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SAÚDE E INOVAÇÃO
Adaptação cirúrgica desenvolvida em hospital da Ebserh em Salvador (BA) ajuda a prevenir cegueira infantil causada por glaucoma congênito
O tratamento do glaucoma infantil é essencialmente cirúrgico, já que o uso de colírios em crianças pequenas é limitado. Imagem ilustrativa: Freepik.
Salvador (BA) - Uma adaptação cirúrgica desenvolvida no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), traz esperança para crianças diagnosticadas com glaucoma congênito, doença rara e grave que pode causar cegueira ainda nos primeiros anos de vida. O aprimoramento da cirurgia chamada trabeculotomia circunferencial aumenta as chances de controle da pressão ocular e pode ser incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) com o uso de materiais simples e econômicos.
O glaucoma congênito ocorre quando o bebê nasce com uma malformação no canal de drenagem do olho, conhecido como canal de Schlemm. Esse canal é responsável por eliminar o humor aquoso, líquido que preenche o interior do olho e se renova completamente a cada hora. Quando o escoamento desse líquido é comprometido, a pressão intraocular aumenta, provocando dois efeitos principais: 1) lesão do nervo óptico, irreversível e capaz de causar perda permanente da visão; 2) e aumento do tamanho do olho, já que a parte branca (esclera) das crianças é mais elástica, o que leva à miopia alta e à dificuldade visual.
Até pouco tempo atrás, a trabeculotomia convencional, que abre apenas um segmento de 90° a 120° da malha trabecular, era o tratamento de escolha. No estudo “360° trabeculotomy ab externo with double access for the treatment of congenital glaucoma” (Trabeculotomia de 360° com duplo acesso para o tratamento do glaucoma congênito, em tradução livre), a equipe do Hupes-UFBA apresentou uma versão aprimorada da técnica: a cirurgia é realizada por meio de duplo acesso, o que permite abrir todo o canal de drenagem (360 graus) utilizando fio de sutura comum, em vez de equipamentos importados e de alto custo.
Como o uso de colírios é limitado em crianças pequenas, o tratamento do glaucoma infantil é essencialmente cirúrgico. O objetivo é abrir o canal de escoamento e restabelecer o fluxo natural do humor aquoso, reduzindo a pressão ocular e prevenindo danos ao nervo óptico.
“Essa adaptação torna o procedimento mais seguro, eficaz e acessível, especialmente dentro da realidade do SUS. Ao restabelecer o escoamento do humor aquoso, conseguimos reduzir a pressão, impedir a progressão da doença e, em muitos casos, melhorar a visão das crianças”, explica a oftalmologista Flávia Villas-Bôas, responsável pelo estudo.
Pesquisa e inovação
O aprimoramento foi desenvolvido a partir de 2016 e consolidado após quatro anos de pesquisa clínica. Desde então, a técnica vem sendo aplicada em outras crianças com glaucoma congênito e secundário, com resultados promissores. O acompanhamento dos primeiros casos mostrou redução significativa da pressão intraocular e melhora da transparência da córnea, o que favorece o ganho visual.
“Quando a pressão ocular diminui, a parte anterior do olho desincha e a criança passa a enxergar melhor. Mas, acima de tudo, evitamos a cegueira, e isso faz toda a diferença na vida dessas famílias”, reforça a pesquisadora.
Além de representar um avanço no tratamento do glaucoma infantil, a técnica evidencia o papel essencial dos hospitais universitários como centros de inovação em saúde pública, capazes de desenvolver soluções de baixo custo e alto impacto social. O aprimoramento criado no Hupes-UFBA reafirma a capacidade da ciência brasileira de gerar alternativas eficazes e acessíveis, ampliando as possibilidades de cuidado e qualidade de vida para crianças atendidas pelo SUS.
Sobre a Ebserh
O Hupes-UFBA faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Luiz Carlos Lima e Luna Normand, com edição de George Miranda
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh