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JULHO ÂMBAR
Maternidade da Ebserh em Natal (RN) conscientiza sobre luto parental, a dor que os pais enfrentam pela perda de um filho
O apoio à perda gestacional e neonatal atende às mães e famílias que vivenciaram perdas
Natal (RN) – Ninguém imagina a dor de perder um filho, a não ser que você se depare com essa situação nada fácil. A sociedade tem como parâmetro que, no ciclo natural da vida, os filhos enterrem seus pais e não o contrário. Quando isso acontece, causa um grande impacto psicológico nas famílias, em especial nos pais. Como forma de sensibilizar a população sobre esse tema, foi instituído o “julho âmbar”, mês escolhido para a conscientização do luto parental. A Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC-UFRN), vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), traz o alerta sobre a importância dessa causa, que acomete muitas famílias.
A psicóloga da unidade da Rede Ebserh, Caroline Lemos, esclarece que o luto parental “é o processo de reestruturação e adaptação à vida, enfrentado pelos pais após a perda de um filho em qualquer idade”. Ela explica, ainda, como é feita a abordagem na MEJC. “O apoio à perda gestacional e neonatal atende às mães e famílias que vivenciaram perdas gestacionais e neonatais na nossa instituição ou até mesmo em outra maternidade. Elas são indicadas pelos profissionais dos serviços e convidadas, por meio de ligações, a participar de um grupo de apoio ao luto”, explica.
Em 2019, Laisa Pinheiro teve uma perda neonatal. Davi, filho desejado e amado por toda a família, nasceu prematuro e faleceu com cinco dias de nascido. "Quando perdemos um filho, vivemos um luto invisível, e a sociedade não entende o tamanho da nossa dor", comenta. "Durante anos planejamos para ser mãe e de repente tudo desaparece. Nunca outro filho irá substituir a perda anterior, cada um é único em nossas vidas", afirma.
A assistente social da MEJC-UFRN, Gildeci Pinheiro, fala de que forma as ações de humanização voltadas para essa causa começaram na Maternidade. “Temos um grupo de apoio à perda gestacional e neonatal na MEJC. Nossas atividades foram iniciadas no fim do ano de 2016. Em 2017, o grupo de apoio se transformou no projeto de extensão chamado ‘Projeto com Amor’. De 2016 até o ano passado, já tínhamos realizado 92 encontros, que contaram com a participação de 269 mães, e que tiveram a assistência de 251 participações de profissionais e 202 estudantes”, relata.
Para Caroline Lemos, é importante essa publicização e a discussão sobre o tema, já que ele tem grandes impactos psicológicos. “O luto parental é invisibilizado pela sociedade, visto que foge da ‘ordem naturalmente esperada’. Assim, percebe-se um despreparo para lidar com a temática, seja da família do enlutado ou até mesmo de profissionais de saúde. Tal contexto muitas vezes vulnerabiliza ainda mais o enlutado, visto que gera desamparo e solidão, e pode intensificar a dificuldade de falar sobre o tema, expressar sentimentos de tristeza, culpa e outras preocupações. A literatura indica que todo esse sofrimento solitário é um fator de risco aumentado para diversos transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade, além de maior risco de adoecimento cardiovascular e do sistema endócrino e tentativas de suicídio. Algumas famílias relatam, ainda, dificuldade para o retorno ao mercado de trabalho e até conflitos conjugais. Dessa forma, vale a pena tornar ampla a discussão sobre o tema, bem como investir na qualificação de profissionais e serviços de saúde”, ressalta a especialista.
Saiba mais sobre o Projeto de Extensão
O ‘Projeto com Amor’ tem como objetivos: criar um espaço de fala e compartilhamento de saberes e experiências capaz de contribuir para o desdobramento do processo social do luto; promover cuidado multiprofissional por meio do atendimento de profissionais da enfermagem, psicologia, serviço social, ginecologia e psiquiatria; colaborar para a formação acadêmica e aperfeiçoamento profissional com foco no cuidado integral à mulher frente ao processo de luto; e estimular os profissionais de saúde para um atendimento acolhedor diante da perda fetal e neonatal.
Atualmente, são realizados encontros quinzenais, de modo virtual, com a participação em média de oito mães, profissionais da psicologia, serviço social e educação física, além de discentes de graduação e residentes. Essa modalidade de encontro online tem propiciado maior adesão das mães, visto que rompe com barreirais sociais e geográficas.
Uma das mulheres assistidas pelo projeto é Vilma Bezerra, que perdeu seu filho há um ano e seis meses. Emocionada, ela diz que o suporte para vivenciar o luto veio a partir do acolhimento recebido. "Através do projeto eu me senti acolhida e inserida na sociedade. Não se mede uma dor por tempo, se mede uma dor por amor, e esse amor encontrei no grupo", afirma.
Participam do projeto assistentes sociais, psicólogas, enfermeiras, profissional de educação física, obstetras, neonatologistas e psiquiatra. Além dos encontros quinzenais, os profissionais acolhem as diversas demandas das mulheres e familiares, funcionando como uma rede de apoio qualificada, de modo a facilitar o processo do luto.
Sensibilização sobre o luto parental: origens
A iniciativa surgiu de um movimento internacional que visa honrar os filhos que morreram e homenagear sua memória, fomentando o apoio social às famílias que tentam sobreviver após a morte de um filho. Ela é atribuída aos americanos Peter e Deborah Kulkkula, que perderam seu filho Peter John aos 19 anos. Há registros, desde 2013, de organizações e movimentos que celebram a data. No ano de 2019, a ONG Amada Helena trouxe a iniciativa para o Brasil, por meio da aprovação da Lei 15.313, que instituiu a Semana Estadual de Conscientização sobre a Causa do Luto Parental no Estado do Rio Grande do Sul.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Com informações da MEJC/Ebserh