Descuido com a higiene e falta de visita ao dentista prejudicam a saúde bucal dos brasileiros

Nesta reportagem você vai ver:

Especialista apontam erros comuns da população

Avaliação do profissional ajuda a identificar doenças

Hospitais universitários atuam na formação de pessoal

Mito ou verdade?

Brasília (DF) - É verdade que o brasileiro até exagera na escovação de dentes? Comer maçã ajuda a reduzir o mau hálito? Bicabornato clareia os dentes? Devemos molhar a escova? Chiclete ajuda? Estas são algumas das dúvidas comuns quando o assunto é a saúde da boca e dos dentes e, para esclarecer, foram consultados profissionais que atuam nos hospitais universitários da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), por ocasião do Dia Mundial da Saúde Bucal, celebrado em 20 de março.

“O Dia Mundial da Saúde bucal tem como objetivo conscientizar a população da importância dos cuidados com a cavidade oral e, neste contexto, promove a saúde bucal como parte integrante da saúde geral do indivíduo”, defendeu a cirurgiã-dentista do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes), Bianca Scopel Costa.

O cirurgião-dentista Eduardo Scardua, também do Hucam, explicou que eles atuam na identificação e eliminação de focos infecciosos orais previamente a cirurgias cardíacas, quimioterapia ou radioterapia e transplante; na prevenção da pneumonia associada à ventilação; no tratamento de dor de origem bucal; na identificação, diagnóstico e tratamento de lesões orais; naprevenção e tratamento de mucosite por meio de laserterapia; nas adaptações de prótese para progressão da consistência da dieta, entre outros. O paciente oncológico Fernando Caoduro, por exemplo, recebe este cuidado no Hospital Dia do Hucam, com aplicação de laserterapia para prevenção de mucosite. “Eu não conseguia comer direito e graças a este tratamento estou me sentindo bem melhor”, afirmou.

Especialista apontam erros comuns da população

O atendimento no leito, fundamental para a qualidade do tratamento durante a internação, também é feito no Hospital de Doenças Tropicais, da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT), de acordo com a cirurgiã-dentista Karina e Silva Pereira. “Realizamos avaliação odontológica no leito, orientações individualizadas de cuidados orais durante a internação, tratamento de lesões orais, laserterapia e prescrição e acompanhamento de higiene oral, especialmente para os pacientes internados em leito semi-intensivo, com ou sem intubação orotraqueal”, afirmou.

Segundo ela, muita gente só procura o dentista ou informações profissionais quando já têm problemas e este é um dos principais erros quando se trata de saúde bucal. “É preciso fazer visitas regulares ao dentista. Outros erros comuns são relacionados à escovação de forma incorreta, não usar fio dental diariamente e exagero no consumo de açúcar e alimentos ácidos sem o devido cuidado”, explicou, lembrando que na consulta ao dentista é possível, além dos cuidados com a boca e os dentes, identificar possíveis doenças.

Avaliação do profissional ajuda a identificar doenças

“A cavidade bucal pode representar um indicador da saúde geral e bem-estar. É a porta de entrada para o sistema digestório e respiratório e sua microbiota complexa pode causar infecções locais e sistêmicas. Estudos já relacionam infecções bucais com doenças cardiovasculares e diabetes, por exemplo”, acrescentou a cirurgiã-dentista Mariah Luz Lisboa, do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC).

Segundo a especialista, algumas doenças podem se manifestar inicialmente na boca. “Principalmente doenças reumatológicas associadas com o sistema imunológico, como líquen plano, pênfigo vulgar, doença de crohn e doença de behçet, por exemplo. Infecções pulmonares, tuberculose e infecções fúngicas, podem se manifestar na cavidade oral”, ensinou a especialista, acrescentando que a saúde bucal é importante para adequada nutrição, fala e autoestima.

Hospitais universitários atuam na formação de pessoal

Os hospitais da Rede Ebserh têm um importante papel na formação de especialistas. É o caso, por exemplo, do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), que oferece cuidados aos pacientes internados ou encaminhados via Sistema de Regulação para tratamento odontológico em centro cirúrgico e outras atividades, como os trabalhos da equipe de cirurgia bucomaxilofacial, e tem amplo campo de ensino.

“No Humap, a formação de pessoal, especialmente na área da Odontologia, está integrada à residência multiprofissional ao paciente crítico, com duas vagas anuais e duração de dois anos, e à residência uniprofissional de cirurgia bucomaxilofacial, com duas vagas anuais e duração de três anos”, afirmou Aline Gurski, cirurgiã-dentista.

Técnico dá dica para escovação

A formação de pessoal também é um fator de destaque no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, da Universidade Federal do Alagoas (HUPAA-Ufal), que é campo de estudo para os graduandos de Odontologia, de acordo com o técnico em saúde bucal do hospital, Leandro de Mello Azevedo. A instituição oferece serviço de odontologia aos pacientes oncológicos e no hospital-dia acolhe pacientes com doenças infectocontagiosas com serviço odontológico exclusivo, além de oferecer assistência odontológica na UTI adulto.

Como técnico da área, Leandro é um defensor da boa informação para promover a saúde geral a partir dos cuidados com a boca, procurando derrubar os mitos. Ele aproveita e esclarece uma dúvida comum sobre a limpeza da boca antes de dormir: “Esse é o momento de caprichar na escovação e uso do fio dental, visto que durante a noite as condições para o desenvolvimento das bactérias são muito favoráveis - ambiente úmido, baixa luminosidade e temperatura adequada. Logo, se fizer uma boa higiene não haverá proliferação de microorganismos”, afirmou.

