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Funai apoia ritual de mulheres indígenas para fortalecer identidade étnica do povo Enawenê Nawê, em Mato Grosso
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) prestou apoio técnico e logístico para a realização do Kateokô, ritual das mulheres Enawenê Nawê. Promovido pelas mulheres indígenas, o evento ocorreu no mês de janeiro na Terra Indígena Enawenê Nawê, no estado de Mato Grosso.
A coordenadora de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social da Funai, Lídia Lacerda, destaca a importância de valorizar a organização e o protagonismo das mulheres indígenas, sobretudo de povos de contato mais recente. Isso porque, a relação com a sociedade não indígena é cada vez mais intensa, trazendo consequências.
“Os mitos constituem as teorias explicativas sobre o mundo, os processos históricos e cosmológicos de cada povo. A realização dos rituais é um modo de atualizar os mitos, promover a transmissão de conhecimentos intergeracionais e contribuir diretamente para a manutenção da organização social e cultural. Neste sentido, o fortalecimento da coesão social tem grande relevância na prevenção dos casos de violência, alcoolismo e outros impactos advindos do contato com os não indígenas”, afirma Lídia Lacerda.
O evento foi incluído no Plano Anual de Trabalho da Coordenação Técnica Local (CTL) Vilhena II, vinculada à Coordenação Regional da Funai em Noroeste do Mato Grosso (CR-NOMT). A partir disso e, após análise da Coordenação de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social (Cogen), foi possível descentralizar os recursos para apoio com combustível, transportes e aquisição de linhas de algodão utilizados como adorno pelas mulheres.
Essa e outras manifestações culturais dos povos indígenas do Brasil, especialmente de mulheres, vêm sendo apoiadas desde 2014 pela Funai, por meio da Cogen, ligada à Coordenação-Geral de Promoção da Cidadania (CGPC), da Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável (DPDS).
Kateokô
O ritual é protagonizado pelas mulheres Enawenê Nawê, anualmente, e realizado de forma intercalada com a cerimônia do Salumã, ambos dedicados aos espíritos benevolentes denominados Enrori. Embora as danças sejam realizadas exclusivamente pelas mulheres, os homens têm a função de organizar a aldeia, sendo responsáveis pela pescaria e coleta de mel. Por sua vez, as mulheres se dedicam à coleta de seringa para confeccionar os adornos de borracha natural utilizados nas pernas, além do algodão para outros enfeites.
Povo Enawenê Nawenê
O povo Enawenê Nawenê, falante de uma língua da família Aruak, vive no oeste de Mato Grosso, em uma área demarcada e homologada de 730 mil hectares e com população de aproximadamente 1.300 pessoas.
Seu contato efetivo ocorreu em 1977, por meio do missionário católico de origem espanhola Vicente Cañas, que, ao contrário da maior parte dos grupos religiosos que atuam com os povos indígenas, abriu mão de tentar catequizar aquele povo. Ao contrário, sua postura foi de total respeito às tradições indígenas, limitando sua atuação à assistência à saúde e às atividades produtivas.
Cañas faleceu em 1987, mas seu o legado de respeito à cultura do povo Enawenê Nawenê foi mantido, primeiramente pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), uma organização indigenista não-governamental e, posteriormente, pela Funai, quando o órgão indigenista assumiu suas responsabilidades frente à comunidade, sob a jurisdição da CR Noroeste do Mato Grosso, sediada em Juína (MT) e, especificamente, da CTL Vilhena II.
Mesmo transcorridos quase 40 anos de seus primeiros contatos e experimentado alterações inevitáveis, os Enawenê Nawê conseguem manter aspectos fundamentais de sua cultura, sobretudo, o intenso calendário anual de rituais, que correspondem a um complexo mundo espiritual.
Uma delas é a cerimônia do Yaõkwa, que ocorre ao longo de vários meses, voltado a satisfazer as entidades espirituais, com destaque para o Yakairiti, que são espíritos subterrâneos que controlam todos os recursos naturais. Outro evento que segue sendo realizado, anualmente, é o ritual Kateokô.