Cooperação entre ministérios prevê inclusão de mulheres LBTI em serviços como o Ligue 180 e a Casa da Mulher Brasileira
28 de agosto de 2024
"Eu sou uma mulher lésbica da periferia de São Paulo que jamais imaginei estar representando todas as mulheres lésbicas, bissexuais, travestis, transsexuais e intersexo assinando um acordo que se propõe a fazer a diferença na vida dessa população que espera ser atendida por políticas públicas que, infelizmente, ainda não chegam lá na ponta”, declarou, emocionada, a secretária substituta da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Bel Sá, na assinatura do acordo de cooperação técnica entre o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e o Ministério das Mulheres.
O instrumento de cooperação inédito foi assinado nesta terça-feira (27), durante reunião do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). “É um momento único na minha vida e que eu vou levar para sempre”, completou Bel Sá. A iniciativa é o primeiro passo para que as mulheres LBTI passem a ser atendidas, em suas especificidades, por serviços do Governo Federal como a Ouvidoria dos Direitos Humanos, o Disque 100, e o Ligue 180, que é a Central de Atendimento à Mulher, voltada ao enfrentamento da violência contra mulher.
Recentemente, cerca de 180 atendentes dos dois serviços foram treinados para o atendimento inclusivo da população LGBTQIA+. A Casa da Mulher Brasileira, que já atende mulheres lésbicas, também deverá incluir atendimento humanizado e passará a fazer o acompanhamento de mulheres transexuais e travestis. “Essa política é muito importante para as mulheres lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e intersexo, que chegam hoje ao local de atendimento e não recebem o acolhimento necessário”, observou Bel Sá. A expectativa da pasta é que o acordo comece a mudar essa realidade.
Políticas de cuidado
Na cerimônia de celebração do acordo, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, afirmou que a cooperação com o Ministério das Mulheres consolida o aprimoramento institucional da troca de informações e execução prática das políticas públicas de Direitos Humanos voltadas às mulheres LBTI. Em seu discurso, o titular da pasta lembrou também que a execução de políticas para as mulheres acaba por fortalecer as políticas para crianças e adolescentes, pessoas com deficiência, população LGBTQIA+, vítimas de violência e população encarcerada.
“O que nós estamos criando é um espaço em que o diálogo institucional para o aprimoramento da política de proteção das mulheres LBTI possa fazer cada vez mais parte das políticas de cuidado do Estado brasileiro”, defendeu Silvio Almeida.
O ministro exaltou ainda a atuação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), em especial a força da participação social. “No caso das mulheres, isso fica muito evidente com a pluralidade, a representatividade e as várias ‘mulheridades’ representadas a partir desse conselho, o que faz com que a multiplicidade dessas vozes se torne o combustível central da construção das políticas públicas do Estado brasileiro no que tange as mulheres”, constatou.
Mulheres diversas
Já a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou que o acordo é uma resposta política à população, em especial às “diversas mulheres”. “A gente entende que as mulheres são diversas, elas são diferentes, elas vêm de lugares diferentes, de territórios diferentes e das diversas formas de existir e de ser mulher no Brasil e é para isso que esse ministério existe”, salientou.
Cida Gonçalves defendeu a igualdade entre homens e mulheres, a qual, segundo ela, “passa pela diversidade das mulheres, pelo papel exercido pela mulher, por lugar em que elas estão e o que mais elas quiserem ser”, ressaltou a ministra. O acordo, na avaliação dela, possibilita ainda o levantamento de dados para que se defina quais são os desafios a serem enfrentados e as políticas públicas a serem implementadas no enfrentamento da violência e proteção às mulheres LBTI.
“Nós sabemos quem são as mulheres que geralmente estão na rua sofrendo violência policial. Elas têm cara: são as mulheres trans e as mulheres negras. Mas onde estão esses dados? Nós precisamos transformar isso em ciência e, depois, em política. E, a partir daí, estabelecer, enfrentar e avançar no campo dos direitos humanos e assim dar melhores respostas a todas essas questões que estão colocadas”, disse.
Acordo de cooperação técnica
O acordo visa fortalecer a rede de atendimento, aprimoramento do fluxo de denúncias e troca de conhecimentos para garantia de direitos e de acesso à justiça, à saúde, à educação e à assistência social. A parceria entre o MDHC e o Ministério das Mulheres prevê ainda:
· A atualização de protocolos de acompanhamento e monitoramento de denúncias pelos canais do Ligue 180, Disque 100, Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e a Ouvidoria-Geral do Ministério das Mulheres;
- Criação de protocolos e normas técnicas de promoção e defesa de direitos das mulheres LBTI;
- Intercâmbio de dados e informações sobre boas práticas e experiências;
- Produção de evidências a serem disponibilizadas para os órgãos públicos, orientando as tomadas de decisão e a elaboração de políticas públicas;
- Realização de formações e produção de materiais informativos.
Visibilidade lésbica
A assinatura do acordo marca o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, comemorado em 29 de agosto. A data foi criada em 1996 para celebrar a luta e a resistência lésbica contra a discriminação por orientação sexual, a misoginia e outras discriminações decorrentes de marcadores sociais da diferença, como raça e deficiência.
“Estamos aqui para celebrar o mês de agosto, um mês que é simbólico, é de luta e é de comemoração”, afirmou secretária substituta Bel Sá, ao defender os avanços dos Direitos Humanos em defesa da população LBTI. Ela também lembrou o reconhecimento e a conquista de direitos da Lei Maria de Penha à população lésbica.
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