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Ceratocone não tem cura, mas tem controle. Diagnóstico precoce é importante
A depender da gravidade, o tratamento vai do uso de óculos até o transplante de córnea. Condição afeta crianças, adolescentes e adultos jovens
Vista embaçada ou distorcida, dificuldade para enxergar à noite, sensibilidade à luz e visão de halos — anéis brilhantes ao redor de fontes luminosas — são alguns sinais do ceratocone, uma doença ocular caracterizada pelo formato cônico da córnea, a camada fina e transparente da parte frontal do olho. A condição afeta cerca de 150 mil brasileiros por ano, em sua maioria pessoas com menos de 30 anos.
Especialistas da Rede Ebserh, dentre eles um do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), destacam que, embora o ceratocone não tenha cura, o tratamento adequado permite o controle da progressão da doença e garante melhor qualidade de vida ao paciente.
O Dia Mundial do Ceratocone, celebrado em 10 de novembro, reforça a importância do diagnóstico precoce. “Quanto mais cedo o diagnóstico é fechado, maiores serão as opções de tratamento”, explica o oftalmologista Kahlil Mendes, do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-Ufes), da Universidade Federal do Espírito Santo.
Tratamentos e controle da doença
As opções de tratamento variam conforme o estágio da doença, indo desde o uso de óculos no início do quadro até o transplante de córnea, quando já não há uma boa resposta às formas anteriores de tratamento.
“Falamos mais em controle do que em cura. Hoje já conseguimos detectar o ceratocone cedo e orientar mudanças de hábito, especialmente parar de coçar os olhos e tratar alergias para evitar a coceira; podemos melhorar a visão com óculos ou lentes de contato especiais; e frear a progressão da doença com o crosslinking corneano, procedimento que usa vitamina B2 (riboflavina) e luz ultravioleta para fortalecer a córnea e impedir que continue afinando,” pontua o professor e especialista em córnea, ceratocone e cirurgia refrativa do HUGG-Unirio, Renato Ambrósio Júnior.
Ele reforça que com essas medidas, a maioria dos pacientes mantém boa visão e não precisa de transplante.
O tratamento precoce é essencial para evitar o transplante de córnea, medida mais extrema e custosa — e que apresenta a maior fila de espera entre os transplantes de tecidos realizados no Brasil. “Para se ter uma ideia, dos cerca de mil transplantes de córneas já realizados pelo Hospital Bettina Ferro de Souza (HUBFS), aproximadamente metade foi indicada para o controle do ceratocone avançado”, informa o oftalmologista, José Jesu Sisnando, chefe do Serviço de Córnea e Catarata do hospital, que integra o Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA), em Belém.
Causas e prevenção
O ceratocone não tem uma causa exata definida, sendo resultado de uma combinação de fatores genéticos (alterações nos genes), ambientais (como alergias) e comportamentais (coceira nos olhos).
Jesu Sisnando destaca que o pico da doença acontece entre a infância e os 30 anos, quando a córnea ainda não está rígida e vai sendo traumatizada e deformada com a coceira. “Nessa fase, o tratamento clínico das alergias é fundamental para evitar o seu sintoma clássico: a coceira nos olhos, principalmente nas crianças. Hoje, elas estão mais reclusas em lugares fechados, com ar-condicionado e presença de animais domésticos, o que predispõe a alergias”, comenta o oftalmologista. “Não coçar os olhos é a melhor prevenção”, completa Kahlil Mendes, do Hucam-Ufes.
Ciência
Além do cuidado no tratamento à população, os hospitais universitários da Ebserh também promovem pesquisas científicas sobre o ceratocone, como o HUGG-Unirio. “Atuamos em três eixos complementares: primeiro, a diagnose, que vai além da detecção precoce e inclui estratificação de risco, estadiamento (extensão da doença), classificação, prognóstico e seguimento de longo prazo, com conduta individualizada para cada olho”, explica Renato, que também é autor do livro “Tenho ceratocone, e agora?!”, disponível gratuitamente neste site.
Ele complementa que o segundo eixo é a educação do paciente e dos familiares, reduzindo o sofrimento e prevenindo a progressão, com ênfase em não coçar os olhos; e que o terceiro eixo é o tratamento. “Visa estabilizar a doença e reabilitar a visão, preservando a qualidade de vida, com óculos, lentes de contato especiais, crosslinking, segmentos de anel intracorneano e transplantes lamelares ou totais, conforme o caso”, finaliza Renato.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Moisés de Holanda com revisão de Danielle Morais
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh