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ECA 35 anos
Avanços, desafios e compromissos na garantia dos direitos das crianças e adolescentes
Há 35 anos, o Brasil deu um passo histórico na proteção da infância e adolescência com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Fruto da mobilização da sociedade civil e do avanço democrático, o ECA tornou-se referência internacional ao garantir a proteção integral e prioritária às crianças e adolescentes.
Contudo, apesar dos inúmeros avanços, os desafios ainda são muitos – e se tornam ainda mais urgentes diante das profundas desigualdades sociais que persistem no país.
Avanços inquestionáveis, desafios inadiáveis
Não há como negar os importantes progressos promovidos pelo ECA: a criação dos conselhos tutelares, o fortalecimento das políticas públicas voltadas à infância, os mecanismos de enfrentamento à violência, além da redução da mortalidade infantil.
Mas os obstáculos para a concretização plena dos direitos ainda são evidentes. O Brasil continua sendo um país marcado pela desigualdade estrutural, racismo institucional e invisibilidade de populações, especialmente de crianças indígenas, quilombolas, periféricas e em situação de vulnerabilidade social, o que compromete o acesso igualitário à cidadania desde os primeiros anos de vida.
Sociedade civil, Estado e poder público: compromissos que precisam se concretizar
Mesmo com um marco legal avançado, a efetivação dos direitos requer ação contínua e articulada entre sociedade civil, Estado e poder público. É urgente a implementação de políticas públicas integradas, que garantam acesso à educação, saúde, cultura, esporte, proteção social e espaços seguros para o desenvolvimento integral de todas as crianças.
Infelizmente, ainda observamos a omissão do Estado em áreas fundamentais, a interrupção de programas essenciais e o enfraquecimento de espaços de participação social. Muitas redes de proteção – como os próprios conselhos tutelares – operam de forma precarizada, sobrecarregadas e sem o suporte necessário para garantir os direitos previstos em lei.
A visão do Conselho Nacional de Saúde
No âmbito do Conselho Nacional de Saúde, a proteção da infância é prioridade. A Comissão Intersetorial de Atenção à Saúde nos Ciclos de Vida reconhece que não há saúde pública de qualidade sem o cuidado integral desde a gestação. Fortalecer o SUS, garantir recursos adequados e promover uma atuação intersetorial é também lutar pela vida e pelos direitos das crianças brasileiras.
A saúde vai além da ausência de doenças: envolve alimentação adequada, afeto, segurança, acesso à educação e ambientes saudáveis. Por isso, fortalecer a atenção primária, o acompanhamento domiciliar e as ações comunitárias é essencial para garantir o cuidado desde a primeira infância.
Compromisso com o presente e o futuro
Neste marco de 35 anos do ECA, reafirmamos nosso compromisso com a promoção e defesa incondicional dos direitos das crianças e adolescentes. Lutamos por uma infância livre da violência, da fome, do abandono, da exclusão e do racismo. Defendemos uma sociedade que reconheça a criança não apenas como o futuro, mas como parte essencial do presente – um presente que deve ser protegido e valorizado.
Nosso maior desafio é fazer com que o ECA seja uma realidade concreta em cada casa, cada rua, cada escola, cada posto de saúde. Isso exige ação conjunta, escuta ativa das comunidades e o respeito à diversidade cultural, especialmente dos povos originários e comunidades tradicionais.
Que cada criança cresça com amor, respeito e oportunidades. E que jamais deixemos de lutar para que seus direitos sejam garantidos – todos os dias. Que possamos seguir firmes na construção de um Brasil onde ser criança não seja um risco, mas um direito plenamente assegurado.
Vânia Lúcia Ferreira Leite
Coordenadora da Comissão Intersetorial de Atenção à Saúde nos Ciclos de Vida do Conselho Nacional de Saúde