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Pesquisa do IEN/CNEN com técnica de IA pretende gerar benefícios para a saúde
Jaqueline Viana no Imperial College, em Londres. Foto: Arquivo Pessoal
Uma dissertação produzida e apresentada no Instituto de Engenharia Nuclear em 2021, baseada em uma técnica da Inteligência Artificial, teve desdobramentos positivos em favor da saúde pública. O trabalho em questão é de autoria da pesquisadora Jaqueline Viana, que atua tanto pelo IEN/CNEN quanto pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Intitulada como “Uso da lógica fuzzy para desenvolvimento de um método para gestão do conhecimento nuclear: aplicação no Laboratório de Interfaces Humano-Sistemas (LABIHS) do Instituto de Engenharia Nuclear", a dissertação orientada pelos professores e doutores Claudio Grecco e Paulo Victor Carvalho tinha como objetivo apresentar um método de avaliação da gestão do conhecimento em organizações nucleares que utilizam fatores críticos de sucesso. Para esse estudo, utilizou-se a lógica fuzzy, técnica de IA que lida com a subjetividade e a inconsistência dos julgamentos humanos.
LEIA A DISSERTAÇÃO SOBRE O USO DA LÓGICA FUZZY NA GESTÃO DO CONHECIMENTO NUCLEAR
“Ao contrário da lógica tradicional, que categoriza informações como verdadeiras ou falsas, certas ou erradas, positivas ou negativas, a lógica fuzzy permite que variáveis assumam valores entre 0 e 1, capturando nuances e graduações” explica Jaqueline, que lembrou ainda que essa dissertação foi escolhida como a melhor no Prêmio SBGC de Teses e Dissertações (edição 2022), concedido pela Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC).
Para além da Gestão de Conhecimento e do trabalho de segurança e eficiência nas operações nucleares, a pesquisadora identificou que a lógica fuzzy também poderia ter aplicações na área da Saúde, quando a própria ingressou no grupo ResiliSUS, vinculado à Fiocruz, liderado pelo Dr. Alessandro Jatobá, onde ela combinou essa técnica com o Método de Análise de Ressonância Funcional (FRAM), ferramenta de análises estatísticas e dados coletados em pesquisas de campo.
Mas a referida dissertação ganhou ainda mais notoriedade quando Jaqueline foi convidada para dar continuidade às pesquisas no Imperial College, em Londres, e também para participar de um projeto, envolvendo Brasil e Reino Unido, focado em Reciprocal Learning em que também utiliza a lógica fuzzy, contando com o apoio da Dra. Cornelia Junghans Minton, pesquisadora clínica sênior em cuidados primários no Imperial College e médica do NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido). Foi nessa renomada instituição acadêmica, que Jaqueline conseguiu aperfeiçoar sua tese e conectá-la com a saúde pública:
“O estudo vem mapeando processos relacionados aos cuidados de saúde, identificando atividades essenciais e inter-relacionadas, com foco nas respostas adaptativas das iniciativas de saúde, pioneiras no Brasil, e que estão sendo aplicadas pela primeira vez no Reino Unido. Por exemplo, as atividades realizadas pelos agentes comunitários de saúde estão sendo mapeadas e desenhadas para que possamos, além de comparar o que acontece no Brasil e no Reino Unido, criar um conjunto de indicadores relacionados às atividades resilientes analisadas no trabalho de campo, que contribuem para melhorias nos resultados junto à saúde da família e poderão serem utilizadas por todos”.
Nessa etapa inicial dos trabalhos, Jaqueline explicou que o foco é entender como funciona o sistema, mapear e criar a ferramenta para, posteriormente, possibilitar a troca de conhecimentos e ampliar o capital intelectual sobre o assunto, por meio de relatórios, artigos, workshops e até mesmo se apropriar das mídias digitais para fazer essa divulgação científica. Também está nos planos dela buscar parcerias com instituições dos Estados Unidos, Canadá e África do Sul, que demonstrem interesse nesses estudos.
Outras potencialidades da IA para a ciência nuclear
Os estudos desenvolvidos pela pesquisadora Jaqueline Viana estão em consonância com a realidade atual de hospitais e outros centros médicos que estão incluindo a Inteligência Artificial em suas rotinas. Um mapeamento feito em 2023 pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS), aponta que 62,5% das instituições participantes utilizam esse recurso de alguma maneira, sendo a maioria em chatbots de atendimento.
Dos 45 hospitais mapeados, mais da metade investiu em IA, sendo que 51% responderam que obtiveram resultados práticos e 23% ainda não identificaram os benefícios.
A pesquisa em questão entende que a IA é benéfica para a área da saúde ao gerar diagnósticos mais precisos, triagem eficiente de pacientes, tratamentos mais personalizados, otimização de operações hospitalares, além de reduzir erros médicos.
Durante a elaboração da sua dissertação sobre o uso da lógica fuzzy, Jaqueline Viana informou que acompanhou os trabalhos de outros pesquisadores do IEN/CNEN que identificaram vantagens do uso da IA também para o setor nuclear, como na análise de grandes volumes de dados gerados em experimentos nucleares, o que permite a identificação de padrões e a previsão de comportamentos.
A Inteligência Artificial também se mostra eficaz, segundo outras pesquisas citadas por Jaqueline, de outras maneiras:
- Na otimização de processos de gestão e operação em instalações nucleares, melhorando a eficiência e a segurança;
- No monitoramento de condições operacionais e diagnóstico de falhas em tempo real, aumentando a segurança das operações nucleares;
- Na criação de modelos mais precisos de sistemas nucleares, para permitir simulações que auxiliam na tomada de decisões e na avaliação de riscos.
“Isso demonstra como a IA, em conjunto com a lógica fuzzy, pode contribuir significativamente para a evolução e a segurança não somente da ciência nuclear, mas em todas as ciências, promovendo uma gestão mais eficaz”, acrescenta Jaqueline.
Além do convite para ingressar na Imperial College, instituição que é a segunda melhor do mundo segundo a QS World University Rankings 2025, a dissertação produzida por Jaqueline a levou para participar do LabFuzzy, da Coppe/UFRJ, laboratório que trabalha com pesquisas utilizando essa técnica de IA, onde foi desenvolvido o modelo Coppe Consenza, do Professor Carlos Alberto Nunes Cosenza, um dos seus orientadores.
Outro desdobramento importante da pesquisa foi o trabalho conjunto com os professores Claudio Grecco e Paulo Victor Carvalho na idealização e implementação do Laboratório de Engenharia do Conhecimento (LABEC/IEN), que atraiu novos alunos e pesquisadores, possibilitando a continuidade e o desenvolvimento das pesquisas.
Escrita por: José Lucas Brito