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Pandemia afeta hábitos alimentares, atividades físicas e sono de profissionais de saúde, aponta pesquisa
João Pessoa (PB) – Profissionais de saúde do Brasil sofreram impactos na qualidade de vida por causa da pandemia de Covid-19, especialmente em relação à dieta, consumo de bebida alcóolica, sono e atividade física. É o que aponta pesquisa coordenada por neurologista do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB/Ebserh/MEC), e vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh/MEC). O estudo objetivou detectar mudanças na vida diária e nos hábitos de sono de profissionais de saúde do Brasil bem como avaliar a presença de dor, sua intensidade e impacto na vida diária desse público.
A amostra do estudo foi composta por 710 profissionais de saúde, dos quais a maioria era formada por mulheres (80,8%), com idade entre 30 e 40 anos (46,6%). Dentre o público pesquisado, havia predominantemente médicos (41,8%), enfermeiros (13,5%), fisioterapeutas (11,1%) e técnicos de enfermagem (10,3%). Os profissionais que responderam ao questionário estão distribuídos pelo Distrito Federal e 21 dos 26 Estados brasileiros, sendo que 66,9% dos participantes residem na Paraíba.
Cerca de dois terços do total de profissionais pesquisados reportaram queixas relacionadas ao sono: 25,8% tiveram dificuldade de iniciar o sono; 29,6% relataram dificuldades de manter o sono; e 32,5% de acordar cedo (despertar precoce pela manhã). Entre a população estudada, 25,8% afirmaram que usam algum tipo de medicamento para insônia (e 60,3% desses se automedicavam). Dentre as medicações adotadas para combater a dificuldade de dormir, estão: antidepressivos; benzodiazepínicos; medicamentos fitoterápicos; fármacos hipnóticos não-benzodiazepínicos; melatonina.
Além disso, 81,8% dos participantes da pesquisa apontaram mudanças na prática de atividades físicas, com a maioria dos profissionais de saúde parando de se exercitar (53,9%) ou reduzindo a frequência de treino (25,8%). Apenas 9,7% dos professionais relataram aumento na frequência de exercícios físicos durante a pandemia.
A pesquisadora Isabella Araújo Mota, que é neurologista do HULW-UFPB/Ebserh/MEC e coordenou a investigação científica, explica que profissionais de saúde são mais suscetíveis a doenças físicas e mentais secundárias à pandemia de Covid-19. Segundo o estudo, 41,1% dos participantes referiram dores diferentes das comuns apresentadas em sua vida. Além disso, a frequência do tratamento medicamentoso por esses profissionais (29,2%) foi maior do que o tratamento não medicamentoso (21,8%). “Nós observamos maior prevalência de dor nos indivíduos que classificaram a insônia inicial como intensa ou muito intensa e nos que interromperam as atividades durante a pandemia”, afirma.
A ocorrência de mudanças na dieta alimentar também foi apontada por 78,5% dos participantes do estudo, que reportaram especialmente o incremento na ingestão de carboidratos (60,5%). Pouco mais de 30% relataram comer de forma compulsiva; e 30,6% aumentaram a ingestão noturna de comida. A maioria dos entrevistados afirmou que não se acordava no meio da noite para comer (92,7%). O estudo também apontou que 27% dos indivíduos relataram aumento no consumo de bebidas alcóolicas, especialmente vinho (14,2%) e cerveja (11,2%).
Publicação em periódicos científicos
A pesquisa sobre os efeitos da pandemia de Covid-19 no cotidiano dos profissionais de saúde foi coordenada pela médica Isabella Araújo Mota, que é neurologista no HULW-UFPB/Ebserh/MEC. A investigação foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal da Paraíba e pela Comissão Nacional de Ética (CNE).
Adotou-se como método o estudo observacional e transversal, que ocorreu de maio a julho de 2020. O período de coleta de dados coincidiu com o platô de contágio e do número de mortes provocadas pela Covid-19 no Brasil até então. Um questionário do Google Forms foi disponibilizado aos profissionais de saúde brasileiro no aplicativo móvel WhatsApp e por meio do site da Ebserh/MEC.
De acordo com Isabella Mota, a análise dos dados não mostrou diferenças significativas entre os resultados encontrados na amostra da Paraíba (com 66,9% do total da amostra) com a dos participantes dos outros estados. Ela explica, no entanto, que apesar da semelhança de resultados, a baixa proporção da amostra procedente dos demais estados brasileiros se mostra como uma limitação da pesquisa. “Estudos adicionais com mais indivíduos de outros estados são necessários para maior certificação de que os resultados encontrados em nossa pesquisa ocorram de maneira uniforme em todo o Brasil”, ressalta.
Até o momento, os resultados da pesquisa subsidiaram a publicação de dois artigos científicos: Impact of COVID-19 on eating habits, physical activity and sleep in Brazilian health professionals, no periódico "Arquivos de Neuro-psiquiatria", assinado por Isabella Araújo Mota, Iuara Paiva Silva Morais, Thamires Ferreira Dantas e Gilberto Diniz de Oliveira Sobrinho; e “Pain in Brazilian Healthcare Professionals during the COVID-19 Pandemic”, publicado no jornal "EC Neurology" e assinado por Gilberto Diniz de Oliveira Sobrinho, Isabella Araújo Mota e Iuara Paiva Silva Morais.
Sobre a Ebserh
O HULW-UFPB faz parte da Rede Ebserh/MEC desde dezembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Vinculados a universidades federais, essas unidades hospitalares têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede de Hospitais Universitários Federais atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.
Com informações do HULW-UFPB/Ebserh/MEC