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JANEIRO BRANCO
Brain Rot: Excesso de conteúdos curtos e superficiais afeta a saúde mental
São Carlos (SP) - O primeiro contato com as telas acontece logo ao acordar, com o despertador do smartphone. Ao longo do dia, o aparelho continua como uma espécie de segunda pele: é utilizado para conversar com amigos e familiares, estudar, trabalhar e se entreter. Entre uma tarefa e outra, uma espiadinha nas redes sociais. Mas a rotina conectada tem um preço - às vezes muito elevado. O consumo constante de conteúdo digital, especialmente de forma rápida e superficial, pode afetar nossa saúde cognitiva de maneiras invisíveis, profundas e até irreparáveis. Assim, a campanha Janeiro Branco, que dedica o primeiro mês do ano à reflexão sobre o cuidado com a saúde emocional, também representa um convite a uma vida mais equilibrada entre o online e o offline.
A dificuldade de se desconectar é um fenômeno mundial. Em 2024, o termo brain rot, que significa “apodrecimento cerebral”, foi escolhido como a palavra do ano pela Universidade de Oxford, após uma votação pública que reuniu mais de 37 mil participantes.
De acordo com a psicóloga hospitalar Jéssica Mazocato Cardoso, do Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (HU-UFSCar), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), ainda que o conceito tenha um tom pejorativo, é utilizado para refletir como a superexposição a conteúdos superficiais ou viciantes, facilmente acessíveis em plataformas como Instagram, TikTok, Facebook e outras redes sociais, pode afetar a cognição de forma prejudicial.
“O fenômeno brain rot pode afetar a saúde mental de várias formas, tanto no curto quanto no longo prazo”, adverte a psicóloga. “A exposição constante tem um impacto psicológico e mental significativo, e pode causar uma série de efeitos, como apatia, falta de motivação e dificuldade em se engajar em tarefas desafiadoras, além de aumentar a ansiedade e o estresse devido à comparação nas redes sociais e sobrecarga de informações”, completa.
Ainda segundo a psicóloga, outras consequências negativas são: a diminuição das capacidades de foco e atenção, prejudicando a produtividade e o bem-estar emocional; a redução da habilidade de tomar decisões e raciocinar criticamente; a desconexão com o mundo real, levando ao isolamento e à solidão; os obstáculos nos processos de memória e aprendizado, dificultando a retenção de informações complexas; e prejuízos para a regulação emocional, aumentando impulsividade e comportamentos autodestrutivos.
Conteúdo digital pode causar dependência
O uso constante de conteúdos digitais cria uma sensação de prazer imediato, mas temporário, fazendo com que o indivíduo adquira um vício nesses estímulos rápidos. Contudo, é possível quebrar o ciclo e o segredo está em adotar comportamentos que protejam a saúde mental.
“É importante adquirir hábitos saudáveis no consumo de mídia, como limitar o tempo nas redes sociais, buscar conteúdos de qualidade, praticar atividades mentais desafiadoras e fazer pausas regulares para desconectar e recarregar as energias”, destaca a psicóloga.
Mais saúde e menos conteúdo superficial
Criada em 2014, a campanha Janeiro Branco busca conscientizar a população sobre a importância do cuidado com a saúde mental, com foco na reflexão sobre a vida, relações sociais e emoções. A escolha do primeiro mês do ano tem um significado simbólico, já que muitas pessoas estão mais propensas a avaliar suas condições de existência nesse período.
Assim como uma “folha em branco”, a mobilização convida todos a escreverem ou reescreverem suas histórias de vida, reforçando a necessidade de preservar o bem-estar psicológico. Esse cuidado se torna ainda mais necessário diante dos impactos negativos causados pelo uso excessivo de tecnologia, como o fenômeno do brain rot.
Rede Ebserh
O HU-UFSCar faz parte da Rede Ebserh desde outubro de 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.