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Projeto Florescer: Cultivando humanização e cuidados em hospital da Rede Ebserh no Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ) – Desde setembro de 2023, o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), cultiva uma iniciativa transformadora conhecida como Projeto Florescer. Esta ação multidisciplinar envolve mais de 100 profissionais e estudantes dedicados a infundir com humanização e compaixão nos cuidados de todos os pacientes, assim como dos colaboradores. O projeto germina da colaboração entre as comissões de Humanização e de Cuidados Paliativos da instituição, brotando como resposta à necessidade de tratar a complexidade humana nos momentos mais delicados da vida hospitalar.
O sonho que plantou a semente do Projeto Florescer surgiu com a enfermeira Luana Andrieto, uma das suas idealizadoras e membro. Inspirada por suas experiências anteriores em projetos de extensão durante a graduação, Luana viu no ambiente acadêmico e assistencial do HUGG o solo fértil para cultivar uma prática que une a ciência à arte do cuidar. "A extensão sempre foi um caminho natural para mim, uma maneira de integrar ludicidade e interação para aliviar os efeitos muitas vezes duros da internação", explica. Assim, o que começou como um sonho individual floresceu em um projeto robusto que agora envolve toda a comunidade acadêmica e médica do hospital, criando um ecossistema de cuidado e aprendizado contínuo.
O Projeto Florescer tem se destacado pela diversidade de atividades e pela maneira cuidadosa com que aborda as diferentes necessidades dos pacientes. Entre as iniciativas mais marcantes está o projeto de revitalização do jardim interno do hospital, que se transformará em um espaço de troca e convívio entre pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde. "Sabemos que o contato com a natureza tem um efeito positivo para a saúde física e mental", destaca a psicóloga e coordenadora atual do projeto, Priscila Cassemiro. Ela acredita que o jardim tem potencial para ser um refúgio essencial dentro do hospital, especialmente para os pacientes em tratamento prolongado ou cuidados paliativos, que podem encontrar ali um espaço acolhedor fora do leito.
Outra iniciativa que floresceu é o prontuário afetivo, que, ao invés de focar em dados clínicos, valoriza as histórias, gostos e preferências dos pacientes. "O momento de preenchimento é muito apreciado pelos pacientes, pois permite que eles sejam vistos como indivíduos completos, com uma história única e pessoas que os amam", conta Priscila. Um exemplo é o caso do senhor Antônio, que pôde compartilhar sua paixão por viagens e sua vontade de voltar para sua terra natal, conectando-se com a equipe, que agora o vê além do diagnóstico.
A dramatização para a comunicação de notícias difíceis é outra abordagem-chave, que busca preparar profissionais e estudantes para lidar com momentos delicados na relação com os pacientes. Desenvolvida em parceria com a Liga Acadêmica de Cuidados Paliativos, da Escola de Medicina e Cirurgia (EMC), essa dramatização permite discutir e aprimorar estratégias para comunicar más notícias de forma sensível e compassiva. "É uma oportunidade excelente para fomentar discussões não apenas sobre a comunicação em si, mas também sobre os temas delicados da prática com pacientes e famílias", afirma Luana.
Já a leitura solidária oferece aos pacientes a chance de escapar para mundos de imaginação, suavizando a carga emocional da internação. "O projeto tem tido uma excelente recepção dos pacientes adultos, e agora também alcança crianças e adolescentes, ajudando a aliviar as vivências traumáticas da hospitalização", completa a coordenadora.
Além disso, a roda de conversa sobre a morte e o morrer é uma abordagem fundamental para os profissionais de saúde, fornecendo um espaço seguro para abordar as experiências marcantes dos cuidados paliativos e compartilhar vivências entre colegas. Isso tem fortalecido as equipes, oferecendo uma rede de apoio e compreensão mútua em um campo de atuação tão desafiador.
A música no hospital também frutifica, envolvendo alunos de música e profissionais que oferecem momentos de arte e alegria nos ambulatórios e enfermarias. "A música proporciona emoção, prazer e ludicidade, trazendo um sopro de vida para o hospital", diz Priscila. O impacto dessas práticas tem sido significativo não apenas para os pacientes, mas também para os profissionais, que são lembrados de que o hospital pode ser um lugar de esperança e celebração da vida.
O sucesso do Projeto brota da colaboração entre diferentes profissionais. "Cada um ajuda como pode, independente da formação", diz Luana Andrieto. Ela destaca o exemplo de Ronaldo Augusto de Oliveira Nacarati, um psicólogo que atua no setor administrativo do HUGG e lê para os pacientes após o expediente ou mesmo nos dias de folga. "O primeiro paciente para quem Ronaldo leu quase não recebia visitas e, a pedido do paciente, ele foi ler para ele num feriado", relata Luana. Essa atitude ajudou a trazer conforto emocional e um senso de conexão que marcou a experiência do paciente.
Um Futuro Compassivo
O Projeto Florescer aponta para um futuro mais compassivo nos cuidados e na humanização do atendimento hospitalar. Através de suas práticas diversificadas e do engajamento da comunidade acadêmica, ele está cultivando um legado que resgata a essência da Medicina como arte de cuidar. Priscila Cassemiro resume bem esse espírito ao afirmar que o projeto "transforma o paciente de um número no leito para um ser humano completo, que quer viver e ser tratado com dignidade."
Ao focar na compaixão, na compreensão e no respeito à individualidade, o Projeto Florescer destaca-se como um modelo de abordagem humanizadora. Através de pequenas ações como a leitura, a música, a dramatização e o jardim, ele reforça, entre outros benefícios, que, mesmo diante da mortalidade, cada momento pode ser vivido plenamente com dignidade, compaixão e, acima de tudo, esperança.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio) faz parte da Rede Ebserh desde dezembro de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Felipe Monteiro, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh