Preservação e Difusão

Publicado em 22/09/2022 16:01Modificado em 29/08/2025 17:27
Compartilhe:

A área de Preservação e Difusão do CTAv é responsável por:

  1. planejar, promover e coordenar ações de acesso para os mais diversos públicos, às obras cinematográficas e audiovisuais brasileiras;
  2. planejar, promover e coordenar ações de preservação, pesquisa e difusão da memória cinematográfica e audiovisual brasileira, para garantir a salvaguarda do patrimônio audiovisual nacional;
  3. elaborar e supervisionar as ações e programas voltados para a preservação, pesquisa e difusão do audiovisual brasileiro no Brasil e no exterior;
  4. promover e apoiar a difusão de obras cinematográficas e videofonográficas brasileiras em festivais nacionais e internacionais;
  5. estabelecer critérios para a concessão do Prêmio CTAv como forma de apoio à produção independente e aos eventos (mostras e festivais)
  6. zelar pela preservação do patrimônio audiovisual advindo das seguintes entidades das quais a Coordenação-Geral do Centro Técnico Audiovisual é sucessora: INCE, INC, DAC/MEC, Embrafilme/DONAC, FCB, IBAC e DECINE/FUNARTE.

O Acervo audiovisual do CTAv conta com mais de 24 mil itens, relativos a mais de 8.600 títulos, dos quais parte é de propriedade do CTAv e parte é de terceiros, depositados em regime de comodato. A maior parte do acervo é composta por curta-metragens, cinema independente e de baixo orçamento, documentários, animações e cinema experimental. As principais coleções são as enumeradas abaixo:

1) Filmes produzidos pelo Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), Instituto Nacional de Cinema (INC), Departamento de Ações Culturais do Ministério da Educação (DAC/MEC) e pela Diretoria de Operações Não Comerciais da Embrafilme (DONAC/Embrafilme) – obras cujos direitos patrimoniais pertencem ao CTAv;

2) Filmes co-produzidos pela Fundação do Cinema Brasileiro (FCB), Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (IBAC), Departamento de Cinema e Vídeo da Fundação Nacional de Artes (Decine/FUNARTE);

3) Filmes sob custódia, depositados por realizadores.

A maior parte do acervo é composta de materiais em película 16mm e 35mm. Há também filmes em outras bitolas e suportes, fotoquímicos, eletrônicos e digitais, em vídeo e áudio.

Todos os materiais podem ser pesquisados e consultados por qualquer usuário com a orientação dos pesquisadores do CTAv, desde que seu estado de conservação permita. Há equipamentos de visionamento 16mm e 35mm. Conteúdos com materiais em vídeo e áudio podem ser visionados remotamente, quando o CTAv dispuser de equipamento de digitalização/transcrição de suas mídias de origem. Para agendar ou solicitar, entre em contato com a Pesquisa (pesquisa.ctav@cultura.gov.br).

Para exibições públicas e utilização de trechos de filmes é necessária autorização específica. Para obras de terceiros faz-se necessária concordância expressa do(s) detentor(es) de direitos patrimoniais.

O CTAv conta com uma equipe técnica especializada em preservação, que inclui preservadores audiovisuais, historiadores, editores, técnico em meteorologia, encarregado de almoxarife, produtora cultural e químico.

Nossos contatos:
Para solicitações e informações relativas ao depósito e retirada de material audiovisual:
acervo.ctav@cultura.gov.br

Para solicitações e informações relativas a autorizações para exibição, apoio a mostras e festivais brasileiros e difusão de conteúdo (revistas e DVDs):
difusao.ctav@cultura.gov.br

Para solicitações e informações relativas a pesquisa, visionamento de filmes e licenciamento de trechos:
pesquisa.ctav@cultura.gov.br

Nosso telefone (21) 3501-7832 encontra-se temporariamente inoperante, por conta da obra no prédio-sede do CTAv.

aviso

É com satisfação que disponibilizamos uma plataforma online de consulta à nossa base de dados. Pensada especialmente para atender à demanda de pesquisa, ela abrange os títulos de materiais em película e em suportes magnéticos e digitais pertencentes ao acervo audiovisual do CTAv. São mais de 8 mil títulos e quase 25 mil materiais para atender, embasar e enriquecer sua pesquisa.


Trabalhamos atualmente no desenvolvimento de uma nova base de dados. Caso não encontre o título desejado aqui, entre em contato conosco pelo e-mail pesquisa.ctav@cultura.gov.br,  que auxiliaremos em sua busca.

Além da base de dados, você também tem acesso aos catálogos dos nossos filmes para consulta on-line. Esse minucioso e relevante material informativo foi publicado por instituições das quais somos sucessores e trazem em seu escopo o panorama dos curta e média-metragens adquiridos e produzidos em 16mm e 35 mm ao longo de mais de 80 anos, muitos desses não mais existentes em suporte algum.

Para iniciar sua busca, leia as orientações ao lado e acesse a base.

* A existência de registros de materiais na base de dados não pressupõe que estejam aptos para cessão/utilização. Caso deseje a cessão/utilização de materiais, será necessária análise do estado de conservação e cumprimento dos trâmites, incluindo autorização de detentores e depositantes, quando for o caso.

Orientações de uso:

1. Para acessar a base de dados do acervo audiovisual:

*   Login: pesquisador@ctav.com.br
*   Senha: acervoctav

1.1. Para a busca a um título específico: digitar o título > buscar > selecionar o título ao lado direito da tela. Após, selecionar “Visualizar informações da obra” ou “Materiais”.

1.2. Para a busca com filtros: selecionar o sinal “+” ao lado da busca avançada para acessar os filtros para a realização da pesquisa. Após, realizar os mesmos procedimentos acima.

Entendi! Acessar a base 

(Clique no título do catálogo desejado para baixá-lo na íntegra.) 

Catálogo de Filmes Embrafilme
Catálogo de Filmes Funarte Embrafilme
Catálogo Funarte Minc

Há mais de 30 anos presente em mostras e festivais audiovisuais brasileiros!

Desde 1985, o CTAv apoia a realização de mostras e festivais audiovisuais nacionais com curadorias, empréstimo de cópias de filmes do acervo, realização de oficinas in loco e, claro, concedendo o Prêmio CTAv.

Criado em 2009, esta premiação tem como missão reconhecer os atuais talentos do segmento e fomentar o desenvolvimento da produção audiovisual brasileira. Atualmente, na forma de um certificado, o CTAv pode oferecer o encode DCP de curta a longa-metragem com HD externo incluso. Nesta ação proporcionamos o apoio aos festivais e mostras, e a difusão de filmes dos realizadores premiados.

Os organizadores de eventos audiovisuais presenciais ou on-line interessados em firmar parceria com o CTAv para a concessão do prêmio, curadorias, solicitação de filmes do acervo ou realização de oficinas, devem fazer uma solicitação formal através do e-mail difusao.ctav@cultura.gov.br, com cópia para joana.lima@cultura.gov.br.

SERVIÇO:

Para quem se destina: Mostras e festivais audiovisuais brasileiros Modalidades de apoio disponíveis: Prêmio CTAv, curadoria, solicitação de filme

do acervo ou realização de oficina.

Solicitação: Mediante contato através do e-mail difusao.ctav@cultura.gov.br Contato: joana.lima@cultura.gov.br (21) 3501-7860 (atualmente inoperante) Atividade gratuita.

25a-Mostra-de-Cinema-de-Tiradentes-678x381.png

Lançamento de programas inéditos, coleções de dvds e publicações.

telas-internas-produção-de-conteúdo.jpg

Desde sua criação, o Centro Técnico Audiovisual já lançou diversos conteúdos novos e reeditados. Suas produções circularam até hoje na televisão, internet, cinema, festivais audiovisuais do Brasil e do mundo e em versões físicas, tais como dvds, revistas e livros.

Entre essas produções, destacam-se o Pílulas Cinematográficas, programa de entrevistas com profissionais do segmento, o programa Curta Brasil, na década de 90, feito em parceria com a TVE, a criação de um FAC-Simili Filme Cultura que englobou todas as edições da revista até sua retomada, a partir do nº 50, pelo CTAv. Atualmente todos as edições da revista podem ser consultadas aqui.

Também têm grande relevância as suas cinco coleções que reúnem diversos clássicos da cinematografia brasileira pertencentes ao seu acervo e outros, a título de parceria. O último DVD, por exemplo, traz uma rica seleção de seis documentários do diretor Geraldo Sarno, incluindo Viramundo, obra que levou em 1966 o Grande Prêmio do Festival Internacional Évian, na França.

Os boxes das coleções são distribuídos às mais variadas instituições nacionais – tais como universidades públicas, cinematecas, pontos de cultura e ONGs, em uma ação contínua de difusão. O objetivo é democratizar este conteúdo, ampliando as vias de acesso do público a ele e, também, resgatar e valorizar importantes obras da história do cinema nacional, relançando-as em versão digital remasterizada.

Quer saber onde encontrar esse conteúdo ou deseja consultar a possibilidade de cadastro de sua instituição na lista de distribuição? Entre em contato conosco pelo email joana.lima@cultura.gov.br.

SERVIÇO: Para quem se destina: Bibliotecas, instituições culturais, arquivos, cinematecas, pontos de cultura, ONGs e universidades. Solicitação: Mediante contato com à Coordenação de Difusão, sujeito à disponibilidade do material. Contato: joana.lima@cultura.gov.br.  (21) 3501-7832 Gratuito (temporariamente inativo)

Semanalmente, a equipe do CTAv seleciona um título do acervo patrimonial da instituição e disponibiliza o conteúdo na íntegra de forma on-line em caráter permanente no canal do CTAv no Youtube. Confira os últimos títulos lançados:

E tudo é muito importante

E tudo é muito importante

SRTV 032 - Fernanda Montenegro - Entrevista

SRTV 032 Fernanda Montenegro

José Bonifácio e a Independência

José Bonifácio e a Independência

 Casa Grande & Senzala

Casa grande e senzala

Vila Boa de Goyaz

Foto 1.PNG

O tempo e o som

O tempo e o som

Êle e o rabisco

Êle e o rabisco foto 1.PNG

SRTV 120 - Jornada de Salvador - Entrevista com Guido Araújo

SRTV Guido 2.PNG

 Música contemporânea no Brasil

Música Contemporânea no Brasil foto 1.PNG

O Cinegrafista de Rondon

O Cinegrafista

Festa do Serro

Festa do serro 2.PNG

Limite (1931)

foto 1 limite.png

Série Habilitações Profissionalizantes do Ensino do 2º Grau - Tema I (1973)

Foto 3.PNG

O Conjunto Arquitetônico do Pelourinho

O conjunto arquitetônico do Pelourinho foto 1.PNG

SRTV 010 - Jorge Bodanzky Os Mucker (1978)

SRTV 010 - Jorge Bodanzky - Os Mucker (1978)

Ensino de 2° grau

ensino 2 grau 2.jpg

Ponto das Ervas

Ponto de Ervas

SRTV 044 - Programa David Neves (trecho)

DAVID 1.PNG

Ruy Barbosa (1849 - 1923) - 1º Centenário de Nascimento

Ruy Barbosa (1849-1923) : 1º Centenário de Nascimento

Eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil

Eletrificação foto 1.PNG

Humberto Mauro: lançamento de livro em Volta Grande

Humberto Mauro 1.PNG

Martins Penna: O Judas em Sábado de Aleluia 

judas 2.jpg

 Semana Santa em Ouro Preto

semana santa 6.jpg

SRTV 346. Cabeças Cortadas. Entrevista Glauber Rocha (trecho)

Glauber 5.jpg

Trecho SRTV 042 - Entrevista com Marieta Severo

Marieta.jpg

Inflação 

inflação.jpg

 Projeto Caldeirão - a solução vinda do homem

SRTV 043 - Trecho de Entrevista com Beatriz Nascimento

SRTV 5.jpg

SRTV 531. Carnaval 1978 - Escolha do samba Unidos de Bangu e Império



O Puraquê

puraque 3.jpg

 Os vencedores 1952-1965

Aspectos da Segunda Guerra Mundial

thumbnail_Aspectos da Segunda Guerra 5.jpg

Transamazônica 

Print Transamazônica 4 1.jpg

Rodovia Belém-Brasília 

Rodovia Belém-Brasília (1973, dir. Zelito Viana)

Cidade de Caeté

thumbnail_Caete 2.jpg

Cidade do Salvador

CIDADE DO SALVADOR.jpeg

 A Commercial Vila dos Lençóis

thumbnail_Lençóis 7 (1).jpg

Ouro Preto

Ouro Preto

Miocárdio em cultura - potenciais de ação

WhatsApp Image 2023-11-30 at 09.57.00.jpeg

 Plácido de Castro

WhatsApp Image 2023-11-23 at 12.04.57.jpeg

Tiradentes e Serro

Tira03.png

Megalópolis

thumbnail_WhatsApp Image 2023-11-01 at 12.07.47 (3).jpg

Cinema Paraibano - Vinte anos

Cinema Paraibano - Vinte anos

Chorinhos & Chorões

WhatsApp Image 2023-10-18 at 12.27.29 (1).jpeg

Morro Velho 

WhatsApp Image 2023-10-11 at 15.45.33 (1).jpeg

Um homem chamado Luiz

Um homem chamado Luiz

Memória Goitacá

WhatsApp Image 2023-09-27 at 12.39.58 (1).jpeg

Brasília: planejamento urbano

 Alcântara – cidade morta

Alcântara – cidade morta


SRTV - Jornada brasileira de curta-metragem 1978 (trecho)

WhatsApp Image 2023-09-06 at 09.35.18 (2).jpeg

Teatro brasileiro: novas tendências 

thumbnail_WhatsApp Image 2023-08-29 at 16.35.55.jpg

Exposição Henrique Alvim Corrêa (1876-1910)

Exposição Henrique Alvim Corrêa (1876-1910)



SRTV 378. Alma no olho. Zózimo Bulbul

Zozimo 4.jpg


SRTV 035. Música no Cinema - Caetano Veloso

caetano.jpg

SRTV 343. Filme Infantil Maria Clara Machado (1979)

Maria Clara 1.jpg

 Waldemar Henrique canta Belém

VALDEMAR.jpeg

 Em cima da terra e embaixo do céu

thumbnail_em cima da terr 8.jpg

Centro-Oeste urgente

thumbnail_centro oeste 3.jpg

Comunicação jovem

Comunicação Jovem

 Integração escola empresa 

Integração escola empresa

De Revolutionibus

O preparo e conservação dos alimentos

thumbnail_preparo02.png

O cristal oscilador: industrialização do quartzo no Brasil

cristal02.png

A fábula da festa do céu

WhatsApp Image 2023-05-31 at 09.02.05 (3).jpeg

Endemias rurais

Endemias rurais

Comunicação e expressão no ensino fundamental

Comunicação e expressão no ensino fundamental
Construções rurais - Fabricação de tijolos e telhas



Construções rurais - Fabricação de tijolos e telhas


 Aldeia de Arcozêlo

thumbnail_arcozelo 4.jpg

Ser Krahô

WhatsApp Image 2023-04-19 at 11.46.27 (3).jpeg

 Estruturas da linguagem - 1º grau de ensino

thumbnail_WhatsApp Image 2023-04-12 at 11.07.36.jpg

 Cerâmica de Marajó

thumbnail_Ceramica1.png

  Bandeiras e futebol

thumbnail_BandeFut1 (1).png

 Alimentação

8fe891ee-5379-4f05-a86c-67f3a118c9ce.png

Os Brasileiros e a Conquista do Ar

Osbras1.png

Pankararu de Brejo dos Padres

thumbnail_panka3.png

Instituto Oswaldo Cruz

InstOswaldoCruz (2).png

Matemática no ensino fundamental

matematica2 (1).png

Lisetta - conto de Antônio de Alcântara Machado

Lisetta_4.png

 Rendeiras do nordeste

Rendeiras.png

 Cerâmica do Vale do Jequitinhonha

Cerâmica_print.png

 Dr. Alceu

DrAlceu (3).png
Banner para site.jpg

APRESENTAÇÃO

Um dos elementos mais emblemáticos do entorno do CTAv, que está localizado no bairro de Benfica, no Rio de Janeiro, é a Passarela 04, o principal ponto de referência do prédio do Centro Técnico Audiovisual (CTAv). Cotidianamente, ela possibilita a passagem de pedestres na Avenida Brasil.  

Esse símbolo marcante nomeará o novo projeto de difusão do acervo CTAv: Passarela 04 - Programa de Filmes, que tem como intuito realizar mostras e curadorias, reunindo filmes em torno de temáticas, estéticas e perspectivas livres e distintas. Os programas serão desenhados com curtas, longas-metragens e demais materiais audiovisuais do acervo CTAv, em conexão com títulos pertencentes a outras instituições, coletivos ou realizadores brasileiros. 

Iniciaremos o projeto de forma remota, mas pretendemos expandir o alcance dos programas a partir de parcerias institucionais e exibições presenciais em nossa sala de cinema. Os quatro títulos mensais serão disponibilizados através do YouTube e do site oficial do CTAv, sempre acompanhados de mediações textuais que dão possibilidades de entendimento a cada um dos programas, fundamentados por pesquisas históricas e estéticas. 

PASSARELA 04 - PROGRAMA 17

Passarela 04 - programa 17

Cinema e arquivo: testemunhos pela história (76')

29 de agosto a 19 de setembro

De que filmes falamos quando pensamos na ideia de “arquivo” no cinema? Como se dá a transição de uma imagem captada no presente para um material deixado para trás, que recebe uma segunda (terceira, quarta…) mirada? No programa 17 do Passarela 04, lidamos com diferentes expressões do passado que, a partir de uma intenção original ou de uma recuperação contemporânea da obra, se tornam testemunhos pela construção de uma história coletiva elaborada junto às imagens. 

Em “Aulas e azeitonas”, realizado por Aida Ferreira e Tetê Moraes (1976), acompanhamos o registro de uma ocupação em Cuba, aldeia do Alentejo (Portugal), em 1974. Em uma Quinta (propriedade rural), professores e alunos criaram uma comunidade escolar que unia ensino teórico com a experiência de trabalhar na terra e aprender os ofícios da agricultura e pecuária familiar. Tetê reúne cenas do cotidiano da Quinta (crianças nas aulas, a geografia da vizinhança, refeições compartilhadas, trabalho manual) junto de depoimentos dos moradores que refletem sobre a condição da ocupação e a construção da dinâmica comunitária. O filme torna-se prova viva de um projeto raro, mas possível, que, nas palavras da diretora, foi “uma alegria que durou poucos anos, mas deixou sementes.”

“Memória do sangue”, dirigido por Conceição Senna (1987), volta-se para o fim do século XIX e a Guerra de Canudos, no sertão da Bahia – também uma tentativa de construção comunitária sob a liderança de Antônio Conselheiro. Noventa anos após o massacre, o filme registra seus descendentes reunidos às margens do açude  Cocorobó, onde está submersa a vila original. Naquele espaço, não há provas físicas da violência e da tentativa de revolução, mas há toda uma comunidade que relembra como o acontecimento deixou marcas profundas em toda a vida da região. 

Em “Cidadão Jatobá”, realizado por Maria Luiza Aboim (1987), Marcos Terena reflete em voz off sobre as implicações de um indígena afastado de suas origens e integrado à sociedade brasileira. A narração acompanha um encontro entre gerações no Parque Nacional do Xingu: os mais velhos ensinam os mais jovens a construírem uma canoa a partir da casca do Jatobá. As imagens focam no caráter manual e coletivo da atividade que, gesto a gesto, ergue uma canoa para logo depois lançá-la no rio. O processo de construção da canoa, em vias de esquecimento por não ser mais praticado dentro do parque, é transmitido à geração seguinte e preservado pelo filme como uma memória que pode ser guardada e acessada. 

Por fim, “Ser feliz no vão”, de Lucas H. Rossi dos Santos (2020), encerra a sessão com uma apropriação rebelde de arquivos de diferentes naturezas (filmes, vídeos caseiros, pinturas, fotografias, gravuras, reportagens e entrevistas de figuras como Tim Maia e Mano Brown). O filme organiza uma narrativa sobre a relação de pessoas negras com a cidade no Brasil – numa eterna tensão entre expulsão e resistência. Corpos que transitam muito juntos pelo transporte público, ruas tomadas pelo funk, gestos de enfrentamento e de prazer diante da câmera e uma música que é constantemente interrompida e retomada articulam uma montagem que afirma o arquivo como fonte viva da história. “Um ensaio preto”, como o próprio filme se define, que remixa imagens, faz conexões forjadas e explora as infinitas possibilidades de apropriação no cinema digital.

LISTA DE FILMES:

Aulas e azeitonas (Aida Ferreira, Tetê Moraes, 1976, 36’)

Memória do sangue (Conceição Senna, 1987, 14’)

Cidadão Jatobá (Maria Luiza Aboim, 1987, 14’)

Ser feliz no vão (Lucas H. Rossi dos Santos, 2020, 12’)

Agradecimentos: Tetê Moraes, Orlando Senna, Maria Luiza d’Aboim, Lucas H. Rossi, Henrique Amud

FICHA TÉCNICA DOS FILMES:

Aulas e azeitonas (1976)

Sinopse: Documentário sobre uma ocupação escolar em Alentejo (Portugal), onde aprender e cultivar a terra caminhavam juntos.

Ficha técnica:

Realização: Aida Ferreira; Tetê Moraes
Produção: Comissão Interministerial para Animação Sócio-cultural e Escola Preparatória - Cuba
Professores: Aliete, Filipe, Gina, Lurdes, Mimi, Parrinha, Sebastião, Pe. Tribaná
Alunos: Ermelinda, Ernesto, Juvelina, Lena, M. dos Prazeres, Mário
Chefe da Secretaria: D. Luísa
Cantina: Sr. Joaquim
Trabalhadores: da Cantinha, do Lagar; e rurais (Francisco, Isidoro, Jacinta)
Montagem: Manuela Serra
Som: Aida Ferreira, Gina, Luís Martins, Manuel Tomás
Entrevistadora: Aida Ferreira, com colaboração de Gine e Quica
Colaboração: D. G. Educação Permanente; D.G. Patrimônio Cultural
Imagens: Filipe, Fernando Fernandez, Tetê Moraes, Parrinha

Digitalizado pelo projeto Digitalização Viajante em parceria com a IDFB/Cinelimite e a ABPA
Correção de cor, estabilização e legendagem: Link Digital via Tetê Moraes

 Memória do sangue (1987)

Sinopse: Noventa anos depois da Guerra de Canudos, os descendentes da região reafirmam a luta pela terra às margens do açude de Cocorobó.

Ficha técnica:

Companhia produtora: Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes S.A.
Produção: Jonas Breitman
Assistente: Célia Nunes
Produção executiva: Jonas Breitman,
Direção/roteiro: Conceição Senna
Direção de fotografia: Mário Carneiro
Assistente: Jaime Schwartz
Eletricista: Arnol Conceição
Operador: Mário Carneiro
Direção de som: Cristiano Maciel
Som direto: Cristiano Maciel
Montagem: Aída Marques
Mixagem: Walter Goulart
Trucagem: João Mendes
Table Top: Marcelo Marsillac
Música: Philip Glass; Carlos Pita
Teatro: Paulo Gil Soares
Estúdio: Delart, Rio
Laboratório: Líder, Rio

Cidadão Jatobá (1987)

Sinopse: Jovens indígenas do Xingu aprendem com os mais velhos a construir a canoa de Jatobá, tradição quase perdida.

Ficha Técnica:

Companhia(s) produtora(s): Aboim Cynema
Direção, montagem e edição de som: Maria Luiza Aboim
Narração: Marcos Terena
Direção de produção: Juarez Precioso
Assistentes de produção: Sergio Francelino; Jorge Campos
Produção executiva: Maria Luiza Aboim
Roteirista: Maria Luiza Aboim
Direção de fotografia: John Howard Szerman
Assistente: Nelio Ferreira
Fotografias de cena: Primo Falcirolli; John Howard Szerman
Som direto: Heron de Alencar
Som adicional: Silvio Da-Rin
Assistente de montagem: Maria Elisa Freire; Neli Pereira
Mixagem: Luis Lima
Música: Marlos Nobre; Villa-Lobo; Shostakovich
Agradecimentos aos indígenas do Alto Xingú que construíram a canoa
Laboratório imagem: LÍDER
Laboratório som: Alamo
Transcrição das músicas; acompanhamento técnico da finalização; mixagem: Centro Técnico Audiovisual da Embrafilme
Trucagem: MOVEDOLL

Ser feliz no vão (2020)

Sinopse: Ensaio de arquivos sobre a presença negra nas cidades brasileiras. 

Ficha Técnica:

Companhia(s) produtora(s): Coletivo Preto; Baraúna; Quarentena Voadora
Companhia(s) co-produtora(s): 9 Oitavos
Produção: Fabiane Zanol; Maria Aparecida Galvão; Edna Gramasco
Produção executiva: Lucas H. Rossi dos Santos
Companhia(s) distribuidora(s): Arapuá Filmes
Roteirista: Antonio Molina; Firmino Neto
Pesquisa: Henrique Amud
Colaboração de roteiro: Ivam Galvão; Cacá Ottoni
Direção: Lucas H. Rossi dos Santos
Assistente de direção: Luiz Carlos dos Santos
Direção de som: Pedro Santiago
Montagem: Lucas H. Rossi dos Santos
Assistente de montagem: Fávio Ottoni
Colaboração de montagem: Valéria Mauro
Edição: Lucas H. Rossi dos Santos
Montagem de som: Pedro Santiago
Créditos e designer: Caio Dornelas; Fabiane Zanol
Acervos: TV Manchete; Spike Lee; Prelinger Archives; Leon Hirszman; Jeremy Marre; Montreaux Jazz Festival; Associated Press; Pathé
Trilha sonora: Mario Agata; RVicenzo; Rádio Libertadora; Fela Kuti; Nina Simone; Count Basie; Elza Soares
Apoio: Estácio

Clique aqui para assistir aos filmes completos

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

PASSARELA 04 - PROGRAMA 16

Passarela 04 - Programa 16

Filmar o cuidado, cantar o mundo (103')

22 de julho a 13 de agosto

Um ponto evidente aproxima os filmes do Passarela 04 – Programa 16: são quatro obras dirigidas por mulheres, cujas protagonistas são mulheres. Mas para além desta ligação, são filmes com operações e temas muito distintos que parecem se basear numa travessia comum: da dor ao canto; da precariedade à dignidade de se deixar filmar; do fardo do cuidado à possibilidade de celebração. Nessa imagens, o pranto se transforma numa música sem fim que insiste na continuidade da vida – seja pelo humor, pela obstinação, pela fartura ou pela esperança. 

