Projeto dARK impulsiona um novo modelo de gestão de identificadores acadêmicos no portal Oasisbr

Em novembro, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) implementou com sucesso a primeira fase do projeto dARK no Portal brasileiro de publicações e dados científicos em acesso aberto - Oasisbr. 

O Oasisbr é um mecanismo de busca que permite o acesso gratuito à produção científica de autores vinculados a universidades e institutos de pesquisa brasileiros. A partir de agora, os documentos agregados no portal contam com o dARK ID, o identificador persistente dARK (Decentralized Archival Resource Key), um serviço PID (Persistent Identifier) descentralizado e aberto.

O dARK é a primeira implementação de uma tecnologia que pode ser a base para serviços descentralizados e de baixo custo para atribuir identificadores persistentes para objetos de informação.Trata-se de uma aplicação do ARK baseada em nós de blockchain institucionais; os dados são de propriedade, armazenados e controlados não por uma única organização, mas por todos os participantes de uma rede - a Rede dARK. 

“Este marco representa um avanço significativo na adoção de infraestruturas descentralizadas para a ciência aberta, com o apoio complementar de parceiros.Esta colaboração se alinha à visão compartilhada de fortalecer o acesso aberto em toda a América Latina e expandir o alcance do projeto na região”, diz Washington Segundo, coordenador-geral de Tecnologias de Informação e Informática do Ibict. 

Para o coordenador, ao oferecer um identificador persistente gratuito, descentralizado e fácil de usar, o dARK tem o potencial de transformar a forma como a produção científica da região é identificada, acessada e avaliada. "A geração de uma comunidade ao redor da Rede dARK, formada pelas instituições de ensino e pesquisa que a compõem, será realizada por meio de um modelo de governança também descentralizado, o que favorece sua sustentabilidade e perenidade”, conta Washington Segundo.Cabe ressaltar que a adoção do dARK não substitui a adoção de outros identificadores persistentes como ISBN, ISSN e DOI.

O projeto foi concebido como um bem público para o ecossistema da Ciência Aberta e tem sido executado pelo Ibict no âmbito do Projeto CEOS IS, com apoio da Rede Latino-Americana de Ciência Aberta, a LA Referencia, via financiamento internacional da Global Sustainability Coalition for Open Science Services (SCOSS).

O portal Oasisbr, mantido pelo Ibict, é uma plataforma fundamental para a divulgação da ciência aberta no Brasil, agregando conteúdos de repositórios de diversas instituições do país. A implementação do dARK no portal busca estabelecer uma base sólida para a futura expansão desse sistema para outras instituições e países da região.

Bianca Amaro, tecnologista do Ibict e coordenadora do Projeto CEOS IS, afirma que a implementação do dARK representa um avanço para o fortalecimento da produção científica e da colaboração acadêmica na América Latina. "O Brasil dá um passo significativo em direção à criação de um ecossistema de PIDs mais inclusivo e acessível.A contribuição da Rede LA Referencia como parceira abre caminho para que outras instituições latino-americanas adotem a infraestrutura dARK e avancem na interoperabilidade de seus sistemas de identificação”, avalia. 

Com o financiamento complementar da LA Referencia, o projeto agora pode considerar a implementação de pilotos em repositórios acadêmicos adicionais em outros países latino-americanos. Esta colaboração oferece uma oportunidade para expandir a Rede dARK e explorar sua implementação em plataformas e sistemas de código aberto amplamente utilizados na região.

 Projeto dARK e a democratização dos identificadores persistentes 

Os identificadores persistentes (PIDs), como DOI e ARK, são essenciais para o acesso e citação de documentos de pesquisa. No entanto, os sistemas atuais de PIDs tendem a se centralizar, com custos e modelos de assinatura que dificultam o acesso para muitas instituições e comunidades de países em desenvolvimento. Nesse contexto, o projeto dARK propõe uma alternativa: um sistema descentralizado que permite a atribuição e gestão de identificadores com maior equidade e acessibilidade para todas as instituições de pesquisa, independentemente de seus recursos financeiros.

O projeto dARK foi desenvolvido para superar as barreiras enfrentadas por instituições na América Latina e em outras regiões do Sul Global. O uso de blockchain no dARK permite a gestão descentralizada da atribuição de identificadores persistentes. Diferentemente dos modelos tradicionais, onde uma entidade central gerencia e cobra pelo uso de identificadores, o dARK permite que as instituições atribuam seus próprios identificadores de forma autônoma e gratuita. Entre as vantagens, esse sistema reduz custos e melhora a resiliência, garantindo que os identificadores permaneçam acessíveis, mesmo se uma instituição ou nó da rede tiver dificuldades técnicas ou financeiras.

Um modelo colaborativo para sustentabilidade e crescimento

A colaboração tem sido um elemento essencial no desenvolvimento do projeto dARK. O apoio complementar da LA Referencia fortalece a infraestrutura técnica e permite que instituições de toda a América Latina se beneficiem de um sistema de identificação inclusivo. Além disso, todo o código e documentação do dARK serão publicados em acesso aberto, permitindo que outras comunidades acadêmicas e países adaptem e contribuam para o desenvolvimento do sistema.

Com o dARK, o Ibict e a LA Referencia estão liderando uma transformação na infraestrutura da ciência aberta, oferecendo às instituições do Sul Global uma ferramenta poderosa para participar plenamente do ecossistema de pesquisa global. Ao democratizar o acesso a identificadores e reduzir a dependência de sistemas centralizados, o projeto dARK representa um avanço significativo para uma ciência mais inclusiva e acessível a todos.

Confira exemplos de dARKs atribuídos no Oasisbr:

UFSM - https://oasisbr.ibict.br/vufind/Record/UFSM_c1cfd4f2814ed08f388f7964ed8e6868

UFPE - https://oasisbr.ibict.br/vufind/Record/UFPE_c927bba09202961c195dbfa10a08e27e

IPEA - https://oasisbr.ibict.br/vufind/Record/IPEA_b1451e83f24bdc60973dd64b61dc0643

UFG - https://oasisbr.ibict.br/vufind/Record/UFG-2_e29252cd9d164af33d8f88815551828d

Texto: Carolina Cunha