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Representantes do povo Juma trazem demandas territoriais a Brasília
- Foto: MPI ASCOM
As últimas remanescentes do povo Juma vieram a Brasília para tratar de demandas referentes à Terra Indígena de 38 mil hectares que ocupam em Canutama, município localizado na calha do rio Purus, Sul do Amazonas. A visita histórica do trio de mulheres indígenas ao Ministério dos Povos Indígenas (MPI), à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), à Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde e ao Ministério da Educação (MEC) durou de segunda a sexta-feira (1º a 5).
“Queríamos aproveitar a oportunidade para trazer nossas demandas e ter nossos direitos reconhecidos. Precisamos falar com autoridades do MPI e da FUNAI. Somos mulheres e tomamos a decisão de ir a Brasília porque temos reivindicações sobre nosso território e queremos falar por nós, sem que outros tragam nossa fala para cá”, determinou a vice-cacica Maytá Juma.
A principal reivindicação das irmãs, filhas de Aruká Juma, pertencentes ao povo de recente contato é a transferência do modelo de atendimento específico e diferenciado que recebem. Elas pedem que o atendimento seja realizado pela Frente Etnoambiental Madeira - que foi extinta, porém recriada durante a atual reestruturação da FUNAI - em vez da Coordenação Regional (CR) Madeira.
Além disso, requisitam regularização fundiária dos limites da Terra Indígena Juma, plaqueamento, monitoramento, fiscalização, bem como maior presença do MPI, da FUNAI e SESAI no território, porém em constante articulação com a organização que representam, a Associação do Povo Indígena Juma Jawara Pina. As demandas foram apresentadas por meio de uma carta da Associação.
“A força e resiliência que o povo Juma traz reforça ainda mais a necessidade do acesso específico aos seus direitos mais básicos. Estamos, junto com a FUNAI, tendo esse espaço de escuta muito importante pela primeira vez em Brasília”, afirmou Clarisse Jabur, coordenadora-geral de Povos Indígenas de Recente Contato da Secretaria Nacional de Direitos Territoriais Indígenas (SEDAT) do MPI.
De acordo com Fernanda Nunes, especialista em indigenismo da FUNAI, as irmãs Juma são representantes de um grupo pequeno de indígenas e vivem em um território com várias TIs e outros povos no entorno. “Esse é um momento importante porque estão se manifestando sobre a forma que querem ser atendidas, pois nem sempre conseguem ser ouvidas como gostariam nas grandes assembleias”, disse.
O indigenista Adolpho Kilian Kesselring se encontrou com as indígena na segunda-feira, no MPI. Ele teve contato com a família ainda nos anos 1980.
Histórico
Ainda no século 18, o povo Juma tinha aproximadamente entre 12 e 15 mil pessoas. Ao longo dos séculos foram vítimas da colonização portuguesa e da presença de seringueiros e garimpeiros responsáveis por seguidos massacres que dizimaram sua população.
O último episódio de massacre foi no de 1964, no rio Assuã, na bacia do rio Purus, e foi cometido por comerciantes interessados na sorva e na castanha presentes no território Juma. Na ocasião foram assassinadas mais de 60 pessoas, sendo sete o número de sobreviventes.
Um casal de norte-americanos do Summer Institute of Linguistics (SIL) teve contato com os Juma em 1965, um ano após o massacre do povo indígena do qual sobreviveu Amoim Aruká.
Nos anos 1980, a FUNAI registrou contato com o povo Juma e, em 1998, os indígenas remanescentes foram realocados pela Funai para a aldeia Jamari do povo Uru-Eu-Wau-Wau. A homologação do território foi decretada em 2004, mas o retorno para a Terra Indígena original ocorreu somente em 2013.
Mesmo diante da possibilidade de extinção, os sobreviventes testemunharam o repovoamento nos anos 2000, uma vez que os Juma foram se casando com indígenas Uru-Eu-Wau-Wau, que também se comunicam com a língua Kagwahiva.
Aruká Juma era o último homem da etnia, mas faleceu de covid em 2021, deixando as filhas Borea, Maytá e Mandei como as únicas sobreviventes do povo.