Iniciamos a sessão com “É Miquelina, minha mulher”, de Fátima Lannes (1987), uma ficção musical sobre um homem que sonha com sua própria morte e o abandono de sua mulher no cemitério. A narrativa é baseada na música “Flores de Plástico ao Amanhecer”, de Fernando Pellon e Renato C. Lima, realizada no contexto do coletivo Malta D’Areia, do qual Lannes fazia parte. De humor ácido, o filme brinca com a obsessão do defunto por uma morte graciosa: Miquelina, sua esposa, deveria cuidar das flores de seu caixão e permanecer em luto eterno. Mas a viúva se recusa à tristeza sem fim e abandona o falecido para entrar num cortejo em comemoração ao Dia de Finados. 

Seguimos para o documentário “Só amor não basta”, de Dilma Lóes (1977), que retrata a realidade dura de mães trabalhadoras que, sem o suporte do Estado, contam com o apoio de cuidadoras da vizinhança para criar seus filhos. Por meio de entrevistas e de uma câmera íntima que passeia pelo cotidiano das personagens – uma trocadora de ônibus, uma senhora que cuida de mais de dez crianças numa casa precária, um professor de uma creche improvisada, entre outros –, Lóes constrói um argumento sensível e preciso sobre a divisão do trabalho de cuidado. Ao final do filme, um grupo de sambistas canta, em tom de oração, a narrativa dessas famílias: “Deus ajuda quem trabalha, estou sempre a trabalhar… Mas encontrei uma senhora que disse que por meus filhos ia se responsabilizar.”

Em “Fartura”, de Yasmin Thayná (2019), fotografias e filmagens domésticas de famílias negras de periferia e de favelas cariocas em momentos festivos – aniversários, ano novo, natal – se tornam uma memória compartilhada da celebração da vida em comunidade. As imagens, como destaca Thayná, estão sempre mediadas pela presença da comida, de uma mesa farta e aberta à vizinhança. Aqui, a cozinha é um espaço de cuidado, socialização e até de proteção: uma das entrevistadas conta que cozinhava com dendê para manter o ex-marido violento afastado. Nas filmagens, a música é uma constante: enquanto as pessoas comem, se abraçam e posam para as fotos (que são registros raros nas famílias negras), também dançam e cantam num êxtase coletivo. 

Encerramos a sessão com a versão completa de “Sulanca: A Revolução Econômica das Mulheres de Santa Cruz do Capibaribe”, de Katia Mesel (1986). O média-metragem é um documentário musical que narra, num ritmo semelhante ao cordel, o milagre socioeconômico de uma cidade de Pernambuco que saiu da miséria por meio da produção de “sulancas” pelas mulheres da região. Os produtos, que são colchas de retalhos feitas com tecidos de diferentes tamanhos, cores e padrões, permitiram que essas mulheres deixassem as grandes fábricas e criassem seus próprios negócios, expostos em grandes feiras de confecção. Entre registros da costura artística das sulanqueiras, do cotidiano movimentado da cidade e de encenações que ressaltam a importância do trabalho manual para a comunidade, Mesel documenta uma pequena revolução local que transformou a vida em Santa Cruz do Capibaribe.

LISTA DE FILMES:

É Miquelina, minha mulher (Fátima Lannes, 1987, 16’)

Só amor não basta (Dilma Lóes, 1977, 20’)

Fartura (Yasmin Thayná, 2019, 27’)

Sulanca: A Revolução Econômica das Mulheres de Santa Cruz do Capibaribe (Katia Mesel, 1986, 40’)

Agradecimentos: Vanessa Lóes, Yasmin Thayná, Katia Mesel, Avir Shamaim

FICHA TÉCNICA DOS FILMES:

É Miquelina, minha mulher (1987) 16'

Sinopse: Narrativa musical sobre o delírio de um defunto que exige luto eterno de sua esposa

Créditos do filme:

Companhias Produtoras: Estrela Base Vídeo Produções LTDA; EMBRAFILME S.A.
Direção e Roteiro: Fátima Lannes
Elenco principal: Laert Sarrumor; Suzana Saldanha
Participação especial: Jayme Periard
Produtor Executivo: José Carlos Escalero
Diretor de Fotografia: Edison Baptista
Montagem: Severino Dadá
Trilha Sonora e Direção Musical: Paulinho Lemos; Roberto Bozzetti
Músicas de Fernando Pellon: Crime Hediondo (c/ Paulinho Lêmos); Jardim da Saudade; Não é Bem Assim; Flores de Plástico ao Amanhecer (c/ Renato C. Lima); Rigidez Cadavérica (c/ Paulinho Lêmos)
Argumento baseado na música "Flores de Plástico ao Amanhecer", de Fernando Pellon e Renato C. Lima
Elenco: Augusto Pessoa; Isabel Christina Ramon; Ivete Dibo; Miro do Valle; Renato Galhano; Tunico Frazão; Valter Bernardo; Yeda de Alvim Hamelin
Meninos: Fábio de Carvalho (Guinho); Flábio de Carvalho (Gordo)
Ass. de Câmera: Nélio Ferreira
Eletricista: Valter Bernardo
Ass. de Produção: Andréa Pereira Balthazar; Tunico Frazão
Maquiagem: Eduardo Coccoli
Músicos: Paulinho Lêmos (Voz, Violão e Arranjos); Fernando Pellon (Voz); Clara Sandroni (Voz em "Jardim da Saudade"); Rosinha de Valença (Violão em "Não é Bem Assim"); Adriano Giffoni (Baixo); Alceu Maia (Cavaquinho); Oscar Pellon (Bateria e Percussão); Poubel (Percussão); Sávio Araujo (Sax)
Técnico de Gravação: Edison Luiz Campos (Estúdio Chorus)
Música "FLORES DE PLÁSTICO AO AMANHECER" com Nadinho da Ilha (coro), extraída do disco "CADÁVER PEGA FOGO DURANTE O VELÓRIO". Música "CADÊ MIQUELINA" de Tião Fuleiro e Wilson Diabo; "Prefixo de Falecimento", PRK - 30
Joias: Jeff Zahnon
Laboratório de Imagem: Curt e Alex Associados

Só amor não basta (1977) | 20'

Sinopse: Documentário sobre mães trabalhadoras que, sem o apoio do governo, precisam se desdobrar para conseguir cuidar de seus filhos.

Créditos do filme:

Pesquisa e Direção: Dilma Lóes
Ass. de Direção: Eugenia A. Moreyra; Luiz Alberto P. Carvalho
Colaboradores: Moema Toscano; Dr. Carlos Gentille de Mello; Tania Mattos Lóes; Maria Luiza F. Kahl; Luiz Carlos Lóes; Pedro Cavalcanti
Montagem: Claudio Macdowell
Fotografia: Roberto Beckert; Jorge Henrique
Produção: Dilma Lóes
Co-produtores: M. Santana; Lydia Mattos

Fartura (2019) | 27'

Sinopse: Ensaio com imagens domésticas feitas por famílias negras de periferia e favelas cariocas que revelam como a comida se torna símbolo de afeto, ritual e memória. 

Créditos do filme:

Direção e Roteiro: Yasmin Thayná
Elenco: Iyabassè Carmem Virgínia, Jurema Werneck, Maria do Carmo Rodrigues, Muniz Sodré, Raika Julie, Rodrigo Reduzino, Jonathan Nunes, Leonne Gabriel, Gabriele Roza, Gabi Monteiro, Rosa Monteiro, Osmar Machado, Luiz Matias Cravo e Jorge Martins Cravo
Produção: Juliana Nascimento
Montagem: Luana Cortes
Projeto gráfico: Ana Paula Mathias; Bianca Baderna
Tipografia: Dulce Buteikis
Orientadores: Patricia Furtado Machado, José Mariani
Coordenação de pesquisa: Yasmin Thayná
Pesquisadoras: Juliana Nascimento, Luana Cortes
Desenho de som: Luana Cortes
Texto: Yasmin Thayná
Edição de texto: Sol Miranda
Entrevistados: Dandara Batista; Rosa Monteiro; Jonathan Nunes; Maria do Carmo; Luiz Antonio Simas; Carmem Virgínia; Rodrigo Reduzino; Raika Julie; Muniz Sodré; Dida Nascimento; Tia Surica; Jurema Werneck
Acervos: Ana Clara Nunes; Luana Nunes; Daniela Santa Izabel; Maria do Carmo Rodrigues da Silva; Dona Angélica; Marilza Rodrigues; Gabriela Monteiro; Nana Raiza; Rosa Monteiro; Nathalia Nunes; Gabriele Roza; Sabrina Ginga; Jonathan Nunes; Simone Nunes; Leonne Gabriel; Vera Lúcia Cruz
Colaboradores de pesquisa: Maria do Carmo Rodrigues da Silva (Dudu); Casa do Jongo; Cleide Gonçalves de Oliveira; Tina Nandy; Silvana Rodrigues da Silva; Suellen Tavares; Museu do Samba; Flavinho; Setor de Pesquisa do Museu do Samba; Damiana Alves; Cultine; Luana Ferreira; Arquivo Nacional; Karina Helena Ramos
Transcrição das entrevistas: Gabriel Santos
Músicas citadas: "Tô fraco", Terra Samba, Clóvis Cruz e Santa; "Festa de Arromba", Erasmo Carlos e Roberto Carlos; "Pega no bumbum", É o Tchan; "O que é o que é", Beth Carvalho

Sulanca: A Revolução Econômica das Mulheres de Santa Cruz do Capibaribe (1986) | 40'

Sinopse: Documentário sobre a produção artística e coletiva das sulanqueiras, mulheres de uma cidade pequena de Pernambuco que transformaram a economia local. 

Créditos do filme:

Companhia Produtora: ARRECIFE Produções Cinematográficas
Produção e Direção: Katia Mesel
Pesquisa e roteiro: Katia Mesel
Consultores: João Maia; Glauce Campelo
Apoio cultural: EMBRAFILME; FUNDARPE
Trilha sonora: Catia de França
Som direto: Toninho Murici
Ass. de Câmera: Luis Abramo
Eletricista: Otávio Carneiro
Still: Toninho Murici
Estagiária de Produção: Leila Cavalcante
Motoristas: Louro e Rogério
Laboratório: LIDER
Transcrição e mixagem: DELART
Edição e montagem: Severino Dadá
Direção e fotografia e câmera: Sany Lafon Padua

Assista à playlist do programa no canal do CTAv no Youtube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

PASSARELA 04 - PROGRAMA 15

Passarela 04 - Programa 15

Cinema: um brilho nas noites do terceiro mundo (66')

19 de junho a 13 de julho

No dia Dia Nacional do Cinema Brasileiro, pegamos emprestado um trecho de “Cinemas fechados”, de Sergio Péo (1979-1980), para nomear o Programa 15 do Passarela 04. Em tom de manifesto, o filme que abre a sessão declara seu amor pelo cinema produzido em terras latino-americanas, que não foge de declamar em praça pública – nas piores condições possíveis – que as imagens precisam ser vistas e compartilhadas para fazer avançar a produção e o pensamento brasileiro. Cinema independente, país independente. Num cenário de precariedade da produção e repressão da liberdade de expressão, em plena ditadura militar, filmar é insistir na imagem bruta e na sobrevivência de uma classe trabalhadora que reivindica o cinema – em sua beleza e suas durezas. No filme de Péo, um grupo de artistas, técnicos e espectadores organiza uma sessão ao ar livre, gratuita, numa praça, defendendo que, sejam quais forem as condições de boicote, o cinema há de continuar.

Já em “A batalha dos sete anos”, de Alfredo Sternheim (1968), voltamos uma década para conhecer um período de grande crise da história do cinema brasileiro: quando a Companhia Vera Cruz, de São Paulo, o maior estúdio cinematográfico da época, anunciou o encerramento de suas atividades em 1955. Segundo o filme, a crise durou por sete anos, até 1962, quando "Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte, venceu o Festival de Cannes e reacendeu as esperanças e sonhos do cinema nacional. Entre uma narração didática e trechos de filmes centrais que sucederam o período áureo da Vera Cruz, como “Estranho encontro” (Walter Hugo Khouri, 1958) e "Assalto ao Trem Pagador" (Roberto Farias, 1962), Sternheim deixa escapar uma disputa importante do cinema nacional, que encontra formas de sobreviver para além do modo de produção e linguagem hollywoodianos.

“Trem dos sonhos”, de Paulo Galvão (1978), captura a insistência do povo e do cinema brasileiro. O filme acompanha a viagem de migrantes nordestinos no chamado Trem do Norte – abandonado pelo estado e deixado à própria sorte das pessoas que buscam por melhores condições de vida. Homens, mulheres e crianças são filmados acordados e adormecidos nos vagões do trem – entre o riso, a esperança e o cansaço. Os diálogos e depoimentos dos viajantes são dispersos e vagos. A câmera captura o movimento instável dos vagões e trechos cotidianos da viagem (crianças brincando, refeições coletivas, conversas corriqueiras). O destino dos migrantes é incerto, mas a câmera continua a filmar.

Por fim, em “Colagem”, de David Neves (1968), voltamos ao teor de manifesto do início da sessão – desta vez, com um ensaio que se aproxima de Luiza Maranhão e Antônio Pitanga a partir da montagem de trechos de filmes do Cinema Novo. O homem brasileiro, um novo rosto do cinema, encontra uma mulher brasileira. “A liberdade corre. O cinema é uma luta.”, declara o narrador. É justamente na batalha por permanecer no cinema que a liberdade corre nos corpos dos atores – corpos negros que precisam criar suas próprias fantasias entre a ficção e a realidade dos filmes. No jogo de colar cenas e, assim, instituir uma outra história do cinema nacional, Neves tenta capturar o sentimento coletivo de se fazer filmes e ver filmes no terceiro mundo – com tragédia, comédia, raiva e amor.

