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INOVAÇÃO
Dispositivo artesanal de baixo custo é estratégia do Hospital das Clínicas da UFMG contra hemorragias maternas
Belo Horizonte (MG) - As hemorragias são uma das principais causas de morte no ciclo grávido-puerperal, que é aquela que ocorre durante a gravidez, o parto ou até 42 dias após a mulher dar à luz. No Brasil, segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro, foram 8.587 óbitos maternos registrados oficialmente entre os anos de 2016 e 2020. Para alertar a sociedade sobre a importância de debater o tema e promover políticas públicas de assistência e acolhimento que garantam o bem-estar materno e fetal, o dia 28 de maio foi instituído como Dia Nacional da Redução da Mortalidade Materna.
Nas últimas décadas, várias técnicas cirúrgicas foram desenvolvidas visando à preservação do útero em casos de hemorragias graves. Uma delas é o Balão Intrauterino (BIU) artesanal de Alves, dispositivo de baixo custo desenvolvido por um obstetra do Hospital das Clínicas da UFMG, vinculado à Rede Ebserh, estatal que administra 41 hospitais universitários federais. O dispositivo é utilizado no tratamento de pacientes atendidas na instituição, com diagnóstico de hemorragia para tamponamento intrauterino.
Ele ajuda a diminuir e controlar o fluxo sanguíneo, possibilitando o tratamento da hemorragia por técnicas conservadoras ou a recuperação da contração uterina em caso de atonia e acretismo. “O que eu fiz foi aperfeiçoar o que já existia. Esse tipo de tecnologia de saúde foi começando bem simples, sem sistema de drenagem e feito com um material que não infundia muito rápido. Eu melhorei o tempo para infusão, passei a utilizar um material mais resistente e coloquei sistema de drenagem”, explicou Álvaro Luiz Lage Alves, obstetra do HC-UFMG e idealizador do dispositivo.
Para confecção do BIU são utilizadas apenas sondas nasogástricas, preservativos masculinos não lubrificados, coletor urinário, fios cirúrgicos e esparadrapo. A vantagem é o baixo custo, de cerca de R$17,93 (valor referente a 2018, ano da tese de doutorado de Álvaro). A versão industrializada do balão custa atualmente cerca de R$800,00. “São materiais baratos e que estão disponíveis em qualquer unidade de saúde”, afirmou. Além disso, a grande diferença dele é o tempo total para inserção e a infusão do balão e, consequentemente, do tamponamento.
No Hospital das Clínicas da UFMG, a taxa de sucesso do dispositivo no controle das hemorragias é de cerca de 90%. “Ele é utilizado somente quando a terapia medicamentosa falhou. É a primeira medida invasiva em casos de hemorragia pós-parto normal, pois é uma maneira de evitar a abertura do abdômen da mulher. Na cesárea ele também é opção, mas há outras alternativas”, disse o especialista.
O uso do Balão Intrauterino (BIU) artesanal de Alves já está sendo expandido para outras unidades hospitalares do Brasil. Álvaro, que é Instrutor da Estratégia Zero Morte Materna por Hemorragia da Organização Panamericana de Saúde/ Ministério da Saúde, replica a técnica em aulas, congressos e vídeos no Youtube. “É uma forma barata e ágil de reduzir mortes; casos de histerectomia (retirada do útero); e ajudar a controlar o sangramento dentro do que chamamos de hora de ouro (primeira hora após o início da hemorragia). Se você não consegue esse controle após a primeira hora, a chance de gravidade é muito maior, e o balão atua muito mais rápido do que outras técnicas, principalmente no pós-parto vaginal”, finalizou.
Sobre a Ebserh
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Luna Normand com revisão de Danielle Morais
Legenda: Treinamento do d ispositivo de baixo custo foi desenvolvido por obstetra do Hospital das Clínicas da UFMG
Tags:
mortalidade materna; tratamento; dispositivo artesanal; hemorragias; hc-ufmg
Crédito: Kelly Borgonove