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Saúde
Preconceito e estigma ainda são barreiras ao tratamento do HIV, avaliam profissionais do HC-UFTM
Em 1.º de dezembro, data que marca o Dia Mundial de Luta contra a Aids, profissionais do Hospital de Clínicas da UFTM destacam que ainda há obstáculos a serem ultrapassados no combate à doença, ao estigma e ao preconceito, apesar dos avanços observados no tratamento da infecção pelo vírus HIV.
“Essa ainda é uma doença incurável, mas com um bom controle. A gente sempre alerta as pessoas para fazerem testes para que se possa ter o diagnóstico mais precoce. E para aqueles com resultado positivo, que tenham adesão, que tomem a medicação”, contextualiza o infectologista Rodrigo Molina. De acordo com o médico, o índice de infecções ainda é alto. “As pessoas precisam ter mais conhecimento de como se transmite, usar preservativos e a PrEP [profilaxia pré-exposição], saber que ainda há contaminação pelo compartilhamento de agulhas, se colocar numa situação mais segura”, adverte.
Molina reforça que o 1.º de dezembro precisa ser lembrado anualmente de forma mais incisiva e ampla. “É uma data também para a gente quebrar qualquer preconceito, porque o HIV não se transmite no abraço, no beijo, na convivência”, ressalta, pontuando dentre os benefícios do tratamento a manutenção da saúde do paciente e a interrupção do risco de transmissão, a partir do momento em que a carga viral se torne indetectável na corrente sanguínea do paciente.
Dificuldades e medos
“A gente ainda vê o preconceito contra o outro, as pessoas são rotuladas, algumas têm dificuldade de arranjar emprego, medo de serem demitidas. Isso impede a pessoa, muitas vezes, de fazer o acompanhamento, porque elas não querem faltar no emprego para vir fazer uma consulta, com medo de apresentarem o atestado de um infectologista, medo de vir na consulta e encontrar alguém que os conhece, medo de pegar medicação, levar medicação quando viaja e alguém ver. Tudo isso ainda são barreiras para que se faça o tratamento correto”, exemplifica Molina.
O infectologista esclarece que são várias as formas de busca por atendimento no Ambulatório de Especialidades do Hospital de Clínicas. “O paciente pode procurar o serviço por iniciativa própria, faz o teste rápido e caso dê positivo, é feito o acolhimento, marca-se a consulta no mesmo dia. Ele é atendido por uma equipe completa: médico, enfermeiro, farmacêutico, psicólogo, terapeuta ocupacional. Outra forma de acessar o serviço prestado pelo Ambulatório é pelo encaminhamento via UPA – Unidade de Pronto-Atendimento. Com relação à PrEP, o HC-UFTM é o único a distribuir a medicação preventiva contra a infecção no Triângulo Mineiro Sul. A Profilaxia é mais um método medicamentoso de combate à transmissão do vírus, para quem faz o uso regular”, detalha.
Canal aberto
Integrante da equipe do Ambulatório de Especialidades, a farmacêutica Raquel Afonso Oliveira é responsável pela entrega dos medicamentos do programa HIV-AIDS, para moradores da macrorregião Triângulo Sul. Apesar de esses municípios também promoverem a distribuição, a escolha de pegar os remédios diretamente no Ambulatório em Uberaba corrobora um dos problemas que permeiam a soropositividade: o preconceito. Na prática, muitos buscam o anonimato. Devido ao diagnóstico, não querem ser identificados, julgados e expostos para familiares e conhecidos.
Atualmente, na Farmácia de distribuição, há 1,4 mil pacientes que retiram regularmente a medicação, na periodicidade estabelecida pelos receituários médicos. Há também os que por algum motivo faltam à entrega. Nesse caso, os profissionais da Farmácia ligam para os cerca de 400 “faltantes”, lembrando-os de comparecer à Unidade.
“Nós disponibilizamos um Whatsapp para o paciente ter um canal mais fácil de abertura conosco, tirar dúvidas e mandarmos notícias. Tiramos um dia da semana para fazer as publicações, e todas as vezes que eu passo e vejo [o celular], abro e sempre respondo”, Oliveira informa. O dispositivo foi doação dela, que também monta kits para distribuição contendo folhetos informativos, preservativos, lubrificante íntimo e um doce.
O apoio psicológico é fundamental para os portadores do vírus. Patrícia Paiva Carvalho, psicóloga de referência da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do HC-UFTM trabalha com questões relacionadas ao “viver com HIV”. Ela dá o suporte emocional para quem recebe o resultado (positivo) do exame, priorizando também as particularidades de cada pessoa quanto a conviver com o vírus.
“Ou a gente está junto no momento em que ele descobre que está com a infecção pelo HIV ou ele já sabe e vem para a gente trabalhar essa elaboração do diagnóstico, das questões relacionadas à aceitação”, Carvalho explica. Ela especifica o que considera mais difícil para quem é diagnosticado com a doença: “O HIV é uma condição ainda muito relacionada à questão do estigma, preconceito, discriminação. Isso ainda se faz presente e causa um intenso sofrimento psicossocial para a pessoa”, afirma.
Mães, infecção e cuidados
A pediatra Natália Vieira Inácio Calapodopulos atua há mais de cinco anos na linha de atendimento à criança filha de mulher soropositiva, no Ambulatório de Pediatria do HC-UFTM. Ela resume as diretrizes e cuidados com a parturiente e o bebê quando do nascimento – e antes dele: “Desde o momento que a mãe HIV+ descobre a gravidez, ela vai ter um acompanhamento especializado pela equipe de Ginecologia e Obstetrícia aqui no Hospital, porque é considerado um pré-natal de alto risco”. A mãe passa a ter acompanhamento mensal, numa abordagem multidisciplinar envolvendo a psicologia, o serviço social e a equipe médica.
Caso tenha feito o pré-natal adequado, a gestante vai ter descoberto o resultado de sua sorologia durante a gravidez. O recém-nascido, por sua vez, se foi exposto no período da gestação, passa a receber um antirretroviral para prevenir a infecção. Atualmente, há 12 crianças recebendo esse cuidado no HC-UFTM. “Nós sempre vamos acompanhar todos os filhos de mães HIV positivo com exames laboratoriais, imediatamente após o nascimento. Já temos os cuidados específicos para reduzir o contato de secreções maternas com ele”, conta a pediatra.
Outras precauções são concomitantes, como o bloqueio ao aleitamento (a puérpera recebe um fármaco para cessar a produção do leite) e o fornecimento de uma fórmula alimentícia infantil adequada até os seis meses de idade. O bebê que não contraiu o vírus na gestação ou nascimento vai ser acompanhado mensalmente por um ano e meio. “É quando entregamos à mãe a sorologia negativa dessa criança e encerramos o caso, inclusive epidemiologicamente”, pontua Calapodopulos. Já o bebê que contraiu a infecção por transmissão materna será tratado e acompanhado por uma equipe multidisciplinar e médica na Pediatria até completar 14 anos, idade a partir da qual passa a ser acompanhado e pela equipe da infectologia adulto no próprio HC-UFTM.
Unidade de Comunicação HC-UFTM