Lista de filmes:

Cinemas fechadosde Sergio Péo (1979-1980) - 13’

A batalha dos sete anosde Alfredo Sternheim (1968) - 17’

Trem dos sonhos de Paulo Galvão (1978) - 24’

Colagem de David Neves (1968) - 12’

Agradecimentos: Sergio Péo, Mayra Jucá, Milton Eulalio, Indeterminações, Lorenna Rocha, Gabriel Araújo

FICHA TÉCNICA DOS FILMES:

Cinemas fechados (1979-1980) | 13'

Sinopse: Manifesto por um cinema do terceiro mundo, em resposta ao boicote ao cinema brasileiro e ao fechamento das salas.

Créditos do filme:

Companhia(s) produtora(s): Corcina - Cooperativa dos Realizadores Cinematográficos Autônomos Ltda.
Companhia(s) distribuidora(s): Embrafilme - Empresa Brasileira de filmes S.A.
Argumento: Sergio Péo
Roteirista: Sergio Péo
Direção: Sergio Péo
Produção: Maria de Fátima; Sergio Francelino
Direção de fotografia: Ronaldo Nunes
Câmera: Ronaldo Nunes
Som direto: Silvio Darim; Helio Grosman
Montagem: Alexandre Alencar
Mixagem: De La Riva
Maquinista: Pintinho
Eletricista: Teles
Músicas: Amor de índio (Beto Guedes); Machine Gun (Jimmy Hendrix); Avania (Vadinho - Dudu - Alcides); América Latina (poema de Nicomedes Santa Cruz)
Colaboradores: Emanuel Cavalcanti; Antonio Moreno; Roberto Machado; Roland Henze; Jorge Abranches; Luis Mendonça; Marta Irene; Simone Gouveia; Paulo de Faria; Luiz Bezerra; Ivo Nunes; Cida Corvetto; Ilva Ninho; Pauli; Teodoro Pavão Gui

A Batalha dos sete anos (1968) | 17'

Sinopse: Investigação sobre os sete anos que se seguiram ao fechamento da Companhia Vera Cruz, em 1955, e que marcaram um período de crise para a produção cinematográfica nacional.

Créditos do filme:

Companhia produtora: INC - Instituto Nacional de Cinema
Produção: Ruy Pereira da Silva
Direção: Alfredo Sternheim
Direção de fotografia: Gyula Kolozsvari; Julio Heilbron (depoimentos)
Edição: Maximo Barro
Títulos de apresentação: Roberto Miller
Narração: Oliveira Netto

Trem dos sonhos (1978) | 24'

Sinopse: Migrantes nordestinos embarcam no chamado Trem do Norte em busca de melhores condições de vida.

Créditos do filme:

Companhia(s) produtora(s): Embrafilme - Empresa Brasileira de Filme S.A.; MEC
Direção: Paulo Galvão
Direção de fotografia: Adilson Ruiz
Som direto: Kiko Martins
Edição: Reinaldo Volpato; José Caroni Jr.; Paulo Galvão
Montagem: José Caroni Jr.
Laboratório de imagem e montagem do negativo: Revela
Estúdio de som: Vice Versa; Stop Som
Técnicos: Valtinho; Nani; Junior; Pablito
Agradecimentos: Alan Fresnot; Escola de Comunicação e Artes; Harumi; J.B. Reimão; José Scatena; Lucio Kodato; Mario Mazetti; Paulo Emílio; Pedro Farkas; Roberto Santos; Rogério Duprat

Colagem (1968) | 12'

Sinopse: Ensaio sobre o Cinema Novo a partir da recuperação de filmes com Antônio Pitanga e Luiza Maranhão.

Créditos do filme:

Companhia(s) produtora(s): Filmes da Matriz; Renato Newman
Produção: David Neves
Roteirista: David Neves
Direção: David Neves
Direção de fotografia: Renato Newman
Montagem: Renato Newman
Texto: Maurício Gomes Leite
Narração: Hugo Carvana
Restauração 4K (IMS/INDETERMINAÇÕES) - 2024

Assista à playlist do programa no canal do CTAv no Youtube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

PASSARELA 04 - PROGRAMA 14

programa 14
Programa 14

CTAv: 40 anos de audiovisual e memória (84’)

30 de maio a 18 de junho

O Centro Técnico Audiovisual (CTAv) foi criado em 1985 por meio de um acordo entre a Embrafilme e o National Film Board do Canadá, com o objetivo de estimular o desenvolvimento de tecnologias no audiovisual brasileiro.  Desde o início, o foco foi o apoio à produção nacional – especialmente com curtas e médias-metragens – e a formação técnica de profissionais do setor. Inicialmente, o CTAv esteve vinculado à Diretoria de Operações Não-Comerciais da Embrafilme (DONAC). Em 1987, com a reestruturação da estatal, passou a integrar a Fundação do Cinema Brasileiro (FCB). Após a extinção da FCB, em 1990, suas funções foram absorvidas pelo IBAC, posteriormente renomeado Funarte, onde o CTAv passou a se chamar Decine (Departamento de Cinema e Vídeo). Nesse período, atuou fortemente na promoção de mostras e festivais, no apoio técnico à produção e na preservação e difusão dos acervos sob sua guarda. Em 2003, foi transferido para a Secretaria do Audiovisual (SAv) do Ministério da Cultura, retomando o nome original de Centro Técnico Audiovisual, agora como Coordenação-Geral.

Desde sua criação, o CTAv tem desempenhado um papel fundamental no fomento ao audiovisual do Brasil, seja por meio de coproduções, suporte técnico, premiações em festivais ou no trabalho contínuo de preservação e difusão de obras audiovisuais. Ao longo dos anos, o CTAv também disponibilizou ao público parte de seu acervo – que remonta aos anos 1930 – em formatos como VHS e DVD. Destacam-se coleções como Brasilianas, O Brasil em Curtas, Tesouros do Cinema Brasileiro e Cinema Latino-Americano, além de edições especiais em DVD com clássicos de Humberto Mauro, do Ciclo do Recife e a antologia Panorama do Cinema Brasileiro (1968), organizada por Jurandyr Noronha. Também foram lançadas edições de títulos emblemáticos como “O Saci”, de Rodolfo Nanni; “O Assalto ao Trem Pagador”, de Roberto Farias; e “A Rainha Diaba”, de Antônio Carlos Fontoura.

E isso é apenas um fragmento dos 40 anos de história que celebramos em 2025. O Passarela 04 é um capítulo mais recente dessa longa trajetória. Lançado em setembro de 2023, o programa tem como objetivo ampliar o acesso ao acervo, articulando a memória audiovisual brasileira com novas formas de circulação. Nesta edição especial, homenageamos essa história com uma programação dedicada a obras clássicas do nosso acervo. Propomos um percurso por diferentes formatos e enfoques que marcaram a atuação do CTAv: animação, reportagens e entrevistas sobre o universo do audiovisual, iniciativas de formação técnica e produções pioneiras do cinema brasileiro.

Abrimos a sessão com “Quando os Morcegos se Calam” (1986), uma produção do Núcleo de Animação que utiliza técnicas das histórias em quadrinhos para brincar com as convenções do terror e do suspense. Em seguida, exibimos o “Programa Cinemateca 152 – Dubladores” (1979), que é um mergulho no universo da dublagem no Rio de Janeiro, com depoimentos e bastidores que revelam a complexidade desse ofício. Depois, apresentamos o registro do “1º Curso Prático de Cinema” (1972), que acompanha estudantes em todas as etapas da produção de um curta-metragem, promovendo uma imersão na prática cinematográfica. Encerramos com um tributo a um dos pioneiros do cinema brasileiro, com o filme Humberto Mauro (1970), que homenageia sua obra e as primeiras décadas da cinematografia nacional.

AGRADECIMENTOS: Rosiane da Fonseca

 FICHA TÉCNICA DOS FILMES

 Quando os morcegos se calam (1986) | 5’

 Sinopse: Animação sobre um homem que enfrenta uma terrível tempestade, até se deparar com uma surpresa em sua casa. 

Companhia(s) produtora(s): Núcleo de Animação; Embrafilme; Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional - (ACDI)

Coordenação de produção: Carla Esmeralda; Claudia Pereira

Roteirista: Fábio Lignini

Direção: Fábio Lignini

Câmera: Fábio Lignini

Montagem: Fábio Lignini

Montagem de som: Helio Lemos

Programa Cinemateca 152 - Dubladores (1979) | 31’

Sinopse: Programa que investiga o ofício de profissionais da dublagem no Rio de Janeiro, na década de 1970. 

Produção: TVE; Embrafilme

Direção de gravação e edição: Dudu Azevedo

Supervisão: Marta Alencar

Ass. de fotografia: José Mariano

Eletricista: Ulisses Alves Moura

Direção de fotografia: Walter Carvalho

Ass. de montagem e arquivo: Fátima Costa

Montagem: Mário Murakami; Carlos Cox

Pesquisa e arquivos: Leone Campos; Lilian Nabuco

Ass. de produção: Luiz Maurício Capiberibe; Fernanda Pacheco

Produção de TV: Germana Araujo

Direção de produção: Tininho Fonseca

Reportagem: Aída Marques; Geisa Mello

Edição de jornalismo: Zécarlos Asbeg

1º curso prático de cinema (1972) | 28’

Sinopse: Reportagem sobre o 1º curso prático de cinema promovido pelo INC, com aulas de grandes nomes do cinema brasileiro e a produção de um curta-metragem pelos alunos.

Companhia produtora: INC - Instituto Nacional do Cinema

Realização: Gerson Souto, Jorge da Silva, Juarez Sá, Próspero Olivetti, Sônia Corrêa, Therezinha Corrêa

Direção: Jurandyr Passos Noronha

Som: Hélio Barrozo Netto

Laboratório: Lider

Narração: Paulo Santos

Humberto Mauro (1970) | 20’

Sinopse: Homenagem ao cineasta pioneiro Humberto Mauro, com a recuperação e apresentação de parte de sua filmografia.

Produção, argumento e roteiro: Gabriel Skinner Filho

Direção e montagem: Jurandyr Passos Noronha

Direção de Fotografia: Gyula Koloszvart

Assistente de Fotografia: Marco Botino

Direção de som: Hélio Barrozo Netto

Narração: José Santa Cruz

Produção: INC (Instituto Nacional do Cinema); DFE (Departamento do Filme Educativo)

Laboratório: Líder Cine Laboratórios

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

PROGRAMA 13

Instantes de luz em Super-8 e 8mm - Digitalização Viajante (65’)
17 de abril a 04 de maio

programa 14
Programa 13

A preservação audiovisual no Brasil não é um processo linear ou contínuo. Nosso cinema é atravessado por perdas – muitas vezes irreparáveis –, que resultam do descaso com a memória e com as narrativas não oficiais contidas nas muitas películas jogadas à própria sorte. Entre 2022 e 2023, o projeto “Digitalização Viajante” percorreu seis cidades brasileiras (Recife, João Pessoa, Teresina, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) com a proposta de resgatar filmes esquecidos em Super-8 e 8mm, digitalizando-os gratuitamente em um laboratório móvel. Criado pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) e pela Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), em parceria com o CTAv na etapa carioca, o projeto reuniu registros raros da nossa história. 


O Super-8, bastante popular entre as décadas de 1970 e 1980, era um formato barato, portátil e acessível, com uma estética marcada pela câmera na mão e pela imagem granulada. Foi bastante utilizado por cineastas experimentais, mas também por famílias e entusiastas que realizavam seus próprios filmes domésticos. As marcas do tempo presentes nas digitalizações em Super-8 e 8mm (manchas, cores desbotadas, granulações excessivas) parecem anunciar a vulnerabilidade da nossa memória, enquanto também se tornam evidências de filmagens que, pelo cuidado amador ou por puro acaso, sobreviveram à passagem dos anos. 

Nesta sessão do Passarela 04, selecionamos quatro filmes do projeto “Digitalização Viajante” que revelam uma vontade de observar e inscrever o tempo. Filmagens de um mar agitado, do silêncio de um convento, de uma vizinhança desperta pelo esporte de rua e de uma cidade do interior dividida em suas tradições dão um breve panorama de uma filmografia brasileira íntima, diversa e anônima – formada por quem teve acesso ao Super-8 ou 8mm e escolheu alguns instantes de luz para gravar na película. 

Em “Viagem de Navio” (título atribuído), temos um registro de 1933 realizado por Paulo Affonso Leuzinger. Durante 5 minutos, a câmera parece hipnotizada pelo movimento do navio – as ondas quebram na proa e parecem alcançar a lente; o navio sobe e desce no quadro como se acompanhasse o ritmo dos grãos da celulose. Ao chegar ao porto, a paisagem marítima dá lugar às ruas e aos transeuntes. Eventualmente, a imagem se dissolve em superexposição: manchas e grãos correm pela tela, como resíduos de luz.

“Grátia Plena”, de Carlos Porto de Andrade Jr. e Leonardo Crescenti Neto (1980), filma uma freira silenciosa e solitária em meio às suas transgressões e pequenos milagres. Cada gesto da personagem é observado com uma cautela quase obsessiva. Os planos duram em suas ações corriqueiras e extraordinárias: ela caminha sem parar pelo convento, tem prazer em derrubar e colecionar besouros, cospe o sangue da hóstia consagrada e sonha com um possível amante. Realidade e fantasia se misturam num cotidiano que, a princípio, seria controlado apenas pelos rituais da igreja católica. Mas a ficção abre espaço para o absurdo – nele, a freira parece encontrar uma forma perversa de liberdade.

Já “Skate na Zona Norte” é o registro de um campeonato de Slalom, modalidade de skate popular na década de 1970, no bairro do Méier (Rio de Janeiro). Um grupo de jovens andam de skate ladeira abaixo, competindo entre si a partir de pequenos obstáculos. O movimento dos corpos é inebriante: o Super-8 parece brincar com o circuito que os meninos seguem, dançando de um lado para o outro, a tela tremendo junto dos zigue-zagues contínuos. O foco da câmera é a competição, mas o/a cinegrafista às vezes se distrai com um detalhe da luz, dos carros que atravessam a pista, da vizinhança que observa a cena. O final do vídeo atesta para o desejo de continuidade e possível interrupção da brincadeira: um menino pequeno tenta andar de skate na calçada; o plano dura poucos segundos e o rolo do filme acaba. 

Por fim, “Alegre Amargor”, de Euclides Moreira Neto e Luis Carlos Cintra (1980), filma a cidade de Alcântara (MA) e os vários tempos, grupos e contextos que a habitam. Com uma trilha sonora melancólica que cantarola a saudade, as ruínas e o abandono, o documentário explora os conflitos entre as tradições da cidade (as festas religiosas, o povo trabalhador) e seu lado mais permissivo (que vem com o movimento das praias, do turismo e da noite na cidade). Há uma quietude comovente na Alcântara do filme, que lamenta as precárias condições de vida da região, mas insiste em guardar a singela memória das crianças, jovens, trabalhadores e trabalhadoras que permaneceram na cidade. 

PROJETO DIGITALIZAÇÃO VIAJANTE

Realização: Cinelimite, IDFB, ABPA

Inspeção de cópias: Glênis Cardoso Plotnick; Igor Pontes; Natália de Castro

Digitalização e finalização: William Marc Cardoso Plotnick

Trabalhadores do projeto: Débora Butruce; Laura Batitucci; Lila Foster; William Marc Cardoso Plotnick; Natália de Castro; Glênis Cardoso Plotnick; Ines Aisengart Menezes

AGRADECIMENTOS

Leide Caldas, Clari Ribeiro, Ray Jr., Emerson Brandt, Tauana Carlier, João Ubaldo de Moraes, Euclides Moreira Neto, Isabela Cox Cabral, Carolina Porto, Glênis Cardoso e William Plotnick.



FICHA TÉCNICA DOS FILMES

Viagem de navio (1933) | 6’

Parte da coleção de filmes familiares de Tauana Carlier, bisneta de Paulo Affonso Leuzinger, no acervo do CTAv. 

Sinopse:

Registro documental de uma viagem de navio em 1933. 

Grátia Plena (1980) | 28’

Direção, argumento, roteiro e montagem: Carlos Porto de Andrade Jr. e Leonardo Crescenti Neto

Câmera: Leonardo Crescenti Neto

Identidades/elenco: Isabela Cox Cabral; Rahmo Shammah

Trilha sonora: Bruno Negrini

Colaboração: Carolina Martinez; Normando Martinez

Sinopse:

Ficção sobre o cotidiano silencioso de uma freira entre seus rituais, transgressões, sonhos e desejos. 

Skate na Zona Norte (década de 1970) | 7’

Super-8 depositado no acervo do CTAv por Clari Ribeiro, com filmagens de seu pai, Ray Jr., e um grupo de amigos andando de skate. O título atribuído constava em rótulo. 

Sinopse:

Imagens de um campeonato de Slalom, modalidade de skate popular na década de 1970, no bairro do Méier (Rio de Janeiro). 

Alegre Amargor (1980) | 24’

Direção: Virilha Filmes

Argumento e fotografia: Euclides Moreira Neto; Luis Carlos Cintra

Roteirista: Euclides Moreira Neto

Direção de som: Joaquim Henrique Martins

Montagem: Euclides Moreira Neto

Assistente: R. Nonato Medeiros

Iluminação e trilha sonora: Wellington Reis; Joaquim H. Martins

Letreiro: Raimundo Jr. 

Identidades/elenco: Ana; Cristina; Madson; Marília

Sinopse:

Documentário sobre as tradições, o cotidiano e os conflitos da cidade de Alcântara (MA), com filmagens realizadas entre maio e agosto de 1980.

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook



PROGRAMA 12

EFEITOS DA AZARAÇÃO: RUA, CORPO, CÂMERA 
27 de fevereiro a 16 de março
61'

Passarela04Programa12
Passarela04Programa12

Azarar é vagar sem destino, à procura de algo indefinido – uma pessoa, um acontecimento, um instante. No cinema, a azaração se dá pelo olhar, pela busca incessante de um corpo, um gesto, um movimento que pode ser capturado pela câmera. Para que esse jogo aconteça, é preciso, no mínimo, dois polos de atração conectados por um terceiro elemento: o espaço, ou o contexto, onde a aproximação se torna possível. Azarar é sobre ver e ser vista, sobre o desejo de estar em cena e de ser capturada pelo olhar alheio.

Nesta sessão do Passarela 04, trabalhamos com uma triangulação que cria um clima particular de cortejo – não apenas no sentido da paquera, mas principalmente da exibição, do desfile, do vaguear. Rua, corpo, câmera. Esses três elementos se combinam para explorar a liberdade de ocupar o espaço público e todos os riscos e possibilidades que esse gesto evoca. O cinema, ao levar sua câmera para a rua, amplia a dimensão da azaração: transforma o cotidiano em espetáculo, o anônimo em personagem, a paisagem urbana em cenário. Estar na rua é também aceitar a iminência de ser olhada – de ser filmada – em diferentes condições e contextos.

O carnaval talvez seja a expressão mais intensa de toda essa azaração. Por isso, abrimos com "Rio, Carnaval da Vida", de Leon Hirszman, que registra o carnaval carioca de 1978. O cineasta percorre diferentes territórios da cidade com a câmera: das ruas da periferia, onde a celebração se reinventa com espontaneidade, ao baile “oficial”, com diplomatas, artistas e grandes desfiles. O filme resgata a vitalidade de um carnaval que pulsa longe dos holofotes da Sapucaí, onde o teatro popular se manifesta nas escolas de samba, nos blocos, na irreverência dos foliões. Entre anônimos e figuras tradicionais do samba, como Cartola e Nelson Cavaquinho, Zózimo Bulbul é flagrado na noite de terça-feira de carnaval. Sob a chuva, o cineasta ergue o punho e grita para a câmera. Seu corpo treme em êxtase – como tantos outros anônimos que explodem em alegria e se lançam ao olhar do cinema.

Os bastidores de “Chuvas de Verão”, de Cacá Diegues (1977), nos joga para a celebração dos 80 anos do cinema brasileiro. No subúrbio do Rio de Janeiro, a filmagem da ficção é documentada a partir de um cotidiano abalado pela presença do cinema – da câmera, do cineasta, da equipe técnica, dos atores e atrizes. A vizinhança do bairro acompanha o acontecimento de perto. No contraplano de uma encenação de Jofre Soares, protagonista do filme, ou Marieta Severo, que interpreta sua filha, o povo assiste ao cinema acontecer na rua. O depoimento de Cacá é tão importante quanto o do eletricista e da vizinha que especula o enredo do drama. Desejo de filmar e desejo de ver o que se filma se confundem quando a câmera entra no espaço público e atiça a curiosidade do povo.

Já em “Nada Haver”, de Juliano Gomes (2022), a espera por um acontecimento qualquer cria uma atmosfera de tensão e flerte. A trilha sonora, um funk de BH, acumula energia sem nunca explodir, enquanto a narrativa oscila entre uma tela preta e fotografias de um rolezinho no Parque Municipal de Belo Horizonte. O narrador especula sobre uma cena que nunca se define por completo – seja na rua, com os moleques aglomerados, seja no quarto de hotel, onde a paquera não se concretiza. As imagens dos adolescentes no parque capturam instantes que, em sua aparente insignificância, revelam a insistência desses jovens em ocupar o espaço público à sua maneira – ainda que sua simples presença já seja vista como uma ameaça pela polícia. No filme, estar na rua, permanecer em cena e se fazer visível são gestos de sedução que não precisam de desfecho para organizarem um desejo de imagem.

Encerramos com “Mulheres da Boca”, de Cida Aidar e Inês Castilho (1981). Numa das cenas mais marcantes do filme, uma mulher dança para a câmera, conduzindo o movimento e a maneira como é filmada: com alegria, despudor e liberdade. O filme se detém nesse gesto inesperado das putas da Boca do Lixo: apesar de viverem realidades marcadas pelo abandono, pelo silenciamento e pela violência, elas desejam suas próprias imagens e ocupam a tela com a força de quem se sabe observada e quer ser vista. No anonimato da rua e do cinema, elas se reconhecem como gente, como mulheres, como cidadãs comuns que existem em comunidade. Dançar para a câmera, se exibindo em público sem medo do olhar do outro, é também afirmar uma presença concreta no mundo.

LISTA DE FILMES

Rio, carnaval da vida (Leon Hirszman, 1978, 12min, HDCAM)

Chuvas de verão - filmagem SRTV (Equipe SRTV, 1977, 15min, arquivo digital)

Nada haver (Juliano Gomes, 2022, 11min, arquivo digital)

Mulheres da boca (Cida Aidar e Inês Castilho, 1981, 21min, arquivo digital)

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

FICHA TÉCNICA  FILMES

Rio, carnaval da vida (1978) | 12’47’’

Sinopse: Documentário sobre o carnaval carioca de 1978, que transita entre diferentes territórios da cidade – da espontaneidade dos blocos de periferia aos desfiles dos bailes oficiais.

Direção: Leon Hirszman 

Companhia(s) produtora(s): Produções Cinematográficas R.F. Farias

Pesquisa: Alba Zaluar

Direção de produção: Túlio Marcos

Produção executiva: Rogério Faria

Direção de fotografia: João Carlos Horta

Câmera: João Carlos Horta

Assistente de fotografia: Maeve Moser

Som direto: Jorge Saldanha

Montagem: Luis Carlos Saldanha

Assistente de montagem: Hercília Cardillo 

Narração: Sérgio Cabral

Eletricista: Baiano

Chuvas de verão - filmagem (SRTV, 1977) - 15’10’’

Sinopse: Bastidores da filmagem de Chuvas de Verão, de Cacá Diegues (1977), junto da celebração dos 80 anos do cinema brasileiro. O filme é gravado nas ruas do subúrbio carioca e transforma o cotidiano da vizinhança. 

Realização: Equipe do SRTV

Material do SRTV - Serviço de Rádio e Televisão da Embrafilme. O SRTV produziu diversas reportagens sobre cinema brasileiro, entre as décadas de 1970 e 1980. O acervo, composto de materiais em película 16mm e fitas magnéticas, encontra-se arquivado no CTAv. Muitos dos materiais trazem conteúdos não editados ou sobras.

Nada haver, de Juliano Gomes (2022) - 11’45’’  

Sinopse: No Parque Municipal de Belo Horizonte, adolescentes se reúnem para um rolezinho que nunca acontece. Numa narração em off, um flerte nunca avança. A espera é contínua e a expectativa de explosão cresce. 

Direção, roteiro, montagem, fotografia, produção, narração: Juliano Gomes

Edição de Som: Felippe Mussel

Cor: Frederico Benevides

Mulheres da boca (1981) - 21’09’’

Sinopse: Na Boca do Lixo, centro de São Paulo, o cotidiano de prostitutas e seus exploradores é modificado pela presença da câmera. As mulheres da boca buscam construir suas próprias imagens. 

Direção: Cida Aidar e Inês Castilho

Companhia(s) produtora(s): Tatu Filmes

Pesquisa e roteiro: Cida Aidar, Inês Castilho, Jacira V. de Melo, Márcia Vicente, Sarah Feldman, Sarah Yakhni

Assistente de direção: Mario Masetti

Continuidade: Jacira V. de Melo

Direção de produção: Wagner Carvalho

Assistente de produção: Sarah Feldman

Produção de campo: Satã 

Fotografia e câmera: Chico Botelho

Assistente de câmera: Sarah Yakhni

Direção de som: Walter Rogério

Assistente de som: Márcia Vicente

Montagem: Sarah Yakhni; Vânia Debs

Música: Nelson Mello

Elenco:

Rosa Negra

Walder Laurentis

Rosilda Matis

Flavia Castro e Castro

Goffredo Telles Neto

Eletricista: Guido José da Silva

Assistente: Marcelo da Silva

Participação especial Quinzinho; Paulinho Treme Terra

Agradecimentos: Maria Hirszman, Marise Farias, Juliano Gomes, Inês Castilho, Cida Aidar, Cinelimite, Larissa Costa, William Plotnick

PROGRAMA 11
PRÁTICAS DOCUMENTAIS: INSTITUTO NACIONAL DO CINEMA - INC
13 a 30 de agosto
54'

Passarela 04

O Instituto Nacional do Cinema (INC), criado em 1966, foi responsável pela "produção, importação, distribuição e exibição de filmes, ao desenvolvimento da indústria cinematográfica brasileira, seu fomento cultural e sua promoção no exterior"1. Criado no seio da ditadura civil-militar, os oficiais do Estado contavam com que os materiais fílmicos reproduzissem um ideal democrático de nação, investindo sobretudo em homenagens a heróis, eventos e símbolos nacionais.

O INC sofreu com vigilância extrema por órgãos de segurança e informações durante seu funcionamento, sendo frequentemente apontado como um espaço frequentado por cineastas e intelectuais "subversivos". Apesar do enrijecimento e controle, a produção da época apresentou conteúdos contestadores, nem sempre conformados ao discurso político governamental. Muitos diretores, como David Neves, Fernando Coni Campos, Sérgio Muniz, Ruy Guerra, Zelito Vianna, entre outros, produziram filmes através do INC, sobretudo documentários, que nos fazem pensar nos modos de representar e ensaiar sobre um país em pleno estado de exceção. 

Nesse sentido, reunimos quatro documentários que, realizados com diferentes interesses e operando em geografias distintas, nos auxiliam nas reflexões acerca do Brasil, tendo em vista suas complexidades territoriais, raciais, de gênero e classe. O que olham? Como olham? O que desejam mostrar? O que escondem?

Em Brás (1973), Regina Jehá investiga a ocupação de São Paulo por imigrantes italianos e do nordeste brasileiro, com olhares atentos às consequências do êxodo rural. Ainda que faça confluência às concepções raciais que valorizam a mão de obra imigrante em detrimento às das populações indígenas e negras, o filme destaca-se por acompanhar o cotidiano desses personagens sociais, questionando a ideia de progresso e de desenvolvimento que opera nesse centro urbano.

Nos deslocamos até o Ceará para encontrar outras trabalhadoras, que dão título ao filme de Ipojuca Pontes, Rendeiras do Nordeste (1974). Na Praia de Flecheiras, no Ceará, as lentes do diretor acompanham um grupo de mulheres que costuram rendas, uma forma de artesanato que percorre por séculos a região litorânea de nosso país. Apesar de o narrador comentar, em algum momento, que essas artistas "não possuem senso estético", o que as imagens revelam é radicalmente o oposto: entrelaces, tramas e agilidades nas mãos, que dão materialidade a rendas diferentes e coloridas, nós que guardam as tecnologias que atravessam gerações e garantem o sustento de milhares de comunidades.

Em Carmen Miranda (1969), de Jorge Ileli, o velório da grande intérprete e dançarina é tomado de ponto de partida para criar uma pequena biografia. A sua dança e suas canções não são exibidas por pura homenagem ou exaltação: são fragmentos de conflitos que uma mulher encarnou ao simbolizar o Brasil e ter sua imagem exportada, venerada e explorada até as últimas consequências. A crítica desenha-se contra a indústria do entretenimento e tenta nos fazer ver a beleza em meio à violência.

Mesmo com o respiro de vida ao fim do documentário de Jorge Ileli, Alcântara - Cidade Morta (1968), de Sérgio Sanz, nos devolve o pessimismo ao lembrar que a exploração faz parte da maquinária que sustenta o mundo e suas distinções. Já na década de 1960, o realizador entrecruza presente e passado para investigar o abandono de uma cidade do estado do Maranhão. O retorno às águas remonta aos eventos históricos que fundaram o país e, mesmo quando não desejamos, continuam a operar na superfície das imagens e nas nossas formas de fazer perguntas àquilo que está ao nosso redor. 

1 Conforme promulgado em 18 de novembro de 1966 através da Lei nº 4.131.

LISTA DE FILMES

Brás (Regina Jehá, 1973, 11', HDCAM)
Rendeiras do Nordeste (Ipojuca Pontes, 1974, 16', DVCAM)
Carmen Miranda (Jorge Ileli, 1969, 17', HDCAM)
Alcântara - Cidade Morta (Sérgio Sanz, 1968, 10', HDCAM)

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

PROGRAMA 10

BRIGAR PELA ARTE
09 a 31 de Julho
94’

O título do décimo programa do Passarela 04 retoma um verso da música Sambista Perfeito, de Arlindo Cruz. Em Caixa Preta (2023), de Bernardo Oliveira e Saskia, o verso repetido incessantemente faz com que os significados dessas palavras se amplifiquem. O choque entre a poesia do sambista e uma gravura com duas figuras em posição de luta, por sua vez, acentua seu valor descritivo, mas são os sons e a montagem errantes que lançam outros acentos à expressão. Nesse ritmo, a constelação de filmes aqui persegue a ideia em que "brigar" confunde-se com persistir, desafiar, continuar, fazer arte.

Desculpe Atrapalhar o Silêncio de Sua Viagem (2015), de Lia Letícia, está na Estação Central do Recife, onde Jessé de Paula toca seu violino. Local de trânsito intenso de trabalhadores, a música aparece como elemento de suspensão temporal. A batalha é deflagrada contra a automatização da experiência cotidiana. O ato performático instala-se sem desejar ser confundida à paisagem. Pelo contrário, faz questão de rasurar simbolicamente o ciclo repetitivo de exploração capitalista.

Heitor dos Prazeres (1965) é um pequeno retrato sobre a vida e obra do pintor. Sua paixão, suas estéticas e cores são transportadas ao público pelas lentes de Antonio Carlos da Fontoura. O ensaio de aproximação ao artista negro dialoga com outros experimentos do diretor, que buscou se aproximar da fatal Gal Costa, da malemolência do chorinho, da psicodelia de Os Mutantes e da ginga da capoeira. Em particular, o que essas imagens e sonoridades oferecem é um retorno ao passado, em suas belezas e complexidades, criando ferramentas importantes para irmos de encontro à sequência do programa.

Vexations (2023), de Leonardo Mouramateus, enfrenta a precariedade e a iminência do desaparecimento da memória através da dança. O corpo-arquivo de João Fiadeiro reencena e revisita as histórias de mais de 30 anos de trabalho. Prestes a fechar o Ateliê RE.AL, seus arquivos e materiais são posicionados às vistas, sendo a imaginação e a inscrição no tempo as principais matérias para esse exercício que é, ao mesmo tempo, fílmico e historiográfico.

Por fim, Caixa Preta combina sampleamentos e hackeamentos que nos mergulham em expressões do pensamento radical negro, sob influência da sonoridades e expressividades negras. Do afrogospel da pastora Ana Lúcia ao Terceiro Milênio de Negro Leo, a negridade emerge de forma não-linear, impura e completamente fragmentada. Brigar pela arte, então, torna-se um movimento de fuga e risco, de desobediência e de desejo. Ou, até mais: de profunda inadequação.

LISTA DE FILMES

Desculpe Atrapalhar o Silêncio de Sua Viagem (Lia Letícia, 2015, 6', arquivo digital)

Heitor dos Prazeres (Antonio Carlos da Fontoura, 1965, 14', arquivo digital)

Vexations (Leonardo Mouramateus, 2023, 23', arquivo digital)

Caixa Preta (Bernardo Oliveira e Saskia, 2023, 51', arquivo digital)

Agradecimentos: Lia Letícia, Saskia, Rita Vênus, Uma Pedra no Sapato, Antonio Carlos da Fontoura, Bernardo Oliveira, Leonardo Mouramateus, Luís Fernando Moura.


Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

PROGRAMA 9
FOGO NO TERREIRO
13 a 30 de junho
86’

fogo

Num primeiro movimento, Fogo no Terreiro nasce de um desejo de investigar as performatividades presentes em festas e comemorações que dialogam estreitamente com a religiosidade, o mítico e as cosmopercepções que alargam aquilo que compreendemos como "folguedos" ou "espetáculos populares". 

O contato com os filmes, no entanto, nos soprou um novo elemento: o fogo. 

Seja como comunicação, purificação, energia cinética ou ferramenta necessária para o ato de cozinhar, o fogo persiste como (e se metamorforseia para além do) símbolo entre os quatro curtas-metragens aqui apresentados, sendo eles São João em Santa Cruz, Pankararu de Brejo dos Padres, Dramática Popular e Aguyjevete Avaxi'i. 

Assim, o programa dobra a aposta nos atos celebratórios e criativos, buscando ir além da superfície das imagens, para reivindicar o poder do mistério, da proteção e do segredo que se alastram com as múltiplas formas que o fogo aparece no conjunto de filmes.  

"O carro de som prenuncia o São João quente como a fogueira, gostoso como a pamonha e a canjica de nossa terra", diz o locutor do carro de som que atravessa o filme de Katia Mesel, São João em Santa Cruz (1987). O trocadilho dos quitutes com o gostinho do festejo prenuncia o ato performático: bacamarteiros ajustam suas armas de fogo em plena luz do dia, sob o céu de bandeiras coloridas, para fazer parte da quermesse.

A inflexão, a suspensão e o contraste conectam o filme anterior a Pankararu de Brejo dos Padres (1977). O cotidiano de uma comunidade dos Pankararus é documentado pelo olhar de Vladimir Carvalho. Se não é o fogo o elemento visível, é a fumaça derivada dos corpos que se movimentam no chão de terra batido que nos faz lembrar da fumaça liberada pelos bacamartes em ação. 

Mesmo que entrevistas e relatos orais tentem oferecer a quem assiste um pouco de partilha daquele modo de vida que estava sendo transformado em imagens, é a performatividade e plasticidade da Festa do Umbu que causa atrito naquilo que ensaia enunciar ou explicar algo do mistério que envolve a cerimônia desses povos originários. O fogo no fumo nos convida a retornar ao fluxo do programa.

Mergulhamos novamente nas performatividades populares com o filme de Geraldo Sarno, Dramática Popular (1969). Se as vozes, no filme anterior, tentavam se sobrepor às imagens como forma de apreensão daquilo que estava sendo visto ou vivenciado, uma das maiores potencialidades desse curta de Sarno é justamente ouvir a brincadeira do Boi Bumbá e dos fogos de artifício que são lançados em meio à festa.

Por fim, Aguyjevete Avaxi'i (2023) nos devolve a outro território indígena, a aldeia Kalipety do povo Guarani M’bya. Fogo para defumar, fogo para assar o milho, fogo para aquecer, fogo para dançar. Se aqui o filme acompanha as etapas de colheita do milho e sua relação ancestral entre todos os seres visíveis e invisíveis, é o fogo que mais uma vez persiste, sendo o elo elementar entre todos os movimentos que Kerexu Martim não apenas observa, mas de que participa enquanto filma. 

LISTA DE FILMES


São João em Santa Cruz (Katia Mesel, 1987, 9', Arquivo digital)

Pankararu de Brejo dos Padres (Vladimir Carvalho, 1977, 41', HDCAM)

Dramática Popular (Geraldo Sarno, 1969, 15', Arquivo digital)

Aguyjevete Avaxi'i (Kerexu Martim, 2023, 21', Arquivo digital)

Agradecimentos: Kerexu Martim, Victoria Moawad, Natali Mamani, Sophia Pinheiro, Rede Katahirine, Katia Mesel, Instituto Catitu, Cinelimite, William Plotnick, Avir Mesel.


Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok
Facebook

PROGRAMA 8
TRABALHAR NO CINEMA
06 a 31 de maio
77'

No mês em que se rememora a luta e o direito de trabalhadoras e trabalhadores ao redor do mundo, nós decidimos olhar para as múltiplas formas de trabalho dentro do cinema, passeando pela linguagem e percebendo como o fazer cinematográfico pode representar ou fabular o ambiente e o ato de trabalhar.

Se, para muitos, o cinema pode ser um ambiente luxuoso e deslumbrante, para outros, sobretudo aos que dedicam longas jornadas de trabalho para edificar o campo cinematográfico no país, a palavra cinema evoca um misto de sentimentos que pendula entre instabilidade e satisfação, prazer e necessidade, resistência e oportunidade. 

Abrimos o programa com o SRTV 089, material da Embrafilme protagonizado por Haroldo de Oliveira, que compartilha suas impressões sobre o trabalho do ator e como a racialidade, sendo ele um homem negro, interfere na sua trajetória enquanto artista do audiovisual em nosso país. Com irreverência e criticidade, ele revela um cenário íntimo e nos estimula a pensar acerca da indústria cinematográfica nacional. 

O direito às imagens, à história, ao passado e à moradia se confundem em Mutirão - O Filme (2022), de Lincoln Péricles (LKT). Construir uma casa, um museu, um filme: a partir das imagens que Maria Eduarda vê, e o filme nos mostra, a voz em off da garota revela uma sobreposição de lugares de trabalho. Sempre procurando pelas crianças diante daquilo que está olhando, Duda faz o próprio filme como quem brinca, já deseja o próximo, ao mesmo tempo em que chama pela coletividade, pela voz do outro, e faz uma pergunta importantíssima: Quem é que aguenta trabalhar todo dia?

A voz é um elemento fundamental em Amores de Rua (1994), de Eunice Gutman. Ao reunir diversas mulheres envolvidas com o trabalho sexual e a luta pela regulamentação das profissionais do sexo, a diretora possibilita que o cinema torne-se um instrumento de autoorganização, um documento fundamental para um labor ainda tão estigmatizado, uma contravenção ao escutar vozes que, muitas vezes, são excluídas da paisagem tanto do cinema como das de discussões sobre o trabalho.

Terminamos o programa no chão da fábrica, com A Máquina Infernal (2021), de Francis Vogner dos Reis. O controle, a precariedade dos instrumentos de trabalho e a instabilidade das relações trabalhistas são contrastados pela inquietação e emoções de trabalhadoras e trabalhadores. Imagens de arquivo e ruídos do coração do maquinário precedem uma convulsão geral. A ficção formula uma resposta ao sistema que adoece os corpos.

