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AUTOIMUNE
Doença celíaca: Ingestão de glúten causa inflamação intestinal e afeta a absorção de nutrientes
Único tratamento disponível e indicado para a doença celíaca é não consumir alimentos com glúten. (Imagens Freepik)
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Doença afeta a absorção dos nutrientes
Contaminação cruzada de alimentos
Brasília (DF) – Quem não gosta de um pãozinho quentinho no café da manhã, de uma bela macarronada ou uma saborosa pizza? O que para alguns parece uma refeição agradável, para pessoas com doença celíaca alimentos como esses são uma fonte de problemas causados pela ingestão do glúten, proteína presente no trigo, na cevada e no centeio. No mês em que é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca (16 de maio), especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) explicam essa doença autoimune que afeta 1% da população mundial, segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra).
Nessa doença, as próprias células de defesa imunológica do paciente agridem o organismo, causando um processo inflamatório crônico, que é provocado pelo glúten. “É um processo que ocorre na parede intestinal, levando à atrofia de suas vilosidades, que são dobras intestinais responsáveis pela absorção dos nutrientes importantes para o nosso corpo”, destaca Gabrielle Diniz, médica gastroenterologista do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande (HUAC-UFCG).
Ela explica que a doença ocorre em indivíduos geneticamente predispostos, e poderá se manifestar em qualquer fase da vida. Alguns sintomas são diarreia, constipação, excesso de gases, dor abdominal, má digestão, fadiga, dermatite, dor de cabeça, anemia, transtorno de humor, atraso puberal ou atraso na menstruação.
Tratamento e diagnóstico
O diagnóstico é realizado através da dosagem no sangue de anticorpos contra o glúten e da biópsia do intestino, por Endoscopia Digestiva Alta (EDA), para verificar se existe dano nos tecidos. “Até que o diagnóstico esteja estabelecido, o paciente não deverá suspender o glúten da dieta para não mascarar a doença”, frisa a médica.
Atualmente, o único tratamento disponível e indicado é a suspensão total do consumo de alimentos com glúten. Gabrielle Diniz alerta que é importante um acompanhamento médico regular para realização de exames periódicos e confirmar o controle da doença, além de suas possíveis complicações, através de exames de sangue (anticorpos, vitaminas), EDA, e Densitometria Óssea.
“A doença pode impactar na qualidade de vida do paciente. Além disso, aumenta risco de infertilidade, osteoporose, neuropatias, linfomas e neoplasias do trato digestivo”, completa a gastroenterologista.
Doença afeta a absorção dos nutrientes
A inflamação intestinal presente na doença celíaca causa dificuldade de absorção dos nutrientes pelo paciente, podendo levar à desnutrição, por deficiência de vitaminas e minerais. “Essa doença pode levar a diversas outras causadas por deficiência de micronutrientes absorvidos no intestino”, aponta a nutricionista Nayara Santos, do Hospital Universitário Júlio Müller, da Universidade Federal de Mato Grosso (HUJM-UFMT).
Ela esclarece que a dieta com exclusão total do glúten é fundamental para o paciente celíaco. Nayara Santos explica que existem pessoas com alguma intolerância ao glúten, e que conseguem conviver com uma certa quantidade desse componente, sem ter todos os sinais e sintomas que a pessoa que tem a doença celíaca apresenta.
Contaminação cruzada de alimentos
A contaminação cruzada pode ocorrer tanto com os alimentos, como por utensílios utilizados na preparação de refeições. Nayara Santos chama atenção para essa contaminação em outros alimentos que, naturalmente, não possuem glúten. É o caso da aveia, que no seu processo de produção, pode ser processada nos mesmos locais que os cereais que contêm glúten. “É difícil encontrar uma aveia que não tenha resquícios de glúten. Então, é preciso tomar cuidado com esse alimento”, diz Nayara.
Gabrielle Diniz frisa que é necessário o uso de utensílios exclusivos na preparação de refeições sem glúten. Ela também aponta que as mãos dever ser bem lavadas antes da manipulação dos alimentos. Separar panelas, talheres, copos, pratos e ter uma higienização adequada das bancadas que são utilizadas para cozinhar, também são ações necessárias para evitar a contaminação cruzada. Em caso de utilização de algum utensílio em comum, é preciso que haja uma higienização e esterilização adequadas.
Rotulagem de produtos
A gastroenterologista Gabrielle Diniz lembra que o glúten também pode ser encontrado em produtos como cosméticos e remédios. Ela recomenda a verificação do rótulo de todos os produtos para consumo ou utilização pela pessoa celíaca. “Infelizmente pode ocorrer, inclusive, de um fabricante não especificar todos os componentes da fórmula do seu produto. Por isso, é importante a pessoa ficar atenta para a presença dos sintomas, mesmo com os cuidados adequados”, completa.
No Brasil, é obrigatório por lei federal que todos os alimentos industrializados tenham em seus rótulos a informação sobre a presença ou não de glúten.
Viver bem sem o glúten
A nutricionista explica que com a retirada do glúten há uma melhora nos sintomas da doença. Mas ainda é necessário verificar o grau de inflamação ocorrida, e quanto tempo levou até o diagnóstico, e, assim, cuidar da recuperação do epitélio intestinal (células do intestino). A pessoa vai conseguir consumir todos os outros alimentos normalmente, e ter uma boa absorção dos nutrientes, livre da inflamação.
“Os alimentos que contém glúten são, principalmente, cereais, fontes de carboidrato. Mas a pessoa celíaca pode substituir esses cereais por outros livres de glúten, como o milho e mandioca. Pode trocar o pão de trigo pelo cuscuz ou pela tapioca, que são fontes de carboidrato sem glúten”, acrescenta Nayara.
De acordo com a nutricionista, em muitas situações quem tem doença celíaca precisa de suplementação de nutrientes. “É muito comum uma grave perda de peso nos pacientes com doença celíaca. Depois da recuperação do intestino, e quando não houver mais inflamação, com a exclusão total do glúten, o paciente poderá voltar a ter uma alimentação balanceada e uma absorção de nutrientes de forma normal”, conclui.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Rosenato Barreto, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh