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Com apoio do MJSP, Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagra ação contra o golpe do falso pai de santo
Criminosos se passam por líderes religiosos nas redes sociais, oferecendo supostos trabalhos espirituais. Foto: divulgação
Brasília, 16/10/2025 – Com o apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e da Polícia Civil de São Paulo (PC/SP), a Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PC/RS) deflagrou a Operação Falsa Fé, uma ofensiva interestadual contra uma associação criminosa especializada em aplicar o golpe do falso pai de santo. Durante a ação, 120 policiais dos dois estados cumpriram 18 mandados de busca e apreensão e sete de prisão temporária nas cidades paulistas de Itapevi, Cotia, Jacareí, além da capital São Paulo.
Por meio do golpe, os criminosos se passam por líderes religiosos nas redes sociais, oferecendo supostos trabalhos espirituais. Uma das vítimas é uma mulher que chegou a perder mais de R$ 180 mil. O caso, investigado pela PC/RS, revela uma trama de manipulação psicológica, ameaças e extorsão.
Suposta mãe de santo
Tudo começou em 29 de maio de 2025, quando a vítima viu em uma rede social um anúncio de uma suposta mãe de santo que dizia ter o poder de “trazer o amor de volta” por meio de rituais espirituais. Abalada emocionalmente após o término de um relacionamento, ela entrou em contato com a criminosa, que se apresentou como “Mãe Natasha”.
Logo na primeira conversa, a golpista afirmou que poderia resolver o problema amoroso mediante um ritual de “amarração”, no valor de R$ 300. A vítima realizou o pagamento via PIX, mas, em seguida, a falsa mãe de santo alegou que seria necessário um “trabalho de dominação de coração”, exigindo mais R$ 750.
Quando a vítima tentou desistir, foi informada de que o cancelamento não seria possível porque os “nomes já estavam na mesa”, e que as entidades poderiam puni-la caso interrompesse o processo. A partir daí, começou uma escalada de exigências e ameaças.
Em poucos dias, a suposta religiosa passou a pedir valores cada vez maiores, alegando que as entidades espirituais exigiam novos rituais, como benzimentos, casamento de almas e afastamento de rivais. A criminosa ainda garantia que todos os valores seriam devolvidos em poucas horas após cada ritual, o que nunca aconteceu.
Suposto pai de santo
No dia 30 de maio de 2025, outro personagem entrou em cena: um homem que se apresentou como pai de santo Hugo Castiel, suposto chefe do terreiro. Em tom autoritário, ele começou a intimidar a mulher, dizendo que ela estaria “enganando as entidades” e que sofreria consequências se não realizasse os pagamentos exigidos.
Os criminosos se revezavam em mensagens e ligações, utilizando uma linguagem mística e ameaçadora. A vítima, temendo ser exposta ao ex-companheiro — cujos dados os golpistas afirmavam conhecer —, acabou cedendo às pressões e realizando sucessivas transferências via PIX e TED para diferentes contas bancárias.
Os valores pagos foram destinados a contas de diversas pessoas físicas, em diferentes instituições financeiras. Os pagamentos variavam entre R$ 1,5 mil e R$ 37 mil, chegando a somar mais de R$ 180 mil ao longo de um mês.
Em determinado momento, o golpista Pai Hugo chegou a inventar que precisava comprar um bode preto para concluir um dos rituais, pedindo mais R$ 1,5 mil. Depois, afirmou que o dinheiro da vítima estava bloqueado pelo banco e que seria necessário pagar taxas adicionais de 4%, depois 13,5%, para a liberação dos valores — totalizando novos prejuízos.
Os criminosos ainda enviaram prints falsos de conversas com supostos gerentes bancários e até de um empresário que teria uma loja de carros, tentando dar credibilidade às mentiras.
Mesmo diante de sucessivos pagamentos e promessas não cumpridas, as ameaças continuaram. O golpista dizia que “as entidades estavam furiosas” e exigiam novos valores para “reforçar o trabalho espiritual”. Cansada, emocionalmente abalada e endividada, a vítima finalmente decidiu procurar a Polícia Civil, que agora investiga o caso como estelionato e extorsão.