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Médica do HU-UFSC esclarece dúvidas sobre hanseníase
“A hanseníase pode estar em qualquer lugar, até mesmo na sua casa”. Esse é o chamado da campanha de 2023 da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) neste Janeiro Roxo, alertando toda a população. Esta campanha é dedicada à conscientização sobre uma doença que, apesar dos avanços tecnológicos e científicos, ainda faz milhares de vítimas todos os anos no nosso país. O último domingo de janeiro (no caso deste ano, 29 de janeiro), é o Dia Mundial de Combate à Hanseniáse.
O Brasil é o segundo país no mundo com maior número de casos de hanseníase. A doença pode acometer qualquer pessoa, de qualquer nível social, raça e idade. Seu adequado diagnóstico precoce e tratamento precisam vencer as barreiras da estigmatização, uma vez que a hanseníase ainda é injustamente associada à antiga lepra.
Para marcar o Janeiro Roxo, a SBD planejou eventos online, divulgou depoimentos de pacientes e celebridades, estimulou a iluminação em roxo de espaços públicos e monumentos. No Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC), a médica Shirley Massimo de Souza, dermatologista pela SBD, preceptora do ambulatório de hanseníase do HU-UFSC, esclareceu algumas dúvidas sobre o tema (veja a entrevista abaixo).
Ela explicou que hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica, causada por uma bactéria, o Mycobacterium leprae (ou bacilo de Hansen), descrito pelo médico norueguês Gerhard Armauer Hansen no século 19. Sua transmissão ocorre de uma pessoa para outra, pelo trato respiratório, através de secreções das vias aéreas e saliva. Mas não é uma transmissão fácil, como ocorre com a Covid-19, por exemplo.
"É preciso uma convivência próxima e prolongada com a pessoa infectada para que a doença seja transmitida. Portanto, a transmissão geralmente ocorre para familiares, parentes e amigos próximos do doente portador de hanseníase. O período de incubação (do contágio até o aparecimento dos sintomas) pode variar de três meses a até 10 anos. Nem todos as pessoas em contato prolongado com um paciente de hanseníase desenvolverá a doença, uma vez que a maioria da população tem boa resposta imunológica contra o bacilo de Hansen. Portanto o estigma de segregação do paciente com hanseníase não tem propósito nos dias de hoje", acrescentou a médica.
Para o sucesso no combate à hanseníase os dois fatores fundamentais são o diagnóstico precoce e o tratamento imediato, interrompendo assim a cadeia de transmissão. Por isso, é essencial que a população tenha consciência de que a hanseníase ainda existe como um grave problema de saúde pública, tenha conhecimento dos principais sintomas da doença e procure o serviço de saúde para avaliação frente a qualquer suspeita do diagnóstico.
A hanseníase atinge a pele, olhos e os nervos periféricos, causando manchas e alterações da sensibilidade e força muscular, podendo evoluir para deformidades permanentes e perda da visão. Com o tratamento adequado, a doença é completamente curada. Quanto mais precoce for o tratamento, menor a chance de o paciente desenvolver sequelas permanentes da hanseníase.
Quais são os principais sintomas da hanseníase?
Para o diagnóstico precoce, é importante ter atenção a manchas na pele que podem ser claras, avermelhadas ou acastanhadas, às vezes pouco visíveis e com limites imprecisos. Observar redução da sensibilidade, dos pelos ou da sudorese nas áreas afetadas, além de ressecamento nos olhos ou nariz. Podem ocorrer sensações de fisgadas ou formigamento, especialmente nas mãos e pés. E ainda evoluir com redução de força muscular principalmente nas mãos e pés e feridas indolores de difícil cicatrização nessas regiões. Se o tratamento for tardio, as alterações podem levar a deformidades permanentes. Durante períodos de agudização, é possível que apareçam nódulos vermelhos e quentes pelo corpo, dores articulares, mal-estar e febre. Diante de qualquer suspeita de hanseníase, a população deve buscar um serviço de saúde. Esse atendimento é fornecido gratuitamente pelo SUS nas Unidade Básicas de Saúde e pode também ser realizado por um médico dermatologista.
Qual é a incidência de casos em Santa Catarina?
A região Sul tem a menor incidência de hanseníase do país, mas ainda assim todo ano são diagnosticados novos pacientes com a doença. E aqui continuam aparecendo casos em crianças menores de 15 anos, que é um indicador de que está havendo transmissão ativa comunitária da hanseníase na região, e não apenas casos importados de outros estados. A incidência de Hanseníase em Santa Catarina foi de 627 novos casos entre 2016 e 2020, segundo o SINAN/GEDIC/DIVE/SES/SC (04/05/2021).
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito por um profissional médico, através do exame clínico, incluindo revisão de toda a pele, pesquisa de sensibilidade e alterações neurais. Se necessário o médico pode utilizar exames complementares como auxílio no diagnóstico.
Como é o tratamento?
O tratamento é feito ambulatorialmente, por via oral, com o uso combinado de antibióticos que são integralmente fornecidos pelo SUS. O tratamento tem duração de pelo menos 6 meses e o paciente é supervisionado pela equipe de saúde durante todo o período de uso dos medicamentos.
Quais devem ser os cuidados, em casa, de quem tem contato com um paciente com hanseníase?
Após a primeira dose do tratamento, que é fornecida na consulta, no momento do diagnóstico, o portador de hanseníase já não é mais considerado um transmissor da doença. Portanto não existem recomendações de isolamento ou segregação. A recomendação mais importante para familiares, parentes e amigos próximos de alguém diagnosticado com hanseníase é buscar atendimento no serviço de saúde o quanto antes, mesmo que não apresente sintomas, para que possa ser examinado por um médico em busca do diagnóstico precoce, e tratamento adequado se necessário. Além disso, como o período de incubação da doença pode ser muito longo, os contactantes devem sempre se lembrar de relatar que tiveram contato com hanseníase em consultas clínicas e dermatológicas futuras. E valorizar sinais e sintomas que pareçam suspeitos, mesmo anos após o tratamento do familiar.