Mito ou verdade? 

É preciso esperar 20 minutos após cada refeição para escovar os dentes.

VERDADE. Especialmente após consumir alimentos ácidos, como frutas cítricas e refrigerantes. Esperar esse tempo permite que a saliva neutralize a acidez e proteja os dentes.

Brasileiro exagera na escovação de dentes.

MITO. Na verdade, muitas pessoas não escovam corretamente ou com a frequência ideal. Além disso, há casos de escovação excessiva ou com muita força, o que pode desgastar o esmalte e causar retração gengival. O ideal é escovar com técnica adequada e sem excesso de pressão.

Uma cárie não tratada pode provocar doença do coração.

VERDADE. Infecções bucais, como cáries profundas e periodontites, podem liberar bactérias na corrente sanguínea e aumentar o risco de problemas cardíacos, como endocardite bacteriana.

Se a gengiva sangrar ao usar fio dental, é preciso insistir até que pare de sangrar.

DEPENDE. O sangramento pode ser um sinal de gengivite. O correto é manter o uso do fio dental diariamente, com movimentos suaves, para evitar sua ocorrência.

Uso de bicabornato para tentar clarear os dentes não é indicado.

VERDADE. O bicarbonato é um produto abrasivo que promove desgaste da estrutura dental. Os danos à estrutura dental são permanentes e favorecem, entre outros, a sensibilidade dentária.

Devemos escovar os dentes ao acordar e depois do café da manhã.

VERDADE. No entanto, caso não seja possível realizar a escovação nesses dois momentos, o melhor é fazê-lo após o café da manhã.

Já temos flúor suficiente na água. Não é preciso aplicar flúor nos dentes.

MITO. Não é recomendado a população em geral aplicar flúor sem a recomendação do dentista. No entanto em algumas situações o profissional pode indicar o uso combinado de meios de flúor. Exemplo: pacientes com dificuldade de controlar a cárie, xerostomia, uso do aparelho ortodôntico, entre outros. Importante ressaltar que outros itens do dia a dia, como o creme dental, já contêm flúor em sua composição.

Uma boa escovação deve durar pelo menos 10 minutos.

MITO. Muito mais importante do que o tempo de duração é a qualidade em que é realizada. É importante que o paciente seja orientado em relação à escova e ao creme dental correto, assim como sobre a técnica de escovação adequada, que, inclusive, varia com a idade. A escova deve ser macia e a troca da mesma a cada três meses. Importante ressaltar o uso do fio dental.

Escova macia é melhor que média ou dura

VERDADE. A escova deve ser macia e de cabeça arredondada, como também não há necessidade de força excessiva. Escova dura e muita força na escovação prejudicam a saúde dental; em muitos casos podem surgir lesões não cariosa na parte cervical do dente devido ao mal uso das escovas.

Ferida na boca que não sara é sinal de câncer

DEPENDE. O ideal é procurar um dentista sempre que uma lesão for identificada na cavidade oral e não regredir em até três semanas. Contudo, não necessariamente estaremos diante de uma lesão cancerígena. Existem muitas lesões benignas que podem surgir na boca.

Se não houver outra opção, o chiclete sem açúcar pode ajudar na limpeza bucal após uma refeição.

VERDADE. O ideal é realizar a escovação. Mas o uso de goma de mascar sem açúcar estimula a salivação que é um meio natural de proteção contra cárie.

Maçã ajuda a reduzir o mau hálito

VERDADE. A maçã é um alimento que promove uma limpeza durante a mastigação devido a sua textura da fruta, além de equilibrar o pH por estimular o aumento da salivação.

A língua também precisa ser escovada.

VERDADE. Até mesmo quem não tem dentes precisa escovar a língua, pois ela acumula bactérias, resíduos alimentares, células descamadas e pode contribuir para mau hálito e outras infecções associadas.

Dente siso não tem função e deve ser extraído

DEPENDE. Se os dentes estão em posição correta no arco, irão participar da mastigação. Se estiverem inclusos ou impactados, há indicação de extração.

Não devemos molhar a escova depois de colocar a pasta

VERDADE. Molhar pode diluir os princípios da pasta dental comprometendo a eficácia da escovação.

Tomar muito antibiótico na infância pode enfraquecer os dentes.

MITO. Com a exceção de antibióticos muito específicos, eles não vão alterar a estrutura dental, nem gerar manchas. Os antibióticos mais utilizados durante a infância não causam comprometimento.

Fontes:

Aline Joana Linhares Gurski, cirurgiã-dentista do Humap-UFMS/Ebserh

Bianca Scopel Costa, cirurgiã-dentista do Hucam-Ufes/Ebserh

Eduardo Filipe da Paz Scardua, cirurgião-dentista do Hucam-Ufes/Ebserh

Karina e Silva Pereira, cirurgiã-dentista do HDT-UFT/Ebserh

Leandro de Mello Azevedo, técnico em saúde bucal do HUPAA-Ufal/Ebserh

Mariah Luz Lisboa, cirurgiã-dentista do HU-UFSC/Ebserh

Sobre a Ebserh

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

Reportagem: Sinval Paulino, com edição de Danielle Campos

Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh