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Pesquisa que viabiliza nanossitema para tratamento de câncer de cabeça e pescoço é apresentada em simpósio, no interior paulista
Pesquisadora do IEN/CNEN, Samara Mendes, apresentando o seu projeto no 18o Simpósio Edwaldo Camargo. Foto: Arquivo Pessoal.
No início de abril, entre os dias 5 e 6, aconteceu a edição número 18 do Simpósio Edwaldo Camargo, na cidade de Itupeva, no interior do estado de São Paulo, conjuntamente com o 2º Congresso CancerThera. Os dois eventos abordaram as aplicações diagnósticas e terapêuticas de Medicina Nuclear nos Tumores do Trato Gastrointestinal e as aplicações teranósticas em Oncologia e Onco-Hematologia, na pesquisa básica, na pesquisa pré-clínica e clínica.
Pesquisadores e especialistas de diversas instituições científicas tiveram a oportunidade de aproveitar esse espaço para expor os seus trabalhos ligados à Medicina Nuclear, como Samara Mendes, que é bolsista de iniciação científica do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN).
Através de um pôster, Samara realizou uma apresentação oral, de cerca de seis minutos, para a comissão científica do evento, do projeto que tinha como tema “Efeito da ativação neutrônica no copolímero PLA-PEG sobre nanopartículas de ouro”:
“Como eu tinha feito um trabalho similar apenas com o polímero PEG, esse trabalho pretendia mostrar o poder sinérgico de dois polímeros biocompatíveis e biodegradáveis na estabilização das nanopartículas de ouro, a fim de se obter um nanossitema com possível aplicação na área teranóstica da Medicina Nuclear”, explica Samara.
De forma mais clara, “teranóstico” é o termo usado para descrever a combinação do uso de um fármaco radioativo para diagnosticar e um segundo fármaco radioativo para administrar a terapia, a fim de tratar o tumor principal e quaisquer metástases que surjam no organismo.
O objetivo da tese produzida por Samara Mendes é viabilizar que esse nanossistema ativado possa ser associado a quimioterápicos, como o álcool perílico, e viabilizar a sua aplicação no tratamento de pessoas diagnosticadas com câncer de cabeça e pescoço.
“Com a ativação neutrônica, as nanopartículas de ouro têm como radioisótopo o Au-198, que é um emissor beta menos e gama. Como ele emite gama na faixa de 411kev, ele pode ser utilizado como contraste para exames diagnósticos, e sendo um emissor beta menos, ele tem aplicação na terapia. Por sua meia-vida ser aproximadamente 3 dias, o Au-198 tem enorme potencial para ser utilizado na área da medicina nuclear”, acrescenta a especialista.
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Colaboração do IEN/CNEN e perspectivas do projeto
De acordo com Samara, que também é estudante de graduação em Física Médica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o projeto está centrado, atualmente, na aquisição desse nanossistema, concluindo a sua caracterização e estruturação para que, nas próximas etapas, ele possa ser disponibilizado para as instituições médicas. Segundo a aluna, profissionais dos hospitais da USP e da Unicamp se mostraram interessados pela pesquisa voltada para esse tipo de câncer que recebeu um estudo inédito recente.
No trabalho acadêmico “Disparidades no estágio do diagnóstico de tumores de cabeça e pescoço no Brasil: uma análise abrangente de registros hospitalares de câncer”, publicado na The Lancet Regional Health – Américas – e conduzido pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estudados mais de 145 mil casos, em que se identificou que cerca de 80% dos tumores de cabeça e pescoço diagnosticados no Brasil, entre 2000 e 2017, foram detectados em estágios avançados.
Isso acontece, segundo a pesquisa, porque quanto menor o nível de escolarização, maior são as chances de diagnóstico em estágios avançados, fora que o estudo também mostrou que os mais jovens apresentaram maior risco de diagnóstico tardio.
Com base nesses dados, o INCA aponta que o Brasil é um dos principais países em número de casos de tumores de cabeça e pescoço, que afetam regiões como cavidade oral, faringe e laringe.
Em meio a esse cenário de aumento nos diagnósticos de câncer de cabeça e pescoço em território nacional, Samara acredita que a pesquisa desenvolvida por ela, com a orientação da Dra. Nathali Ricardo Barbosa de Lima - colaboradora do IEN/CNEN e integrante da COPPE/UFRJ – culminará em frutos positivos para potencializar o papel da Medicina Nuclear nesse tratamento oncológico. E a estrutura dos laboratórios do Instituto de Engenharia Nuclear, segundo Samara, também contribuiu para a construção dessa tese.
“Como eu atuo no Laboratório de Desenvolvimento de Radioisótopos por Ativação Neutrônica (LDRAN), que está situado no prédio do reator Argonauta, o preparo dos reagentes, a síntese das nanopartículas e do revestimento polimérico e o armazenamento dos produtos obtidos são processos feitos no laboratório. A ativação neutrônica das nanopartículas de ouro é feita no reator Argonauta, com toda a equipe de operadores e da proteção radiológica realizando esse processo. Então, a infraestrutura laboratorial do IEN/CNEN e a colaboração dos profissionais do prédio de reator Argonauta é mais que imprescindível para a continuidade e evolução dessa pesquisa”.
Escrita por: José Lucas Brito (SETCOS/ IEN)