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Retrospectiva 2025: Prêmio Mre Gavião nasce para multiplicar o olhar indígena sobre o Brasil
Prêmio Mre Gavião foi estruturado para ser abrangente e acessível, refletindo a diversidade da produção visual indígena - Foto: Ascom
Em uma semana histórica para o movimento indígena, marcada pela conclusão da 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, no dia 6 de agosto de 2025, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) anunciou uma iniciativa que olha para o futuro através das lentes do presente e do passado. Na data foi oficialmente lançado o Prêmio Mre Gavião, um concurso nacional de fotografia exclusivo para comunicadores e fotógrafos indígenas de todo o Brasil que foi realizado durante 2025 e terá o resultado oficializado em cerimônia a ser celebrada em janeiro de 2026.
O edital, publicado em 11 de agosto de 2025, representa um investimento direto de R$ 90 mil para premiar 45 trabalhos autorais. Mais do que um concurso, o prêmio é uma política pública de salvaguarda cultural que visa estruturar um acervo patrimonial de imagens que conte a história indígena contemporânea a partir de um olhar interno, autoral e diverso.
A iniciativa, conforme destacou a ministra Sonia Guajajara durante o encerramento da Conferência das Mulheres Indígenas, é uma homenagem viva. “É um edital que está público, que os jovens comunicadores podem agora acessar e assim levar o nome do Mre Gavião.”
Quem foi Mre Gavião: o legado que inspira o prêmio
O prêmio carrega o nome e a missão de Kumreiti Cardoso Kiné, o Mre Gavião, servidor do MPI e comunicador indígena falecido em 4 de maio de 2025. Natural da aldeia Krijoherê, na Terra Indígena Mãe Maria (PA), Mre transformou-se em uma das principais referências da comunicação indígena no país.
Sua trajetória emblemática começou em 2017, quando realizou sua primeira cobertura do Acampamento Terra Livre utilizando apenas um celular. A criatividade e a força narrativa desse trabalho abriram caminho para que, anos depois, se tornasse o fotógrafo oficial da Assessoria de Comunicação do recém-criado Ministério dos Povos Indígenas.
Com seu trabalho, ele se dedicou a promover visibilidade, registrar a resistência cotidiana e celebrar a diversidade étnico-cultural dos povos originários, tornando-se uma inspiração para uma geração de jovens comunicadores.
Como funciona o prêmio: categorias, premiação e critérios
O Prêmio Mre Gavião foi estruturado para ser abrangente e acessível, refletindo a diversidade da produção visual indígena. O concurso está dividido em nove categorias temáticas, que vão desde a documentação do cotidiano e dos rituais até a inovação técnica e o ativismo.
| Categoria | Descrição Geral |
| Vida Cotidiana Indígena | Rotinas comunitárias, práticas socioculturais e saberes ancestrais no dia a dia. |
| Rituais, Jogos e Cosmovisão | Cerimônias espirituais, celebrações festivas e expressões da cosmologia. |
| Territórios, Natureza e Sustentabilidade | A relação intrínseca entre as comunidades e seus territórios ancestrais. |
| Resistência e Defesa de Direitos | Mobilizações coletivas e ações em prol de direitos territoriais e culturais. |
| Infâncias e Juventudes Indígenas | Universo lúdico, processos educativos e socialização de crianças e jovens. |
| Retratos e Identidades | Expressões individuais ou coletivas de identidade e pertencimento étnico-cultural. |
| Fotografia Mobile (Celular) | Fotos feitas com câmera de celular, democratizando a produção. |
| Jovens Comunicadores(as) | Categoria exclusiva para fotógrafos indígenas com até 25 anos. |
| Inovação Visual e Experimentação | Trabalhos que explorem linguagens ou técnicas não convencionais |
Serão premiados os cinco primeiros lugares de cada categoria. O primeiro colocado de cada uma receberá R$ 5 mil; o segundo, R$ 2 mil; e o terceiro, quarto e quinto lugares ganharão menções honrosas de R$ 1 mil cada. Cada participante teve a chance de inscrever até três fotografias, distribuídas em uma ou mais categorias.
As obras serão julgadas por uma Comissão de Seleção com base em cinco critérios: relevância temática, qualidade técnica, qualidade estética, originalidade e força narrativa. O edital é rigoroso quanto à autenticidade: as fotos são inéditas e autorais, sendo permitidos apenas ajustes básicos. Obras geradas ou modificadas por inteligência artificial não foram aceitas.
Um programa para o futuro
O Prêmio Mre Gavião não é um evento isolado, mas a primeira ação do Programa Mre Gavião: O Olhar do Gavião, instituído por portaria do MPI. O programa tem caráter permanente e visa fomentar continuamente a produção artística visual indígena, assegurando o reconhecimento e a promoção da memória e da história desses povos em âmbito nacional.
Ao premiar, difundir e arquivar esses olhares, o Ministério dos Povos Indígenas cumpre uma dupla função: repara uma lacuna histórica na representação visual do país e fortalece instrumentos de autorrepresentação. As fotografias vencedoras integrarão um acervo digital acessível, tornando-se ferramenta de educação, memória e transformação social.
Dessa forma, o legado de sensibilidade e compromisso de Mre Gavião segue adiante, agora multiplicado em dezenas de novas lentes que passarão a narrar, com autonomia e protagonismo, a realidade e a riqueza dos povos indígenas do Brasil.