Sustentabilidade e gestão ambiental: Hospitais atuam para a redução de resíduos

Brasília (DF) – O Junho Verde é uma campanha nacional que visa conscientizar sobre a importância da conservação dos ecossistemas naturais, da proteção de todos os seres vivos e do controle da poluição e da degradação dos recursos naturais para as presentes e futuras gerações. A campanha também celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho — uma data fundamental para promover a conscientização e estimular ações voltadas à preservação dos recursos naturais do planeta. 

Hospitais universitários federais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) desenvolvem ações voltadas à proteção ambiental e contribuem para reduzir os impactos causados pela geração de resíduos. Quando descartados de forma inadequada, os resíduos hospitalares podem provocar danos ao meio ambiente.  

Referência na gestão de resíduos 

O Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR), é hoje uma referência nacional em gestão de resíduos de serviços de saúde. A instituição implementa, desde 2003, o Programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), que alia cuidado ambiental, proteção à saúde pública e redução de custos. 

Segundo Lídia Lima, presidente da Comissão de Gerenciamento de Resíduos (CGR) do CHC-UFPR, a preocupação do Hospital com a gestão de resíduos não é recente. Em 2002, o Serviço de Análises Clínicas iniciou um projeto-piloto que obteve resultados expressivos logo no primeiro ano: redução dos resíduos infectantes e aumento do descarte correto de resíduos comuns e recicláveis. “O sucesso da iniciativa levou, em 2003, à criação da CGR, um grupo multiprofissional que passou a conduzir as ações ambientais em toda a instituição”, disse. 

Lídia Lima explicou que, para enfrentar desafios, entraves operacionais, a resistência de alguns colaboradores às mudanças, o CHC-UFPR apostou em treinamentos, palestras, manuais e até peças teatrais. “Buscamos engajar desde os profissionais da saúde até as crianças do Centro de Educação Infantil (CEI) do Hospital. Mais de duas mil pessoas foram capacitadas em práticas seguras de descarte e segregação dos resíduos, a cada ano, no início do projeto”, completou. 

Entre 2006 e 2009, o CHC reduziu em 65% a quantidade de resíduos infectantes e perfurocortantes, saindo de 38 para 13 toneladas por mês. A redução se manteve estável até 2015, aumentando gradativamente para 16,7 toneladas por mês em 2019, com a entrada de mais empregados e novos procedimentos. “Em paralelo, os resíduos recicláveis passaram a ser direcionados a associações de catadores, fortalecendo o trabalho de reciclagem e gerando impacto social positivo”, destacou Lídia Lima. 

Outra ação no CHC, foi a substituição da caldeira movida a óleo de xisto por sistemas centrais de aquecimento de água a gás natural, além da troca de todas as lâmpadas por modelos LED e da atualização das geladeiras e sistemas de refrigeração para equipamentos mais eficientes energeticamente. “O CHC obteve uma redução na emissão de gases de efeito estufa de 1,3 mil toneladas de CO₂ equivalente (CO₂eq) entre 2018 e 2023”, enfatizou Lídia Lima. Esse valor corresponde, aproximadamente, à quantidade de CO₂ que seria absorvida por 9 mil árvores durante um ano, ocupando uma área equivalente a 39 campos de futebol. 

Resíduos orgânicos transformados em compostagem 

No Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), os resíduos orgânicos, provenientes do preparo de refeições, são destinados para a coleta seletiva da Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) de Florianópolis (SC). Tiago Andrade Borges Santos, biólogo e fiscal técnico do Serviço de Coleta de Resíduos do HU-UFSC, explicou que esses resíduos eram encaminhados para um projeto de compostagem desenvolvido pela UFSC que foi descontinuado. A partir disso, os resíduos orgânicos do HU, estavam sendo destinados, juntamente com os rejeitos, para o aterro sanitário via coleta convencional da Comcap. 

Atualmente, a Companhia disponibiliza roteiros de coleta flexível de orgânicos. Tiago Santos informou que essa modalidade de coleta foi iniciada no HU-UFSC em janeiro de 2025, num projeto-piloto que abrange apenas os resíduos provenientes da produção de refeições do Hospital. O plano é expandir a coleta para os resíduos de outras áreas, como o refeitório, as copas e as unidades de internação. “O Hospital firmou parceria com a Comcap para ser incluído no roteiro dessa coleta, realizada quatro vezes por semana”, frisou Tiago. 

Gestão sustentável 

O Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes), é outra unidade da Rede Ebserh que realiza ações para benefício do meio ambiente. Segundo David Salles, do Serviço de Gerenciamento de Resíduos e integrante da Comissão Permanente de Gerenciamento de Resíduos e do Comitê de Sustentabilidade, por meio do Programa de Gerenciamento de Resíduos Hospitalares, as equipes de planejamento e implantação de ações para gerenciar os resíduos perigosos sistematizam os processos de trabalho. “O objetivo é não gerar ou reduzir os resíduos, tratar e destinar de forma segura, o que foi gerado”, disse. 

David Salles informou que o Hucam-Ufes, por meio do Programa de Coleta Seletiva, destina materiais recicláveis — como papel, papelão, plásticos, eletrônicos e sucatas — às associações regionais de catadores. Além disso, com o Projeto Coleta de Óleo de Cozinha, faz a separação e a coleta do óleo usado no Serviço de Nutrição e Dietética. Essa ação é feita em parceria com o Projeto Collefilter da UFES/FAPES, que encaminha o material para uma empresa de reciclagem de óleo e, em contrapartida, fornece detergente líquido neutro para uso nas copas internas do Hospital. O Hucam também promove ações educativas e de capacitação por meio do Programa de Educação Ambiental. 

“De modo geral, a saúde precisa ser enxergada de uma forma mais ampla, onde o contexto ambiental ao qual estamos inseridos resulta em processos de saúde que refletirá diretamente na saúde humana”, destaca David Salles. Para ele, a gestão sustentável dos hospitais é fundamental para a promoção da saúde. “Controlar os impactos da nossa atividade ao meio ambiente significa promover saúde ambiental e ecológica, e, portanto, também visa promover saúde humana a todos inseridos neste ambiente”, finalizou. 

Sobre a Ebserh 

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação. 

Por Rosenato Barreto, com revisão de Andreia Pires 

Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh