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DE OLHO NA PESQUISA
Biomateriais criados no hospital da Rede Ebserh em Niterói oferecem alternativas para a regeneração óssea
Professor Gutemberg Alves, em laboratório do Huap-UFF
Niterói (RJ) – O Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), está na vanguarda da pesquisa em Bioengenharia Tecidual, um campo que integra Biologia, Engenharia e Medicina para desenvolver soluções inovadoras na regeneração de tecidos humanos. Com mais de uma década de pesquisas dedicadas à área, o hospital tem se destacado pelo desenvolvimento de biomateriais nanotecnológicos e pela aplicação da medicina personalizada. No De Olho na Pesquisa desse mês, mostramos um dos destaques nessa frente de atuação: a pesquisa em Bioengenharia Tecidual.
Segundo o professor Gutemberg Alves, um dos avanços mais relevantes conquistados pela equipe foi a criação da Alb-PRF (Albumin-Platelet Rich Fibrin), um biomaterial autólogo produzido a partir do próprio sangue do paciente. "Esse material contém fatores de crescimento naturais que aceleram a cicatrização e a regeneração tecidual. A tecnologia que desenvolvemos permite prolongar a liberação desses fatores, maximizando seu efeito na recuperação", explica o professor. A Alb-PRF já está sendo testada em aplicações odontológicas e cirúrgicas em parceria com pesquisadoras da Universidade Federal Fluminense (UFF), com resultados promissores.
Outra inovação relevante é o uso de modelos 3D para medicina personalizada, desenvolvidos em colaboração com a startup NanoOnco3D. Esses modelos permitem simular tecidos humanos e testar novos tratamentos de forma mais precisa e segura. "Essa abordagem ajuda na otimização de medicamentos e também reduz a necessidade de testes em animais, avançando a ética na pesquisa científica", afirma o professor.
Desenvolvendo alternativas acessíveis e eficazes
O objetivo central das pesquisas em Bioengenharia Tecidual no Huap-UFF é criar biomateriais que acelerem a recuperação dos pacientes sem a necessidade de procedimentos invasivos. "Muitos enxertos ósseos ainda dependem da retirada de material do próprio paciente, o que pode causar dor e prolongar a recuperação. Nossa meta é desenvolver alternativas seguras e biocompatíveis, capazes de regenerar ossos e tecidos sem essa necessidade", explica Gutemberg.
Além disso, a pesquisa tem impacto direto na saúde pública, pois busca reduzir a dependência de biomateriais importados. "O Brasil ainda importa grande parte dos materiais usados em cirurgias e tratamentos avançados, o que encarece os procedimentos e dificulta o acesso no SUS. Nosso trabalho é focado na criação de tecnologias nacionais de baixo custo e alto impacto, permitindo que mais pessoas tenham acesso a tratamentos inovadores", complementa. Para isso, a equipe estabelece parcerias estratégicas com empresas e startups, além de integrar redes de pesquisa como a Rede NanoSaúde. A colaboração com instituições internacionais, como a Tufts University (EUA), também é fundamental para compartilhar infraestrutura e conhecimento.
Desafios e a importância da pesquisa translacional
Embora os avanços sejam expressivos, a área de Bioengenharia enfrenta desafios significativos. A dependência de insumos importados é um dos principais entraves, pois muitos materiais utilizados ainda não são produzidos no Brasil. Para contornar essa limitação, a equipe do Huap-UFF investe no desenvolvimento de alternativas nacionais e na colaboração com startups inovadoras.
Outro obstáculo é a transição da pesquisa para a prática clínica, um processo que envolve rigorosa validação e aprovação regulatória. "Huap desempenha um papel essencial nesse contexto, pois nos permite realizar estudos clínicos em parceria com profissionais da saúde, garantindo que nossas inovações cheguem rapidamente aos pacientes", destaca Gutemberg. O Centro de Pesquisa Clínica (CPC-HUAP) tem um papel fundamental nesse processo, oferecendo a infraestrutura necessária para validação das novas tecnologias. A formação de novos pesquisadores é outro ponto-chave, e o hospital conta com a colaboração dos Programas de Pós-Graduação em Ciências & Biotecnologia e em Odontologia da UFF.
Dessa forma, o Huap tem se consolidado como um centro de referência em pesquisa translacional, aproximando laboratório e prática médica. "O hospital é um ambiente onde a pesquisa e a assistência se complementam, permitindo que os avanços científicos sejam rapidamente aplicados na clínica, beneficiando diretamente os pacientes", afirma Gutemberg. Nos últimos anos, a Gerência de Ensino e Pesquisa do Huap-UFF tem impulsionado esse cenário com editais da Ebserh, fortalecendo a infraestrutura de pesquisa no Centro de Pesquisa Clínica do hospital.
A Ebserh tem desempenhado um papel crucial nesse avanço, promovendo iniciativas que fortalecem a pesquisa dentro dos hospitais universitários. Esse impacto se reflete nos números: só no Centro de Pesquisa Clínica, mais de 200 artigos internacionais foram publicados nos últimos cinco anos, além de diversos pedidos de patentes. "O Huap-UFF não é apenas um hospital de ensino, mas um polo de inovação onde pesquisa e assistência caminham juntas para oferecer melhores soluções para a saúde pública", conclui o professor.
*Agradecimento especial ao CNPq e à FAPERJ, além dos doutores Alexandre Rossi (CBPF), Mônica Calasans-Maia e Emanuelle Stellet (UFF) pelo apoio na pesquisa.
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário da Antônio Pedro da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF) faz parte da Rede Ebserh desde o início de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Felipe Monteiro
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh