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DEZEMBRO VERMELHO
Brasil eliminou a transmissão vertical do HIV e registrou o menor número de mortes por Aids em 30 anos
Cuidado multiprofissional garante mais qualidade de vida e adesão ao tratamento. Imagem ilustrativa: Freepik.
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Brasília (DF) – Perda rápida de peso, febre prolongada, diarreia, aumento de gânglios e tosse persistente estão entre os sintomas da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a Aids. A doença marcou profundamente a década de 1980, causando milhões de mortes em todo o mundo. Os hospitais universitários federais hoje administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) tiveram papel decisivo no enfrentamento da pandemia e seguem essenciais na produção de conhecimento científico e no cuidado às pessoas que vivem com HIV (PVHIV) e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Pioneirismo no país
Essa trajetória ganha destaque neste Dezembro Vermelho, mês de mobilização para prevenção, diagnóstico e cuidado, e coincide com o anúncio recente do Ministério da Saúde: o Brasil eliminou a transmissão vertical do HIV e registrou o menor número de mortes por Aids em 30 anos. Nos anos 1990, alguns hospitais federais assumiram a dianteira no cuidado a esses pacientes. Entre eles, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ), tornou-se uma referência.
A infectologista Erika Ferraz, do HUCFF-UFRJ, relembra que o atendimento especializado começou com a abertura do posto de internação 5F, idealizado pelo professor Celso Ramos. “O serviço inaugurou protocolos de internação, acompanhamento ambulatorial e iniciou o monitoramento da doença. No laboratório de carga viral, começamos a medir a quantidade de HIV no sangue, o que auxiliou o cuidado aos pacientes e impulsionou pesquisas”, destacou.
Avanços
Entre os avanços recentes, Erika Ferraz aponta dois pilares: a ampliação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a simplificação do tratamento. A infectologista também lembra que, nos anos 1990, muitos pacientes eram internados em alas separadas, reflexo do forte estigma associado à doença, cenário que mudou a partir dos anos 2000. “Os pacientes agora envelhecem, trabalham, convivem socialmente, têm família. Não são mais aqueles pacientes caquéticos da época da zidovudina nem marcados por efeitos adversos severos”, completou.
A terapia antirretroviral evoluiu de esquemas tóxicos para combinações mais seguras e simplificadas. Já existem, inclusive, medicamentos de ação prolongada, que prometem facilitar ainda mais a adesão ao tratamento. O Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA-Ufal) investiga fatores que levam à não adesão, especialmente entre mulheres, pessoas recém-diagnosticadas e casais sorodiscordantes.
Eduardo Gomes, chefe do Setor de Gestão da Pesquisa e da Inovação Tecnológica em Saúde do Hospital, destacou que, atualmente, há 29 pesquisas com a temática HIV/Aids em andamento. “Esses trabalhos contribuem diretamente para a assistência, ao orientar condutas, aprimorar protocolos e qualificar o cuidado integral, além de fortalecer o ensino, pois atualizam conteúdos curriculares e favorecem uma formação baseada em evidências e em princípios do SUS”, analisou.
Cuidado multiprofissional
Alguns hospitais da Rede Ebserh oferecem atendimento multiprofissional para pessoas que vivem com o HIV. É o caso do Hospital Universitário da Universidade Federal do Amapá (HU-Unifap), que conta com médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, nutricionistas e assistentes sociais no ambulatório. “A patologia também envolve aspectos psicológicos e sociais. O tratamento multidisciplinar garante uma abordagem integral, centrada na pessoa”, concluiu a enfermeira Ivamara Almeida.
Marcos Antônio Ferreira, 60 anos, faz tratamento antirretroviral há 26 anos no HUPAA-Ufal, onde também há equipe multiprofissional. Ele conta que se sente acolhido pelos profissionais. “O cuidado que recebo da equipe tem sido fundamental, pois, do contrário, eu já teria chegado ao fundo do poço. Aqui é como se fosse minha segunda casa”, revelou.
Desafios
Apesar do progresso, o estigma ainda é uma barreira para diagnóstico e cuidado. “O momento do diagnóstico é de muito sofrimento. Ter um espaço de acolhimento traz um grande diferencial no modo como a pessoa irá enfrentar o diagnóstico e aderir ao tratamento”, concluiu a psicóloga Alessandra Cansanção, da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do HUPAA-Ufal.
Sobre o Dezembro Vermelho
A data é uma mobilização voltada à prevenção, ao diagnóstico e ao cuidado das pessoas que vivem com HIV e outras ISTs. A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 1987, o Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro. No Brasil, a campanha foi oficializada pela Lei nº 13.504/2017 e se consolidou paralelamente à construção do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Reportagem de Suzana Gonçalves, com edição de Danielle Campos.
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh