paciente tem de alcançar uma melhor qualidade de vida, evoluindo melhor ao longo do tempo com a doença”, destaca Delson.
Tratamento e prevenção
Atualmente, os tratamentos disponíveis para DP são a reposição de dopamina – um neurotransmissor do sistema nervoso, responsável pela motricidade e pela retenção de movimentos involuntários – e a estimulação cerebral profunda, que se trata de um procedimento cirúrgico.
“Em relação à reposição de dopamina, a perda progressiva dos neurônios que produzem dopamina precisa ser reposta, e é possível fazer isso através de medicações que estimulam a ação dopaminérgica ou que promovem a reposição de dopamina”, observa o médico, que também acredita na importância da abordagem multidisciplinar. “A fisioterapia é importante para melhorar a mobilidade e o equilíbrio, por exemplo. Já a fonoaudiologia, para tratar a disfagia, que é uma alteração na deglutição, ou seja, na capacidade de engolir, além de problemas com alterações de fala, que é um problema enfrentado pela maioria dos pacientes. Na fase avançada, o apoio de cuidadores é importante, assim como da enfermagem. Acompanhamento nutricional também é essencial”, saliente.
Já a opção cirúrgica é denominada “estimulação cerebral profunda” e consiste no implante de eletrodos em pontos específicos do corpo. Depois disso, esses eletrodos são conectados a um neuroestimulador pequeno, que possui própria bateria acoplada e costuma ser implantado no peito ou na região abdominal. Quando o sistema é ligado, a estimulação elétrica age nos neurônios, aliviando sintomas.
“O procedimento cirúrgico está reservado para casos avançados em que a medicação não responde bem ao tratamento, ou em que os remédios causam efeitos colaterais, mesmo que próprios da doença, para o paciente”, esclarece o médico. “Há muitas medicações envolvidas, por isso, o paciente pode apresentar sensibilização aos remédios. Também tem a possibilidade de acontecer a falta de efeito adequado por parte deles”, acrescenta.
A comunidade médica vem estudando formas de interromper ou prevenir a DP, contudo, ainda não existem medicamentos que alterem o curso da doença. “O que temos visto em trabalhos e pesquisas é que a atividade física é o principal fator de prevenção e, até mesmo, que pode estar relacionada à diminuição da progressão da doença”, compartilha o neurologista. “Contar com uma dieta adequada também é importante, sobretudo para cuidar da saúde do intestino, ingerindo alimentos ricos em fibra e frutas laxantes”, conclui.
Atendimento no HC-UFG
O HC-UFG conta com o Centro de Referência de Parkinson e Transtornos de Movimento (CERMOV), criado em 1996, que oferece tratamento especializado a usuários do SUS. Lá, é possível encontrar atendimento no Ambulatório de Aplicação de Toxina Botulínica e no Ambulatório de Cirurgia de Doença de Parkinson e Transtornos do Movimento.
A unidade oferece acompanhamento, tratamento medicamentoso para reposição de dopamina e é o único lugar da rede pública do Centro-Oeste a oferecer o procedimento de estimulação cerebral profunda gratuitamente. Além disso, o hospital está envolvido em trabalhos internacionais de pesquisa genética sobre os fatores ambientais que podem causar a Doença de Parkinson.
Rede Ebserh
O HC-UFG faz parte da Rede Ebserh desde dezembro de 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.