Feira Krahô de Sementes Tradicionais reforça alimentação saudável e sustentável no Tocantins

No norte do estado do Tocantins, entre os rios Manoel Alves Grande e Manoel Alves Pequeno, afluentes da margem direita do rio Tocantins, acontece a XIV Feira Krahô de Sementes Tradicionais. O evento teve início na terça-feira (2), na aldeia Galheiro, na Terra Indígena (TI) Krahô, em Itacajá, e segue até sábado (6). A feira é realizada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), juntamente com a Associação indígena Me Hempej Xá, Grupo de Guerreiros e Guerreiras Krahô Me Hoprê Catejê e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A Feira, que é pioneira no Tocantins e no Brasil, busca o fortalecimento de uma alimentação mais saudável e sustentável, além do incentivo ao plantio de sementes tradicionais do Cerrado, onde vivem os Krahô, conhecidos também como Mehim. Foi o que explicou um dos organizadores da Feira, Indiarrury Can Krahô. Ele conta que o evento teve início em 1997, mas foi interrompido em 2013, após um acidente que deixou a comunidade em luto. 

Ainda de acordo com Indiarrury, em 2023, os caciques Krahô solicitaram a retomada da feira, e desde então buscam parceiros, como a Funai, para a sua realização. “Muitos dos nossos parentes indígenas deixaram de plantar e de se alimentar desses plantios, e começaram a comprar do comércio na cidade, elevando o índice de diabéticos, hipertensos e obesos aqui nas aldeias Krahô. Então, um dos objetivos deste evento é a busca por uma soberania alimentar, isto é, por uma alimentação mais saudável e que possamos continuar plantando, colhendo e incentivando a prática das sementes tradicionais para as futuras gerações, e, com isso, resistindo”, pontuou Indiarrury. 

A Funai, por meio da Coordenação Regional Araguaia Tocantins (CR-ATO), juntamente com a Coordenação-geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento (CGEtno), vinculada à Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável (DPDS) da Funai, estiveram presentes em todos os processos de realização do evento, desde planejamento, organização, apoio logístico e financeiro.   

A Funai esteve presente em todos os processos de realização do evento, desde planejamento, organização, apoio logístico e financeiro | Foto: Elvio Pankararu/Funai

Para o coordenador-geral da CGEtno, Jefferson Fernandes, realizar e apoiar este evento, só mostra o trabalho do Governo Federal, por meio da Funai, “em prol da promoção cultural dos povos indígenas, como a troca e incentivo do plantio de sementes tradicionais, e por uma melhor segurança alimentar no território Krahô”. 

Segundo ele, a feira é um evento estratégico realizado pelos próprios Krahô, com apoio da Funai e de outras instituições, pois fomenta e melhora as condições de alimentação dentro do território. “A feira é retomada com aprimoramento de discussões e com um resgate, não somente cultural, mas, também, da dignidade desse povo”, complementou Jefferson.            

O coordenador regional da Funai Araguaia Tocantins, Bolivar Xerente, lembra que contribuir com eventos como esse, é uma valorização cultural e representa a defesa da vida dos povos indígenas. 

“Cuidar do plantio é promover a cultura e a alimentação de qualidade, sem transgênicos. As sementes tradicionais para o povo Krahô só existem dentro do próprio território. E os participantes, inclusive outros povos indígenas, poderão levar daqui e plantar em suas terras tradicionais. É uma feira demandada pela própria comunidade, que a Funai, por meio da CR Araguaia Tocantins, articulou e participou em todo o processo com muita felicidade”, disse Bolivar. 

Participaram também como apoio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde (MS), a Secretária de Estado da Educação do Tocantins (Seduc-TO), a Secretaria de Estado dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot-TO), o Instituto Federal do Tocantins (IFTO), a Giz e ainda as Prefeituras de Itacajá e Goiatins.

Feira de Sementes Tradicionais

A Feira Krahô de Sementes Tradicionais do Tocantins, iniciada em 1997, foi a pioneira no Brasil e é referência para realização de outros eventos de sementes tradicionais indígenas no país. É um evento cultural e de agrobiodiversidade realizado pelo povo Krahô, para a troca de sementes nativas, celebração da cultura e fortalecimento da agricultura tradicional. É ainda um espaço de intercâmbio de saberes, artesanato, sementes e culinária entre diferentes etnias indígenas, como os povos Akwe-Xerente, Karajá, Avá-Canoeiro e outros, e serve como símbolo de resistência e preservação de conhecimentos ancestrais. 

No primeiro dia de evento, além de abertura cultural e pronunciamento de representantes indígenas e das instituições parceiras, aconteceu uma mesa de debates sobre Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas com mediação de representantes do povo Krahô e de técnicos da Funai; além de Corrida de Tora (tradição Krahô) e apresentação dos Hôôxwa (rito da batata doce).       

O evento ainda terá, nos próximos dias, mesa de debates sobre Políticas Públicas e Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional; Oficina sobre Compras Governamentais, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e ações de Segurança Alimentar e Nutricional; Homenagem aos guardiões e guardiãs Krahô; Exposição e troca de sementes tradicionais; e Roda de conversa com lideranças indígenas tradicionais e juventude.  

Krahô

Localizados nos municípios de Itacajá e Goiatins, os Krahô chamam a si próprios de Mehim, um termo que, no passado, conta-se que era aplicado aos membros dos demais povos falantes de sua língua e que viviam conforme a mesma cultura. A esse conjunto de povos se dá o nome de Timbira. A língua falada por eles também leva o nome de Krahô, que pertence ao tronco linguístico Macro-Jê e a família Jê. Vivem em aldeias de formato circular e são muito conhecidos pelas corridas de toras, além das práticas de caça, pesca e plantio de sementes.

Assessoria de Comunicação/Funai