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DIA MUNDIAL
HUB destaca importância dos cuidados paliativos
Falar sobre o processo da morte não é fácil, mas o auditório lotado na última sexta-feira (7), no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), mostra que é possível quebrar tabus e preconceitos. A palestra sobre os benefícios dos cuidados paliativos para levar conforto no fim da vida reuniu profissionais de saúde, médicos, alunos e residentes do HUB. O evento celebrou o Dia Mundial de Cuidados Paliativos, comemorado dia 8 de outubro.
“Queremos chamar a atenção para a relevância do tema. Convivemos com a morte todo dia, mas ainda há dificuldade em falar sobre o assunto, até mesmo para os profissionais de saúde, que não foram treinados para isso”, afirma a médica geriatra e integrante da equipe de cuidados paliativos do HUB, Cláudia Arminda Correa.
Na palestra, a médica falou sobre a importância do conforto e do alívio ao sofrimento físico, psicossocial e espiritual às pessoas com doenças graves que já não têm mais chances de cura. “Os cuidados paliativos representam um plano de cuidados individual para promover qualidade de vida ao paciente e aos familiares. O objetivo não é reverter a doença ou retardar a morte, mas proporcionar conforto e alívio no período final da vida”, explica ela.
O trabalho é realizado por uma equipe multidisciplinar, que abrange médicos e profissionais de saúde, e inclui também a presença do capelão. “Devemos respeitar as crenças da pessoa e resgatar a espiritualidade, que faz parte dos cuidados paliativos, para que ela tenha um adeus final digno e em paz”, relata Cláudia.
O assunto ainda é novo no Brasil. Por aqui, ainda não há legislação própria, apenas resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM) que regulamentam o tema. No entanto, há sinais de crescimento. “É cada vez maior o número de profissionais que participam de congressos no país”, revela a médica. “Com todo o arsenal médico disponível, não é mais aceitável que o ser humano passe dor no século XXI”, finaliza.
A enfermeira da Unidade de Pacientes Críticos, Leila Xavier de Souza, conta que os cuidados paliativos fazem parte do dia a dia na unidade, que recebe muitos pacientes com câncer. “A palestra tem muito a agregar ao nosso trabalho e ajudará na assistência e a melhorarmos cada dia mais”, diz ela.
Já a enfermeira do Setor de Vigilância em Saúde, Isabela Pereira, aproveitou para aprimorar o olhar como familiar, além de destacar a importância do tema para a vida profissional. “Pensei na família, no meu pai, que está envelhecendo. Temos mesmo muita dificuldade de falar sobre a morte, mas faz parte da vida”, reflete.
Conforto no fim da vida
O sorriso no rosto da consultora de beleza Mariene Soares de Souza ao final da palestra não deixa transparecer a dor que viveu nos últimos meses, mas a força de sua fé. Em menos de um ano, ela perdeu os dois filhos para complicações da epidermólise bolhosa, doença que fragiliza pele e mucosas.
O filho mais novo, Daniel de Souza Rozendo, de 15 anos, ficou quase um mês internado no HUB, onde passou seus últimos dias de vida, em setembro, sob cuidados paliativos. “O Daniel dizia que se sentia em berço de ouro. Ele morreu no lugar certo, no hospital que amava e sempre foi cuidado. Me senti privilegiada por termos recebido tanto cuidado e carinho. Apesar de não querer morrer, ele morreu feliz”, desabafa.