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TOMBAMENTO
Estação Ferroviária do Brum (PE) é tombada definitivamente
Estação do Brum teve influência expressiva no desenvolvimento do Recife. (Foto: Maria Emília Freire/Iphan)
A Estação Ferroviária do Brum, localizada na cidade de Recife (PE), é oficialmente o primeiro bem ferroviário de Pernambuco a ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A decisão foi tomada nesta quarta-feira (26/03), durante a 107ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado do Iphan. O evento contou com a presença do superintendente do Iphan em Pernambuco, Fernando Eraldo de Medeiros, da presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Renata Borba, e da secretária de Cultura de Pernambuco, Cacau de Paula.
Confira as fotos do segundo dia da 107ª Reunião do Conselho Consultivo do Iphan
Além do prédio da estação, que recebeu tombamento provisório em 16 de janeiro, o tombamento definitivo incluiu, ainda, a caixa d'água que faz parte do pátio ferroviário do Brum. Fabricada pela Ransomes & Rapier de Londres, a estrutura está localizada a 20 metros da estação. Com isso, ambas as construções passam a integrar os Livros do Tombo Histórico e de Belas Artes.
Trilhos que impulsionaram o Nordeste
Inaugurada em 1881, a Estação do Brum foi a primeira linha férrea brasileira construída pela The Great Western of Brazil Railway Company Limited (G.W.B.R.) e serviu como ponta de linha da segunda estrada de ferro de Pernambuco: a Estrada de Ferro do Recife ao Limoeiro. O trajeto foi projetado para escoar a produção agrário-exportadora, especialmente açúcar, algodão e gado, além de transportar passageiros pelo estado.
Com o tempo, a malha ferroviária foi ampliada, passando a atender também os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Essa expansão permitiu a conexão entre o interior e o litoral, facilitando o transporte de mercadorias até a região portuária do Recife. O sistema integrava trens e bondes em três pátios ferroviários, garantindo maior fluidez no deslocamento e impulsionando o desenvolvimento econômico, social e cultural da região.
Os vestígios da Estrada de Ferro Recife-Limoeiro carregam um importante valor histórico e cultural, não apenas para Pernambuco, mas para todo o Nordeste e o Brasil. Além de fortalecer a economia, a ferrovia foi essencial para a integração territorial, aproximando cidades e estimulando a circulação de pessoas, bens e ideias entre diferentes regiões. No entanto, com a modernização dos transportes e a priorização das rodovias, o transporte ferroviário perdeu espaço e a estação foi desativada, tornando-se um símbolo da memória ferroviária nacional.
Valorada e incluída na Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário em 2010, a Estação do Brum integrava um amplo complexo ferroviário, que incluía uma área de embarque e desembarque de passageiros, oficinas, armazéns, desvios, trilhos, uma vila operária e uma caixa d’água. Com o tempo, grande parte dessas estruturas foi removida, restando apenas a estação e a caixa d’água, localizada no terreno onde está instalada a administração do Porto do Recife.
Joia ferroviária
Além de sua importância histórica, a Estação do Brum é um importante exemplar da arquitetura ferroviária brasileira. O edifício se destaca como um marco da arquitetura ferroviária brasileira devido à sua excepcionalidade artística e arquitetônica. Com um elaborado desenho neoclássico, a construção se diferencia pelo uso de ferro e pelos detalhes construtivos, evidenciando clareza, qualidade e simplicidade formal e espacial.
O projeto não só atendeu às demandas funcionais, mas também incorporou técnicas avançadas da época, como o emprego de vidro e ferro, além de materiais importados. Essas características conferem à estação um valor singular na história das ferrovias do Nordeste e do Brasil, refletindo a riqueza cultural e arquitetônica do período entre o século XIX e o início do XX.
Mesmo após diversas transformações, o edifício manteve sua imponência e, em 1999, foi revitalizado para abrigar o Memorial da Justiça de Pernambuco. Atualmente, o espaço funciona como um centro cultural, com museu, biblioteca e arquivo histórico, aberto ao público e voltado à preservação da história do Poder Judiciário no estado.
“Essa edificação representa a expressão artística e estética própria da arquitetura ferroviária, uma categoria ainda pouco presente no acervo de bens tombados pelo Iphan. Esse tipo de arquitetura teve um papel fundamental na incorporação de novos temas decorrentes da Revolução Industrial, como a produção em série e a pré-fabricação, que até hoje são centrais no debate desta área”, afirmou o conselheiro relator do processo de tombamento, Nivaldo Andrade.
Assim como a estação, a caixa d’água representa a expressão artística e estética característica da arquitetura ferroviária. Seus elementos são registros da aplicação de técnicas avançadas, com o uso de ferro importado e mão de obra especializada.
Segundo a arquiteta do Iphan Maria Emília Freire, a proteção em nível federal contribui para a valorização da memória ferroviária, garantindo que futuras gerações possam conhecer e compreender a importância do sistema ferroviário na construção da identidade nacional. “O tombamento definitivo fortalece a conexão desse patrimônio com a cultura brasileira, reconhecendo a ferrovia não apenas como um meio de transporte, mas também como um elemento essencial na formação do território”, afirma.
Serviço:
Estação Ferroviária do Brum (Memorial da Justiça de Pernambuco)
Endereço: Av. Alfredo Lisboa, s/n, bairro do Brum - Recife (PE)
Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 13h às 17h
Contato: (81) 3181-9449
Mais informações
Assessoria de Comunicação Iphan - comunicacao@iphan.gov.br
Ana Carla Pereira – carla.pereira@iphan.gov.br

