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Na Conferência de Bonn, participantes do Kuntari Katu defendem direitos indígenas pelo enfrentamento à emergência climática
Na última segunda-feira (16) teve início a Conferência de Bonn, na Alemanha, que reúne os órgãos subsidiários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e, neste ano, a conferência contará com a participação de 23 indígenas brasileiros que fortalecerão a incidência indígena no espaço. As lideranças são participantes do Programa Kuntari Katu – Líderes Indígenas na Política Global, iniciativa desenvolvida pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE).
De acordo com a ministra Sonia Guajajara, a ampliação e qualificação da participação indígena nestes espaços já podem ser consideradas um dos legados o Brasil para as discussões. “Só conseguiremos avanços significativos nas negociações a partir da pluralidade dos conhecimentos e vozes nestas conferências. A reunião anual da ONU sobre mudanças climáticas é uma importante etapa de preparação para a COP 30 de Belém. E é neste espaço que vamos defender o fortalecimento da proteção dos territórios e direitos indígenas como política eficaz para o enfrentamento da emergência climática global”, disse a ministra.
O Kuntari Katu teve início em agosto de 2024, visando a formação de jovens líderes indígenas nos temas relacionados à governança global. São 31 indígenas dos seis biomas brasileiros participantes do programa, que oferece formação híbrida, com módulos presenciais em Brasília, em conjunto com atividades virtuais, acompanhamento permanente à distância, mentoria e aulas de inglês, que é o idioma oficial das negociações.
Na conferência que é realizada na sede da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), os jovens participarão das mesas sobre mitigação, adaptação, financiamento, gênero, transição justa, perdas e danos, crédito de carbono e agricultura. Parte dos indígenas do programa já estão em Bonn desde a última semana, para participar da agenda da Plataforma dos Povos Indígenas e comunidades tradicionais (LCIPP), entre 10 e 13 de junho.
Luan Potiguara tem 37 anos e representa o bioma Mata Atlântica no Programa Kuntari Katu, é da Terra Indígena Potiguara de Monte-Mor, município de Rio Tinto, na Paraíba. Em Bonn desde o dia 15, Luan escolheu acompanhar as agendas relacionadas ao financiamento climático. “Esse é um tema que sempre me chamou a atenção. Eu sempre quis entender como se dava a captação desses recursos e a sua execução. A gente, durante o curso, pôde entender melhor esse mecanismo e entender que ainda é um grande desafio fazer com que esse financiamento chegue até o chão das aldeias”, disse.
De acordo com Luan, o que o motiva a representar os povos indígenas neste debate é a luta pelo financiamento direto. “A gente sabe que apenas 1% desses recursos destinados para nós, povos indígenas, é executado por nós mesmos e chega através de nossas organizações para serem executados em projetos dentro dos nossos territórios. Os saberes indígenas devem ser respeitados e, por meio desses recursos, a gente tem condições para continuar fazendo o que já fazemos sem muito apoio, realizando as nossas ações dentro dos nossos territórios, conservando a nossa biodiversidade e as nossas florestas possam e, assim, contribuir com a proteção da vida do nosso planeta. Isso é o que me motiva”, reforçou.
Luene Karipuna é uma das alunas do Kuntari Katu que também participa do evento. Atualmente, é coordenadora executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP) e vinculada à Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Do povo Karipuna do estado do Amapá, da Terra Indígena Uaçá, no Oiapoque, Luene representa o bioma Amazônico no Programa. “O Kuntari Katu trouxe formação juntamente com os diplomatas que negociam nesse ambiente e colabora para que a gente também tenha um olhar mais amplo sobre os debates, sobre o que podemos contribuir nesse espaço, e sobre a importância de entendermos os mecanismos internos dessa participação”, disse.
Luene escolheu participar das mesas voltadas ao debate e negociação sobre transição energética justa. “Escolhi acompanhar essa agenda, porque acredito que é um tema necessário, envolto às questões climáticas. É essencial fazer uma transição energética o mais urgente possível, porque é comprovado cientificamente que os combustíveis fósseis são o que mais aceleram a emergência climática e que eles têm um papel muito ruim nesse processo. E, nesse contexto, o meu território tem sido alvo do processo de tentativa de exploração na Foz do Amazonas e que vai ser impactado de qualquer maneira. Eu preciso entender e de alguma maneira ajudar nesse processo para que a gente possa fazer uma transição justa de imediato”, defende a liderança indígena.
O Programa Kuntari Katu terá a duração de 18 meses, os estudantes contam com o apoio do MPI para o custeio da presença e participação dos indígenas nas etapas presenciais em Brasília. Quatro módulos presenciais da formação já foram finalizados. Além da Conferência de Bonn, quatro representantes do programa já estiveram na COP 16 da Biodiversidade, em Cali, na Colômbia, e uma participou da COP 29 do Clima em Baku, no Azerbaijão. Na preparatória de Bonn, os alunos do curso terão a oportunidade de assistir aos debates, acompanhar as negociações e avançar na formação para compreenderem os desafios que encontrarão em Belém.
A participação dos alunos do programa em Bonn foi viabilizada pelo financiamento do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (FILAC), presidido pela ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, por meio de projeto em parceria com a Open Society Foundations.
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