LISTA DE FILMES

SRTV 089. Haroldo de Oliveira - seu trabalho como ator (Equipe do SRTV, 1978, 7', Arquivo digital)

Mutirão: O Filme (Lincoln Péricles (LKT), 2022, 10', Arquivo digital)

Amores de Rua (Eunice Gutman, 1994, 30', Beta SP)

A Máquina Infernal (Francis Vogner dos Reis, 2021, 30', Arquivo digital)  

Agradecimentos: Eunice Gutman, Lincoln Péricles, Francis Vogner dos Reis.


Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok



PROGRAMA 7
CAMINHAR CONTRA O VENTO
 
08 a 30 de abril
83'’

caminhar contra o vento

A referência ao verso da música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, condensa o imaginário presente no conjunto de filmes do sétimo programa do PASSARELA 04.

Caminhar contra o vento é uma constelação de média e curtas-metragens realizados durante a ditadura civil-militar brasileira. As multidões, as manchetes de jornais, o militarismo, a resistência, o depoimento, as prisões, os modos de viver nas diferentes geografias do país, as experiências raciais marcadas pelo trauma, a arte, a censura, a liberdade, os exílios, as canções: tudo se mistura entre as imagens e sons que se combinam e se contrastam nessa sessão.

Começamos com Fênix (1980), de Silvio Da-Rin. Com depoimentos de Zé Celso, Norma Bengell, Caetano Veloso, Cacá Diegues, Chacrinha, entre outras personalidades, o diretor constrói um caleidoscópio que revela a complexidade de um país em seus tempos de repressão constitucionalizada. Sob influência do Movimento Estudantil, Cinema Novo e Tropicalismo, revela o ato rebelde de ir contra a corrente, de mover o corpo em oposição aos ventos reacionários. A violência do período é contraposta pela voz e pela inquietude daquelas que estavam dispostas à luta.

Poderíamos dizer, dessa forma, que Rocinha Brasil 1977 (1977), de Sérgio Péo, é o avesso do avesso. A dificuldade de refletir sobre as resistências contra a ditadura civil-militar fora da ótica das classes médias e brancas e da elite intelectual do país ainda persiste. No entanto, enquanto o asfalto era ocupado pelos militares, nas vielas e becos de agrupamentos periféricos do país e, particularmente, do Rio de Janeiro, experienciavam-se diversas formas de violência que ainda seguem invisibilizadas.

A questão da habitação é apresentada e são as múltiplas formas de coletividades negras (e não brancas) que se manifestam em oposição à máquina de morte física e simbólica que o regime ditatorial (e a ideia de Brasil) impôs. E, no meio disso tudo, as contradições permanecem vivas. Acorde Maior (1983), de José Inácio Parente, firma uma ruptura no fluxo de imagens e som, mas destaca-se justamente por sua suspensão enigmática.

Por fim, Em Nome da Segurança Nacional (1984), de Renato Tapajós, acompanha o Tribunal Tiradentes, ocorrido em São Paulo. As ferramentas e impunidades da ditadura são compartilhadas em sua rigidez, mas os depoimentos de pessoas que combateram ou vivenciaram de perto o horror do regime encontram uma multidão que celebra a vida, a liberdade, o ar de um país que seguia em rumo à redemocratização.

Há coisas das quais precisamos lembrar.



LISTA DE FILMES


Fênix (Silvio Da-Rin, 1980, 12', U-matic)

Rocinha Brasil 1977 (Sérgio Péo, 1977, 19', Arquivo digital)

Acorde Maior (José Inácio Parente, 1983, 4', Beta SP)

Em Nome da Segurança Nacional (Renato Tapajós, 1984, 48', Arquivo digital)

Agradecimentos: Maya Da-Rin, Francis Vogner dos Reis, José Inácio Parente, Laboratório Cisco, Lucas Parente, Sérgio Péo, Sílvio Da-Rin, Renato Tapajós.


Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok




PROGRAMA 6
REMONTAR/EXPERIMENTAR
04 a 31 de março


O que se pode fazer com e através do cinema? Por mais simplória que pareça a formulação, ela nos leva a pensar sobre as possibilidades técnicas-estéticas do fazer cinematográfico, a dimensão ética das imagens, os desejos de historização e criação de memória do cinema nacional, uma interrogação que, no fundo, não é nada simples.

No programa Remontar/Experimentar, reunimos quatro curtas-metragens que fazem de si laboratórios de investigação da linguagem do cinema, em seus aspectos formais e políticos. Ao revisitar a história do cinema, impulsionam reformulações do fazer cinematográfico, vislumbrando, muitas vezes, uma crítica ao país. 

Sempre houve uma conivência entre o coronelismo e o cinema brasileiro, diz Abraão Aragão, personagem-entrevistado de Que cavação é essa? (2008), de Estevão Garcia e Luís Rocha Melo. A preservação de um material em película rodado em uma fazenda do Coronel Alexandrão é o ponto de partida para a elaboração de um ensaio sobre a preservação audiovisual no país. 

Conferindo visibilidade aos trabalhadores dessa atividade ainda pouco reconhecida no Brasil, a reportagem cinematográfica confronta os limites do gênero documental e ficcional, para emitir suas preocupações acerca da memória do cinema brasileiro. 

Na sequência, nos encontramos com um filme-ensaio de Paulo César Saraceni, Cinema (1974). Recodificar, explicar, ensinar, comparar: de Godard a Glauber Rocha, o diretor referencia grandes nomes do cinema mundial e compartilha seu olhar minucioso para as noções básicas da linguagem e direção cinematográfica. Cinema-olho, pingue-pongue, plano-sequência, trabalho, liberdade: são palavras que aparecem e são orquestradas pela perspectiva de Saraceni.

As estruturas básicas da linguagem audiovisual são desafiadas através da montagem e dos arquivos de Maldição Tropical (2016), de Luísa Marques e Darks Miranda. Partindo de um dos maiores símbolos de exportação da cultura brasileira, Carmem Miranda, o filme questiona a ideia de progresso, o modelo econômico-colonial de plantation e aterroriza a paisagem de reconhecidos cenários geográficos do país. Diferente da educação cinematográfica do curta de Sarraceni, Marques e Miranda investem na profanação dos símbolos para fazer seu singular cinema terceiro mundista.

Com influências fortes do cinema marginal, Polêmica (1998) carnavaliza a linguagem cinematográfica, sob uma antropofagia que defende a anarquia, a interação e embate entre culturas e racialidades distintas, recuperando a acidez e comicidade do cinema nacional. Noel Rosa e Wilson Batista são figuras centrais do curta e dão o tom e o samba do filme dirigido por André Sampaio. 

É o ímpeto da rebeldia que torna o cinema nacional vivo e prevalece na sessão Remontar/Experimentar.

LISTA DE FILMES

Que cavação é essa? (2008), de Estevão Garcia e Luís Rocha Melo
Cinema (1974), de Paulo César Saraceni
Maldição Tropical (2016), de Luísa Marques e Darks Miranda 
Polêmica (1998), de André Sampaio

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok



PROGRAMA 5
Eu QUERO UM CARNAVAL QUE NÃO ESTÁ NO RETRATO (69')
09 a 29 de fevereiro

Programa 5



No samba-enredo "Histórias Para Ninar Gente Grande", do carnaval de 2019 da G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira, o verso "eu quero um país que não está no retrato", chama atenção para os sujeitos, episódios históricos e subjetividades que, por muito tempo, estiveram fora de cena, invisibilizadas pela história oficial que privilegia as elites e a branquitude. 

Num exercício de imaginação e extrapolação, reformulamos a frase da Mangueira para pensar as representações acerca do carnaval ou o imaginário de festividade que permeia o cinema nacional. Não foi difícil localizar o "samba" e as manifestações culturais do eixo Rio-São Paulo como expressões significativas de uma ideia de "festa", "carnaval" e "brasilidade".

Quais seriam, então, os carnavais que não estão no retrato?

A sessão se inicia com O Que Foi o Carnaval 1920!, de Alberto Botelho. Ainda que imerso em expressividades carnavalescas comuns ao cinema nacional, a retomada de imagens de 1920 surgem como uma rememoração, um contraste ao tipo de carnaval que conhecemos hoje, um retrato saudoso de um tempo que a maioria de nós não vivenciou. 

Saindo da pompa das ruas do Rio de Janeiro, passamos para o Programa Cinemateca nº 135 - O cinema e o carnaval (1978), produzido pela equipe da Embrafilme. O episódio revisita títulos do cinema nacional que se passam durante o carnaval ou o têm como expressão máxima para o desenrolar de sua trama. O valor documental das atividades carnavalescas também é exaltado, assim como a influência da festa e canções para o cinema brasileiro, com atenção especial às chanchadas. Lançar-se em depoimentos e processos de realização cinematográfica é uma forma também de desvelar (ou reinventar) o imaginário construído em torno dessa festa tão emblemática.

Em seguida, vamos até terras pernambucanas com o curta-metragem Faz Que Vai (2015), de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca. Sob influência das artes visuais, o remix entre cultura drag, vogue, frevo, brega-funk e swingueira faz com que tradição e modernidade reformulem suas próprias fronteiras, a partir de existências dissidentes de gênero e sexualidade que performam com e para a câmera da dupla de diretores. É o frevo quem conduz essa jornada de ritmos e expressividades locais. 

Por fim, o domínio da ideia de festa se alastra para uma outra temporalidade e vamos até a festa da Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto, com o filme Congados (1975-76), de Pe. Massote. Apesar de não fazer parte do ciclo carnavalesco, optamos trazer para perto as congadas, entendendo a aproximação entre sagrado e profano, tão presente no carnaval, e com o intuito de reiterar a influência das culturas e religiões africanas na Folia de Momo. Há um esforço, ainda, de deslocamento geográfico e da percepção da circularidade e dos tambores como elementos presentes no Brasil, para além dos meses de fevereiro e março, que marcam o carnaval.


LISTA DE FILMES

O Que Foi o Carnaval 1920! (Alberto Botelho, 1920, 10', Betacam SP)

Programa Cinemateca nº 135 - O cinema e o carnaval (Equipe SRTV, 1978, 30', U-matic)
Faz que vai (Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, 2015, 12', arquivo digital)
Congados (Pe. Massote, 1975-76, 17', HDCAM)

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok



PROGRAMA 4
JOGOS DO OLHAR (55')
12 a 31 de janeiro

Jogos do Olhar (55')


Em Anatomia do Espectador (1980), a atriz Stela Freire passeia pela história do cinema, pelas ruas e faz uma viagem de imaginação e intervenção na sala de exibição. Espectador, um substantivo masculino, no filme dirigido por Ana Carolina, sofre uma fratura. Ao colocar em primeiro plano uma personagem feminina, que repensa o seu lugar de ação e cocriação no cinema, ambiente em que o imaginário masculino, muitas vezes, não conferiu agência a esses corpos ou fez, do ato de olhar, uma prática supostamente masculina, o curta nos estimula a investigar como olhamos para as mulheres e como elas se veem no (e através do) cinema. E é assim que começamos o programa Jogos do Olhar.

O curta-metragem de Ana Carolina estabelece as regras do jogo: é preciso sentar e brincar com as imagens na tela, buscar senti-las intervir no próprio corpo, assim como quando a chuva de Singin' in The Rain (Gene Kelly e Stanley Donen, 1952) molha a nossa protagonista. Feita a mudança em nosso estado de presença, o que fazer? Como olhar, então, para o próximo filme, A Musa do Cangaço (1952)?

O documentário de José Umberto Dias mescla entrevista com imagens de arquivo do bando de Lampião para reviver o banditismo social a partir da ótica de Dadá, companheira de Corisco, e narradora do cotidiano de luta e criatividade vivenciada por ela e por outras mulheres que se aventuraram sertões adentro em busca de sobrevivência e seus ideais. A categoria de musa, no título, à qual Dadá é elevada, parece ser desconstruída paulatinamente através das memórias da figura histórica, um gesto de intervenção sutil e tão localizável quanto a que a atriz Stela Freire faz enquanto assiste a filmes no cinema de Anatomia do Espectador.

Mudado o jogo, passamos a escutar Norma Bengell, no programa SRTV nº 214, sobre sua personagem em Na Boca do Mundo, longa-metragem de Antonio Pitanga (1978). Diferente do lugar de musa em que poderia facilmente ser colocada, tendo em vista sua filmografia e sua imagem dentro do cinema nacional, a simplicidade de sua casa e de sua forma de abrir a intimidade perante a equipe da Embrafilme desmontam qualquer sinônimo de estrelato. E ela diz: "Eu sou um trabalhador!", após justificar as roupas simples e o cabelo molhado, recém chegada da ioga. A presença da entrevista no programa tensiona mais uma vez os olhares, perante a atriz, e destacamos, sobretudo, seu lugar de trabalhadora, assim como sua forma singular de ver e narrar sobre o filme em que esteve atuando.

Como última cartada, a sessão se encerra com um filme assinado pela artista Lygia Pape, A Mão do Povo (1975). Etnográfico, experimental e fotográfico, o olhar que se lança para perseguir formas de trabalho que se dão através de manualidades compõem uma trança de materialidades distintas (plástico, ferro, barro, tinta), com canções e sonoridades que pluralizam e confundem as significações das imagens. Uma tese, uma aposta, uma mirada: de dentro para fora e de fora para dentro, Lygia Pape desafia, no programa, os modos de olhar para o cinema e o mundo.


LISTA DE FILMES

Anatomia do Espectador (Ana Carolina, 1980, 20', HDCAM)

A Musa do Cangaço (José Umberto Dias, 1952, 17', HDCAM)
SRTV nº 214 - Norma Bengell sobre Na Boca do Mundo (Equipe da Embrafilmes, 1978, 6', HD)
A Mão do Povo (Lygia Pape, 1975, 12', HDCAM)

Acesse aqui a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

Site
YouTube
Instagram
TikTok



PROGRAMA 3

MISTÉRIO E PRESENÇA: PRETITUDES NO CINEMA BRASILEIRO (77')

13 a 30 de novembro de 2023

misterio

 Quando eu faço o filme como um ator, eu sou um coautor.

Eu não acredito que o ator esteja isolado da história.
O cara que vai empurrar o carrinho, vai fazer um travelling, o cara que mede o foco…

Uma equipe! 
Não existe um isolado, o indivíduo. 
O cinema é uma equipe.
Antonio Pitanga

Como desenhar uma sessão de filmes que remontasse experiências pretas no cinema brasileiro, a partir do material audiovisual presente no CTAv, quando poucos dos títulos depositados em nosso acervo são dirigidos por pessoas negras? Em entrevista ao SRTV*, programa de reportagens sobre o cinema brasileiro produzido entre as décadas de 1960 e 1980, sobre seu primeiro longa-metragem, Na Boca do Mundo (1970), Antonio Pitanga nos deixa uma pista: o cinema é uma equipe. 

A participação de atores, atrizes, montadores, roteiristas e demais técnicos audiovisuais, assim como grupos, personalidades e coletivos negros, no cinema brasileiro, é um fato. A epígrafe deste texto evidencia que, sendo o cinema uma realização coletiva, é impossível (e irresponsável) não reconhecer a coparticipação de todos esses agentes na feitura de um filme. Já que não podemos mudar o passado que estruturalmente favoreceu que muitas pessoas brancas (co)criassem e capturassem imagens de individualidades, presenças, performatividades pretas, decidimos assumir o gesto de devolver algumas delas para circulação, sem querer negá-las ou alterá-las, mas, em constante negociação.

Buscando tornar visíveis as estéticas, tensões, belezas e complexidades que rodeiam filmes e materiais audiovisuais com/sobre pessoas negras, realizados a partir do olhar do Outro (branco), reunimos quatro títulos no programa Mistério e presença: pretitudes no cinema brasileiro. Filmes que dançam juntos, mas que também se chocam e, sobretudo, nos revelam rastros sobre a história do cinema brasileiro que nós precisamos lembrar (e investigar). 

O programa inicia-se com o material do SRTV (nº 213) protagonizado por Antonio Pitanga, que compartilha sobre a história e apresenta as personagens de Na Boca do Mundo. Ao imprimir suas vontades de cinema enquanto olha firmemente para a câmera, Pitanga nos contamina com seu desejo em fazer uma história de amor, ao mesmo tempo que nos acende a vontade de remontar e narrar a história do cinema negro no Brasil.

Em seguida, nos deparamos com Partido Alto (1982), filme dirigido por Leon Hirszman, com colaboração, segundo uma de suas cartelas, de Paulinho da Viola. Com filmagens de rodas de samba na casa de Candeia e Manacéa, a câmera é atraída pela conversa entre os sambistas, pelo dançarino com seus sapatos brancos, pelo coro de mulheres que dão continuidade aos versos de quem dá o tom das canções, pela forma como os instrumentos se movimentam nas mãos dos músicos. Os planos-sequências dão espaço para que as presenças negras, em festa, se façam incontornáveis.

Damos continuidade à sessão com um episódio do Programa Cinemateca nº 123, o qual dedica-se à obra do diretor negro Waldir Onofre, que compartilha sobre a realização de seu longa-metragem As Aventuras Amorosas de Um Padeiro (1975). Ainda bastante desconhecido pelo público, a entrevista nos possibilita se aproximar da trajetória de Onofre no teatro e no cinema. O material inédito deixa evidente que ainda há muito que se conhecer sobre a história do cinema negro realizado em nosso país.

Por fim, lançamos uma cópia mais recente e com áudio remasterizado de Orixá Ninú Ilê - Arte Sacra Negra I (1978), de Juana Elbein dos Santos. Com textos de autores como Muniz Sodré, o filme investiga a espacialidade de terreiros e as expressões religiosas afro-brasileiras, ao mesmo tempo que, ao optar mais por narrar e compartilhar símbolos e materiais de cultos, ele nos convida a imaginar e preencher as imagens com o movimento e presença dos orixás, sem necessariamente mostrá-los, em transparência. O lugar do mistério que habita a dimensão do sagrado se preserva, apesar da tentativa de traduzir e informar ao público sobre essa experiência social e sensível. 

Aqui, o conjunto de filmes nos lembra que precisamos encontrar, cada vez mais, maneiras de fazermos vibrar o mistério que ronda a presença e inventividade de pessoas negras no cinema brasileiro.

O cinema é uma equipe.

*SRTV - Serviço de Rádio e Televisão da Embrafilme. O acervo, composto de materiais em película 16mm e fitas magnéticas, encontra-se arquivado no CTAv. Muitos dos materiais trazem conteúdos não editados ou sobras.

LISTA DE FILMES

SRTV 213 - Na Boca do Mundo. Antonio Pitanga (Equipe do Serviço de Rádio e Televisão da Embrafilme, 1978, 6', HD)
Partido Alto (Leon Hirszman, 1982, 23', HDCAM)
Programa Cinemateca nº 123 - Especial Waldir Onofre (Equipe do Serviço de Rádio e Televisão da Embrafilme, 1979, 32', U-matic)
Orixá Ninú Ilê - Arte Sacra Negra I (Juana Elbein dos Santos, 1978, 25', HDCAM)

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube



PROGRAMA 2 - IMAGEANDO INFÂNCIAS, IMAGINANDO HISTÓRIAS (69') 
09 a 30 de outubro de 2023

imageando

 "Quando nascemos, os nossos olhos abriram-se para uma terra cruel e triste. Não conhecemos na nossa infância a ternura, que a liberdade gera no coração dos homens", diz o narrador de Plantar nas Estrelas (1979), filme dirigido por Geraldo Sarno. A curiosidade e os olhos atentos de crianças de uma comunidade moçambicana parecem ser aquilo que procuram aqueles e aquelas que vão à luta. A infância pode ser vista, então como ponto de retorno para uma vida livre, onde a guerra, a dança, a música e o cinema se confundem e são instrumentos para se preparar para a revolução. 

Se cabe nos direcionarmos à luta, seria salutar não nos esquecermos das brincadeiras e canções que povoam nosso imaginário: cantar também pode ser ferramenta para a liberdade ou ao menos a suspensão desse mundo cruel que nos atravessa. Em A Velha a Fiar (1974), de Humberto Mauro, uma instigante montagem dá ritmo e imagem a uma cantiga popular. O rato, a aranha, o homem e o cachorro perturbam a velha enquanto ela trabalha. E, do outro lado, nós nos divertimos com o trava língua da música.

Diversão e imaginação são matérias de A Fábula da Festa no Céu (1974), de Noilton Nunes. Enquanto a barata quer tornar-se uma ave, o filme revela a coletividade como possibilidade de reinvenção e desvela o encanto do cinema aos nossos olhos. Daquilo que é possível ver através das imagens em movimento, Luiz Paulino dos Santos, em Ikaténa (vamos caçar) (1983), acompanha o tempo das crianças do povo indígena Zoró, em Aripuanã, no estado brasileiro de Rondônia, onde acompanhamos seus modos de compartilhar a vida e, sobretudo, sua vitalidade.

LISTA DE FILMES

Plantar nas Estrelas (Geraldo Sarno, 1979, 11', HD externo, digitalização recente em 2K)

A Velha a Fiar (Humberto Mauro, 1964, 6', HDCAM)

A Fábula da Festa no Céu (Noilton Nunes, 1974, 14', HDCAM)

Ikaténa (vamos caçar) (Luiz Paulino dos Santos,1983, 38', Beta Digital)

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

PROGRAMA 1 - CANTOS DE TRABALHO (49')
04 a 29 de setembro de 2023

arte redimensionada filmes de setembro

A palavra 'trabalho' pode ser sinônimo de ofício, de um conjunto de atividades, uma ação ou fabricação de alguma coisa ou a dedicação expressiva a algo. No programa Cantos de Trabalho, título que faz menção ao curta-metragem dirigido por Leon Hirszman, em 1974, o conjunto de filmes apresenta a atividade laboral em diferentes estados e suas significações se manifestam não apenas pela dimensão física ou simbólica do ato de trabalhar, mas pelas musicalidades e performatividades que envolvem cada uma das práticas que serão vistas aqui.


Apesar do esforço de Os Romeiros da Guia (João Ramiro Mello e Vladimir Carvalho, 1962) em "recolher o lírico e o folclórico das peregrinações" ao redor da Igreja de Nossa Senhora da Guia, localizada no litoral da Paraíba, para "registrar o fato social", as imagens da fé de moradores locais extrapolam o ideário etnográfico dos diretores. É por meio da música, da dança e da forma como os corpos interagem em espaços de socialização da cidade que somos tomados pela força da devoção e pela singularidade das pessoas e do ambiente documentado.

Em A Baiana (Moisés Kendler, 1973), logo de início, a cidade de Salvador é conectada à iconografia colonial da representação de vendedoras de acarajé. A voz cientificista do narrador é contrastada pela câmera que observa e escuta com atenção uma mulher negra enquanto se veste para o seu trabalho. A indumentária, a força da repetição de sua cozinha e o encontro de mulheres negras com os folguedos populares realçam as influências africanas em solo brasileiro, assim como possibilitam movimento e subjetividade para essa figura historicamente exotizada pelo imaginário colonial.

Se em Álbum de Música (Sérgio Sanz, 1974) retornamos a imagens recorrentemente vistas, de artistas do samba, bossa nova ou da MPB, como Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus, Maria Alcina, Luiz Melodia, Nara Leão e Jards Macalé, em Cantos de Trabalho - Mutirão são os trabalhadores do roçado e da tapagem de casa, em Chã Preta, no interior de Alagoas, que se destacam pela sua música, canções que dão fundamento ao ato de trabalhar.

LISTA DE FILMES

Os Romeiros da Guia (João Ramiro Mello e Vladimir Carvalho, 1962, 16', Beta Digital)

A Baiana (Moisés Kendler, 1973, 9', HDCAM)

Álbum de Música (Sérgio Sanz, 1974, 11', HDCAM)

Cantos de Trabalho/Mutirão (Leon Hirszman, 1974, 13', HDCAM)

Acesse a playlist do programa no canal do CTAv no YouTube

banner listagem ctav

Por questões técnicas, a base de dados de acesso público do acervo audiovisual encontra-se temporariamente fora do ar.

Enquanto dura a manutenção, o CTAv disponibiliza listagens com os títulos existentes em seu acervo. As orientações seguem abaixo:

Orientações:

  • Esta é uma listagem unificada de títulos para auxiliar a pesquisa pública. Os materiais (itens) existentes no acervo são variados - para informações sobre quais itens existem no acervo e suas características, a equipe do CTAv deve ser consultada. A existência de um título na listagem não configura a existência de materiais de exibição ou que o título esteja completo (ou seja, todos os itens relacionados a um mesmo título em determinada bitola aparecerão na listagem da mesma forma, quer se trate de sobras, teste, cópia combinada, banda mixada ou negativo de imagem, por exemplo). 

  • A listagem foi dividida entre materiais fotoquímicos (em película) e materiais eletrônicos (vídeo e áudio). 

  • Por limitação na ferramenta de extração de dados, alguns títulos da listagem encontram-se incompletos e outros dados de catalogação (direção, ano, companhia produtora etc.) não constam da listagem. Atenção à existência de obras homônimas.

  • Os títulos entre colchetes e entre parêntesis configuram títulos não confirmados e atribuídos. 

  • Muitas das mídias existentes no acervo são cópias de mídias obsoletas e obsolescentes e carregam, portanto, a qualidade da mídia de origem. Portanto, a qualidade da cópia eventualmente deve ser confirmada.

  • Qualquer solicitação de uso depende de prévia checagem e observância de direitos autorais e existência de depositantes, entre outros trâmites.

  • O visionamento de filmes poderá ser facultado remotamente, em caso de materiais em vídeo, ou presencialmente, em caso de materiais em película, desde que seu estado de conservação permita. Solicitações de visionamento devem ser feitas pelo portal GovBr (clique aqui para acessar)  

  • Quaisquer informações adicionais sobre itens no acervo podem ser solicitadas à equipe do CTAv, pelo e-mail acervo.ctav@cultura.gov.br. Dúvidas sobre visionamento devem ser endereçadas ao pesquisa.ctav@cultura.gov.br

  • Solicitações de informação, checagem de materiais e outros serviços obedecerão aos prazos estipulados na Tabela de serviços, prazos e canais de atendimento

 Como pesquisar:

  • Para realizar uma busca pelo computador digite CRTL+F e digite os termos a buscar na caixa de pesquisa.

  • A busca deve ser feita exclusivamente por palavras que compõem o título principal do filme/obra audiovisual.  Recomendamos buscar de mais de uma forma.

  • Em dispositivos móveis (por exemplo, celulares), a busca na tabela completa geralmente não funciona. Nesse caso, deve-se localizar o título pela ordem alfabética.

Listagens:

Compartilhe: