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Doenças do coração: pré-natal permite a identificação de cardiopatias críticas no feto
Alterações estruturais ou funcionais no coração que ocorrem em fases precoces do desenvolvimento fetal integram um grupo de doenças conhecido como cardiopatia congênita – “defeitos” cardíacos presentes desde o nascimento. Nos casos mais graves, costuma ser percebida logo que o bebê nasce. Já nos menos graves, o diagnóstico pode acontecer só mais tarde, na idade adulta. Dados do Ministério da Saúde mostram que, no Brasil, anualmente, cerca de 29 mil crianças nascem com alguma cardiopatia e cerca de 23 mil precisarão de abordagem cirúrgica cardíaca no primeiro ano de vida.
Para reforçar a importância de falar sobre o tema, foi instituído o Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita, celebrado no próximo domingo (12). O Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh é referência para o atendimento às crianças portadoras de cardiopatia congênita. Em entrevista, a coordenadora do Serviço de Cardiologia Pediátrica do HC-UFMG/Ebserh, Lícia Campos Valadares, fala as causas, tratamentos e cuidados.
- Quais são as principais alterações cardíacas que podem acometer o feto?
As anormalidades cardíacas fetais podem se relacionar a alterações do ritmo cardíaco, estrutura das câmaras ou músculo do coração. Entretanto, o termo cardiopatia congênita refere-se principalmente às anormalidades estruturais que vão desde comunicações entre as câmaras do coração (como comunicações interventriculares) e lesões leves das valvas cardíacas, até formas críticas que, embora mais raras, necessitam de intervenções precoces (nos primeiros dias ou semanas de vida). Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, 1 a cada 1000 nascidos vivos apresentam cardiopatias congênitas críticas e desses, 30 % recebem alta hospitalar sem diagnóstico e apresentam evolução desfavorável.
2- Quais são as principais causas das cardiopatias congênitas?
Os principais fatores que podem aumentar o risco de cardiopatia congênita são: familiares (desordens genéticas familiares, história familiar de cardiopatia congênita), maternos (doenças maternas, infecções específicas, uso de determinadas drogas teratogênicas na gestação) e fetais (síndromes genéticas associadas). Entretanto, na maioria dos casos, não se identificam fatores causais.
3- Como é feito o diagnóstico? Por que em algumas crianças a cardiopatia só é descoberta anos mais tarde?
O diagnóstico das cardiopatias congênitas baseia-se em dados clínicos e exames complementares. O espectro de apresentação dessas doenças engloba: ausência de sintomas; manifestações clínicas discretas que podem passar desapercebidas; aparecimento de sintomas graves precoces, como cianose e sinais de baixo débito cardíaco que ocorrem ainda no período neonatal e estão relacionados a lesões críticas. O ecocardiograma representa o principal recurso para o diagnóstico dessas doenças e o Teste do Coraçãozinho é um exame que auxilia na triagem. A ausência de sintomas, bem como a dificuldade de acesso aos serviços de saúde nos primeiros meses ou anos de vida, pode levar ao diagnóstico tardio.
4- Quais os tratamentos disponíveis atualmente no HC-UFMG?
O HC-UFMG encontra-se entre os 69 serviços da rede assistencial pública nacional com estrutura física, equipamento e pessoal capacitado para o atendimento às crianças portadoras de cardiopatia congênita. Aqui é possível o atendimento integral à criança com cardiopatia congênita, incluindo diagnóstico e acompanhamento pré-natal, planejamento do parto dos fetos cardiopatas, cuidados de terapia intensiva neonatal e pediátrica com integração direta dessas equipes com a de cardiologia pediátrica/cirurgia cardiovascular, programação terapêutica, realização de intervenções hemodinâmicas - cateterismo intervencionista e cirurgias cardíacas pediátricas nos mais variados graus de complexidade, além do acompanhamento ambulatorial dos pacientes.
5- É possível evitar que o feto adquira e desenvolva uma cardiopatia ou que ela evolua ao longo dos anos?
Existem algumas drogas cujo uso pode se relacionar a maior incidência de cardiopatias congênitas e devem ser evitadas durante a gestação, como anti-inflamatórios, algumas drogas anticonvulsivantes e derivados da vitamina A, como o ácido retinóico. Entretanto, na maioria dos casos, não identificamos um fator causal que possa ser evitado.
6- Neste sentido, qual a importância do cuidado pré-natal?
O acompanhamento pré-natal permite a identificação das cardiopatias críticas e que exigem um cuidado pós-natal imediato. O exame morfológico fetal detalhado é de fundamental importância nesse processo. O ecocardiograma fetal representa a principal ferramenta para o diagnóstico detalhado e planejamento posterior.
7- Pacientes com cardiopatia congênita conseguem levar uma vida normal ou necessitam de restrições e cuidados?
O espectro de cardiopatias congênitas é muito amplo. A qualidade de vida está na dependência do tipo de lesão e possibilidade de correção. A maioria dos casos, após correção, não necessita de cuidados especiais e não apresenta restrições maiores.
Redação: Luna Normand (Jornalista - HC-UFMG/Ebserh)