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SAÚDE PÚBLICA
Tuberculose: Um problema de saúde pública que não deve ser ignorado
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 10,8 milhões de pessoas foram acometidas pela doença em todo o mundo, no último ano. Imagem ilustrativa: freepik
Brasília (DF) – Doença infectocontagiosa causada pela micobactéria Mycobacterium tuberculosis (MTB), a tuberculose ainda é um sério problema de saúde pública. Os sintomas mais comuns são tosse com ou sem escarro, perda de peso, febre e sudorese noturna. A doença afeta prioritariamente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza tratamento por meio da rede pública de saúde. Os hospitais universitários administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), possuem serviços de referência e especialistas para o atendimento aos usuários do SUS.
O dia 24 de março celebra o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 10,8 milhões de pessoas foram acometidas pela doença em todo o mundo, no último ano. “No Brasil, além do alto número de casos, a tuberculose afeta principalmente populações vulneráveis, como pessoas em situação de rua, presidiários e pacientes com HIV”, disse o médico infectologista Carlos Alberio, coordenador do Ambulatório de Tuberculose Multirresistente do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), integrante do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA).
A transmissão da tuberculose acontece por via respiratória, pela tosse, fala ou espirros de um paciente infectado. A pneumologista do Ambulatório de Tuberculose do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), Gabrielle Souza, esclarece que a prevenção da doença envolve medidas de higiene respiratória, tratamento precoce dos casos positivos e boas condições de saúde e sociais da população, já que o adoecimento por tuberculose está diretamente relacionado ao grau de imunidade.
“A tuberculose é uma doença mais prevalente em países pobres e por isso considerada negligenciada”, afirma a pneumologista. Ela destaca que, desde a década de 90, a OMS lançou uma estratégia de enfrentamento com objetivos que são renovados com certa periodicidade. “Temos estudos em andamento com novas drogas para tratamento e novos métodos diagnósticos, mas ainda estamos longe do ideal quando falamos de inovação no âmbito da tuberculose”, acrescenta Gabrielle.
Prevenção e tratamento
No Brasil, a vacina BCG é obrigatória para menores de um ano, pois protege contra as formas graves da doença na infância. A enfermeira do Programa de Controle da Tuberculose (PCT) do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes) e pesquisadora do Laboratório de Epidemiologia da Ufes, Geisa Fregona Carlesso, evidencia que a melhor forma de prevenir a transmissão da doença é fazer o diagnóstico precoce e iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível.
Geisa Carlesso informa que o Hucam-Ufes é referência também no tratamento da doença para os casos em que se verifica a resistência bacteriana do MTB, diagnóstico das formas extrapulmonares, tratamentos especiais de tuberculose e casos micobacterioses pulmonares. Ela alerta que, caso a pessoa apresente sintomas de tuberculose, é fundamental procurar a unidade de saúde mais próxima da sua residência para avaliação e realização de exames.
A enfermeira Geisa ressalta que hoje existe um arsenal importante para o diagnóstico e tratamento da doença. Além disso, a incorporação pelo SUS de métodos baseados em biologia molecular para identificação de cepas de MTB e padrão de resistência, bem como testes substitutivos ao teste tuberculínico, para diagnóstico de infecção tuberculosa. Essas inovações têm contribuído e dado celeridade ao diagnóstico da doença e facilitado medidas preventivas para se evitar o adoecimento.
“Além disso, a partir de deste ano, 2025, também contamos com tratamento encurtado para Tuberculose Multidrogarresistente (TBMDR), que passará de 18 para seis meses de tratamento com medicações orais, certamente um avanço histórico no tratamento da TBMDR”, disse a enfermeira.
A pneumologista Gabrielle Souza complementa que o tratamento padrão da tuberculose, hoje, é composto por quatro medicações em comprimido que são fornecidas gratuitamente pelo SUS, e que o tempo total de tratamento é de seis meses para as formas não complicadas da doença.
“Para que a cura seja alcançada, é essencial que o paciente siga o tratamento até o fim”, explica o médico Carlos Alberio (CHU-UFPA). Segundo ele, isso evita a recaída da doença e impede que a tuberculose se torne resistente aos medicamentos. “A interrupção do tratamento pode levar a formas mais graves e de difícil controle, colocando a vida do paciente e de outras pessoas em risco. O paciente só é considerado curado após completar o esquema medicamentoso e apresentar exames negativos para a doença”, completa.
Desafios e conquistas na luta contra a doença
Para o médico Carlos Alberio, os desafios para erradicar a tuberculose estão ligados não apenas à saúde, mas também à fatores socioeconômicos. Segundo ele, a falta de acesso ao diagnóstico precoce, as condições precárias de moradia e a baixa adesão ao tratamento ainda são barreiras a serem superadas. Ele aponta avanços na luta contra a doença: novos métodos de diagnóstico, como testes moleculares rápidos; desenvolvimento de novos medicamentos e esquemas de tratamento, reduzindo o tempo necessário para a cura; aprimoramento de programas de saúde, ampliando o acesso ao diagnóstico e ao tratamento; e capacitação de profissionais de saúde, garantindo um atendimento mais eficiente.
O médico explica que, apesar dos avanços, a tuberculose ainda é vista com preconceito por parte da sociedade: “Por ser uma doença transmissível e, em alguns casos, deixar sequelas incapacitantes, muitas pessoas acometidas enfrentam discriminação no ambiente de trabalho e no convívio social. Essa estigmatização pode dificultar o diagnóstico e afastar os pacientes dos serviços de saúde, comprometendo o controle da doença”.
Carlos Alberio também destaca que o suporte da família é fundamental para que o paciente consiga completar o tratamento: “Muitos portadores da doença precisam se afastar temporariamente do trabalho, o que pode impactar sua renda e qualidade de vida. Por isso, além do suporte dos profissionais de saúde, é essencial que familiares ofereçam apoio emocional e prático para garantir que o paciente não abandone o tratamento”.
Saiba os mitos e verdades relacionados à tuberculose nesta matéria.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Rosenato Barreto, com revisão de Andreia Pires
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh