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DA TERRA À MESA
"Da Terra à Mesa" fortalece a transição agroecológica no Sul do Brasil
Foto: Fernanda do Canto
Um movimento iniciado em 1999 por mulheres da comunidade do Pinhalão, em União da Vitória (PR), deu origem à primeira feira de sementes da região. Mais de duas décadas depois, a Feira Regional de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade consolidou-se como um dos principais encontros de celebração da agricultura familiar e da cultura local.
Na 20ª edição do evento, realizada nos dias 29 e 30 de agosto, agricultores familiares, guardiões de sementes e organizações sociais celebraram mais uma conquista: o lançamento do projeto “Promoção, fortalecimento e ampliação de sistemas de produção agroecológicos e em transição”, aprovado no edital Da Terra à Mesa, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), por meio da Secretaria de Agricultura Familiar e Agroecologia (SAF).
O edital tem como objetivo fomentar a produção de alimentos saudáveis e ampliar a transição agroecológica no país, apoiando a estruturação produtiva, a assessoria técnica e a formação de agentes comunitários. Segundo Geane Bezerra, coordenadora-geral de Inclusão Socioprodutiva da SAF, a iniciativa “fortalece experiências já existentes no território, desenvolvidas por organizações da sociedade civil, como no caso da rede coordenada pelo Centro Vianei”.
Sementes como resistência
Além de garantir a circulação de sementes crioulas, as feiras cumprem papel fundamental na conservação da agrobiodiversidade, na soberania alimentar e na valorização do conhecimento tradicional. Elas aproximam gerações, ensinando jovens e crianças sobre a importância da agroecologia e da preservação das sementes crioulas frente ao modelo hegemônico do agronegócio.
Para Geane, “as sementes crioulas são resilientes, adaptadas ao território, e representam a soberania da agricultura familiar, garantindo autonomia frente ao sistema produtivo e aos pacotes tecnológicos do agronegócio. Feiras como essa dão visibilidade a esse movimento”.
Cada estande torna-se um espaço de trocas, técnicas e histórias de vida, fortalecendo a identidade cultural e o protagonismo das famílias. De acordo com Fábio Pereira, da AS-PTA, “quem depende da semente comercial está ‘alugando’, pois precisa pagar todo ano. Já quem mantém a semente crioula tem autonomia, pode plantar quando quiser e conservar a diversidade genética. Mais de 100 feiras já foram realizadas por essa rede de famílias guardiãs”.
Políticas públicas e organização popular
O lançamento do projeto durante a feira reforça a importância da união entre comunidades e políticas públicas. A iniciativa é executada pelo Centro Vianei, em parceria com CEMEAR (SC), CEPAGRO (SC), CETAP (RS) e AS-PTA (PR).
Mais do que a comercialização de sementes, o evento simboliza um pacto de cuidado com o território, reafirmando a agricultura familiar como pilar da saúde, da justiça social e da preservação ambiental. A transição agroecológica, neste contexto, se mostra um caminho coletivo, no qual Estado e sociedade se unem para cultivar um futuro mais diverso e sustentável.