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DIA MUNDIAL DO GLAUCOMA
Glaucoma: Uma doença silenciosa que pode resultar em cegueira
Dispositivos de monitoramento contínuo, terapias genéticas, de liberação prolongada e a laser avançadas, além do uso de inteligência artificial são algumas inovações que estão moldando o futuro do cuidado com o glaucoma. Imagem: Arquivo Ebserh
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Brasília (DF) – Imagine andar dentro de sua casa e de repente esbarrar nos objetos por apresentar perda de visão periférica. Esse é um dos sintomas sutis iniciais que podem ocorrer em pessoas com glaucoma, além da visão em túnel e, em casos mais avançados, dor ocular e náuseas. A doença tem tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em hospitais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2030, espera-se em torno de 100 milhões de portadores de glaucoma no mundo. A prevalência da doença aumenta com a idade, chegando de 3,5 a 5,5% perto dos 70 anos. Conforme explicou o oftalmologista Rodrigo Azevedo, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), no Brasil, encontrou-se prevalência de 3,4% para população acima de 40 anos de idade.
De acordo com o médico, o glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo. Ele explicou que a detecção precoce é imprescindível, já que 80% dos glaucomas não apresentam sintomas no início da doença. “Na maioria dos casos, pode ser controlada com tratamento adequado e contínuo. Quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores serão as chances de se evitar a perda da visão”, frisou.
O glaucoma geralmente está relacionado ao aumento da pressão intraocular, ligado, em sua maioria, à fatores genéticos. Mas também pode ter condições médicas sistêmicas associadas. “É normalmente uma doença assintomática, por isso a importância de consultas de rotina”, disse a oftalmologista Raíssa Casseb, chefe da Unidade da Visão do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), integrante do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA).
Formas de Diagnóstico
Exames oftalmológicos, como a tonometria (medição da pressão ocular), exame de fundo de olho e campimetria (teste de campo visual), além do exame de tomografia de coerência óptica do nervo óptico (OCT) são algumas formas de diagnóstico. A doença pode ser detectada somente com o exame oftalmológico cuidadoso, em que o médico faz a medida da pressão intraocular, o exame de fundo de olho e, quando necessário, solicita outros exames.
"Para o oftalmologista Alberto Diniz Filho, chefe do Serviço de Glaucoma do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores serão as chances de minimizar os impactos do glaucoma na visão.
Tratamento
Geralmente o tratamento do glaucoma é feito com colírios, podendo-se recorrer ao laser e à cirurgia, conforme recomendação médica. O tratamento é indicado de acordo com o tipo de glaucoma e estágio da doença, bem como a velocidade de progressão.
“Embora haja avanços empolgantes e promissores, é importante abordar as informações com cautela. Apesar do progresso na pesquisa, atualmente não há cura para a doença. Opções de tratamento visam reduzir a pressão intraocular e evitar mais danos ao nervo óptico”, explicou Alberto Diniz. “Embora o tratamento seja eficaz em deter a doença, ela não pode reverter os danos já presentes, a detecção precoce é essencial para evitar a deficiência visual e prevenir a progressão para cegueira”, destacou o médico.
O especialista informou que a pesquisa atual se concentra no desenvolvimento de novos medicamentos, técnicas cirúrgicas e potenciais terapias regenerativas. “Pesquisadores estão explorando novos sistemas de administração de medicamentos, como implantes de liberação sustentada, para melhorar a adesão e a eficácia dos medicamentos”, frisou Alberto Diniz.
O médico também ressaltou que dispositivos de monitoramento contínuo, terapias de liberação prolongada, terapias a laser avançadas, uso de inteligência artificial e terapias genéticas são apenas algumas das inovações que estão moldando o futuro do cuidado com o glaucoma. “É importante frisar que somente seu médico oftalmologista pode detectar o glaucoma em seus estágios iniciais e aconselhá-lo sobre a melhor conduta e tratamento”, alertou.
A oftalmologista Raíssa Casseb apontou como desafios na luta contra a doença a falta de recursos em algumas regiões do País, a necessidade de mais profissionais treinados e a resistência ao tratamento. “No entanto, as conquistas incluem avanços em pesquisas, novas opções de tratamento e iniciativas de conscientização que têm ajudado a melhorar o diagnóstico e o manejo da doença. Mas, o acesso a cuidados oftalmológicos e a educação sobre a doença ainda são desafios significativos”, pontuou a médica.
Serviços de referência
O HUBFS/CHU-UFPA é referência no atendimento ambulatorial e em cirurgia de glaucoma, realizando consulta oftalmológica com todo o aparato tecnológico necessário, como os equipamentos de campo visual, paquimetria, curva diária da PIO, retinografia simples e OCT. Além disso, oferta colírios gratuitamente na farmácia do Hospital. “No local, também realizamos a cirurgia de glaucoma denominada trabeculectomia, além do implante de tubo de glaucoma, sendo o único hospital na região Norte do Brasil que realiza esse procedimento pelo SUS”, completou a oftalmologista Raíssa.
O Serviço de Glaucoma do HC-UFMG tem a missão de promover assistência médica especializada aos pacientes suspeitos de glaucoma e/ou com glaucoma atendidos nos ambulatórios, serviço de pronto atendimento e unidades de internação a pessoas de todas as idades desde 1959.
Relato de paciente
A partir de um simples risco vermelho em um dos olhos, além de ressecamento nos olhos e visão cansada, Kamila Moraes, procurou ajuda médica, achando que estava precisando usar óculos. “Relatei os sintomas e ele descobriu que era escavação do nervo óptico. A partir daí passei a utilizar medicação para o controle da pressão ocular”, relatou.
No HUBFS/CHU-UFPA, a paciente conseguiu ter um melhor diagnóstico para a doença. “Quando cheguei no hospital, a visão no meu olho esquerdo já estava completamente comprometida, e no olho direito, parcialmente. Os médicos viram que meu caso era de emergência. Tomei medicação para controlar a pressão dos olhos, e com cerca de um mês, passei por cirurgia, primeiro no olho direito, pelo qual ainda enxergava”, disse.
Hoje a paciente segue sua vida, apesar de limitações. “Algumas calçadas dificultam o acesso de pessoas com a visão limitada. Em casa sou totalmente independente, assim como na academia onde pratico musculação e outras atividades físicas. Hoje a pressão nos olhos está controlada, mas preciso ir sempre ao oftalmologista”.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Rosenato Barreto, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh