Notícias
Assistência e Pesquisa
HUSM implanta primeira bomba de insulina em paciente pediátrico
Um menino de 2,6 anos recebeu na tarde de quarta-feira, 16, a primeira bomba de insulina portátil no Ambulatório de Diabetes Infantil do Hospital Universitário de Santa Maria. Théo Arruda Hasselmann de Oliveira é paciente do hospital há um ano e trata diabetes tipo 1. O aparelho – doado por uma empresa multinacional que fabrica produtos farmacêuticos – promete manter o nível de insulina estável e eliminar as injeções diárias para a aplicação. A médica responsável pelo Ambulatório de Diabetes Infantil explica que o aparelho não é disponibilizado pelo SUS e – por meio de relatório e pesquisa – pretende demonstrar a importância dele para promover a qualidade de vida de pacientes.
O pequeno Théo é um menino ativo, esperto e ávido por brincadeiras. Já teria idade para estar frequentando a creche. Porém, devido às crises de hipoglicemia severa, nem a mãe se sentia segura para leva-lo, nem a escolinha para recebe-lo.
De acordo com os médicos, o ideal é que a glicemia fique entre 70mg/dL e 180mg/dL, o chamado alvo-glicêmico. No caso da Hipoglicemia severa, a quantidade mínima cai para 20, 30, o que pode provocar complicações visuais (visão turva), convulsões, perda de neurônios e até mesmo levar a morte do paciente, se não houver a aplicação rápida de Glucagon. Quando ocorre a hiperglicemia, quando ela chega acima de 180mg – ocorrem problemas renais e cardíacos.
- A bomba é o tratamento padrão ouro, pois permite o controle do diabetes. Isso significa que conseguimos manter o paciente 70% do dia dentro do alvo glicêmico. É a primeira vez aqui no HUSM que instalamos em um paciente pediátrico – explica Ana Alzira Fenalte Streher, médica preceptora do Ambulatório de Endocrinologia Pediátrica e de Diabetes Infantil.
No mês de julho, a notícia de que o garoto atendia os critérios clínicos para receber o Sistema de Infusão Continua de Insulina (SICI) – popular bomba de infusão – , doado para o hospital, trouxe alegria aos pais:
- Vai ser muito melhor, ele não estava gostando da aplicação diária de injeção de insulina. As escolinhas não aceitavam ele por causa do CID (Classificação Internacional de Doenças). Agora ele vai seguir uma vida mais normal, vai poder comer as coisas que ficava só com vontade – comemora Ana Arruda. Ela, junto com a tia que cuida do menino, acompanhou a implantação do SICI.
A bomba de insulina simula a função do pâncreas, fornecendo insulina basal em pequenas doses ao longo do dia. Instalada na região abdominal, garante a infusão precisa e contínua, mediante programação prévia do aparelho, conforme prescrição médica.
O aparelho é pequeno e leve – pouco maior do que um cartão de crédito – e pode ser carregado em uma bolsinha junto ao corpo, dando liberdade de locomoção e movimento para a criança. No caso de um adulto, ele pode ser fixado no cinto ou cós da calça. Nele, fica um reservatório de insulina capaz de suprir as necessidades diárias do paciente por seis dias. O medicamento entra na pele por uma cânula. Tanto a instalação da cânula junto ao abdome – trocada a cada 3 dias – quanto a infusão da insulina são indolores. O processo dura poucos segundos e foi acompanhado pelas equipes médicas e assistencial da Pediatria e endocrinologia pediátrica.
O paciente pode desconectar-se do aparelho por um período limitado para atividades específicas, como durante a prática de alguns exercícios físicos ou durante o banho.
Indicação da bomba de insulina - O HUSM atende cerca de 200 crianças no Ambulatório de Diabetes Infantil. Cerca de 10% delas teriam indicação para uso da bomba de insulina (criança abaixo de 5 anos com hipoglicemia severa e alta variabilidade glicêmica). Porém a SICI, até o momento, ainda não é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde. No caso de indicação, os familiares recorrem à Justiça para garantir o tratamento, uma vez que o valor de mercado do aparelho fica em torno de R$ 20 mil.
O tratamento tradicional, realizado nos hospitais públicos, prevê a aplicação de injeções subcutâneas, diárias, de insulina. Seja de insulina ultrarrápida, cujo efeito dura 4h e, por isso, precisa ser aplicada a cada refeição. Ou de insulina de ação prolongada, aplicada uma vez ao dia, que dura 24h.
A bomba instalada além de reduzir o incômodo da picada da agulha para cada três dias, gera gráficos em tempo real e relatórios mensais, que irão permitir a médica acompanhar 24h – de forma remota – a variação glicêmica do paciente, evitando assim as crises de hipoglicemia severa.
Fotos autorizadas pela mãe do paciente.